Alta da inflação, do desemprego, da inadimplência, do dólar e queda das vendas do varejo, da produção industrial, da projeção do PIB e da renda média da população. Apesar deste cenário, um estudo da Kantar Worldpanel apontou que alguns tipos de empresas e setores conseguiram sustentar seu crescimento, produzindo novas formas de consumo. É o caso do atacarejo, que foi o único canal que contribuiu positivamente para o crescimento em volume, apresentando um aumento de 30,2% no faturamento, especialmente na região Leste e no Interior do Rio de Janeiro e na região Sul, ao contrário de todos os outros canais.
Já os supermercados, por exemplo, diminuíram 3,7% em valor. Isso pode ser explicado em função de os atacarejos oferecerem melhor custo/benefício (pacotes de maior tamanho, na linha “mais por “menos”), visto que os lares estão cada vez mais em busca de ofertas e produtos promocionais. Todas as 20 categorias que mais cresceram aumentaram o seu percentual de promoções. Além disso, em momentos de crise, os lares primeiro deixam de priorizar gastos com viagens, imóveis e lazer, o que evita que os bens de consumo não duráveis sejam tão afetados. Porém, no último trimestre de 2015 até eles já sentiram o impacto.
Produtos Premium
Ainda assim, a maioria das pessoas não abriu mão de adquirir produtos considerados “premium”. A nova tendência agora é um mesmo lar fazer compras em mais de um canal de vendas, obtendo coisas diferentes em cada um deles. No atacarejo, por exemplo, a maioria procura produtos sem diferenciais para economizar. Enquanto que as aquisições feitas no hipermercado são de produtos mais caros e com mais benefícios. O mesmo lar tende a mesclar ambos para equilibrar o orçamento.
“Também observamos que houve redução na frequência de compra. Com a crise e o dinheiro mais curto, as pessoas começaram a comprar para estocar, a ficar de olho nas promoções e a aumentar sua permanência nos pontos de venda, principalmente atacarejos e supermercados”, afirma Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel.
Este comportamento, porém, varia de região para região. Os nordestinos se encaixam na descrição acima, pois foram cerca de 16 vezes no trimestre aos pontos de venda, gastaram cerca de R$ 53,56 por viagem e compraram cerca de 19 itens em cada. Já os paulistas vão mais aos pontos de venda e gastam menos a cada vez: foram 24 viagens, com gasto médio de R$ 33,35 e compra de 12 unidades de produtos por vez.
Outro fenômeno é a volta do crescimento de produtos da cesta básica dentro dos lares brasileiros. As categorias que mais se destacaram no terceiro trimestre foram as de linguiças, presuntos, leite em pó, sorvete e cloro. Já as que tiverem procura diminuída foram as de iogurtes, refrigerantes, águas minerais, açúcares e leites pasteurizados. Segundo Christine, o crescimento de presuntos, linguiças e outros embutidos em geral, deve-se principalmente pela substituição das proteínas nos lares como forma de reduzir o desembolso.
Entre as cestas de consumo, as de higiene & beleza e limpeza foram as únicas a apresentarem aumento no tíquete médio gasto (da ordem de 5% e 2%, respectivamente). Enquanto a de alimentos caiu 1%. No que se refere ao volume médio por viagem ao ponto de venda, todas apresentaram retração: 8% na de alimentos, 4% na de bebidas e 1% tanto para higiene & beleza quanto para limpeza. Um fato curioso que aconteceu neste último trimestre foi a queda em valor na cesta de alimentos, o que nunca havia acontecido anteriormente.
Mesmo com essa diminuição, observa-se que os consumidores estão buscando a saudabilidade nos produtos, porém sem deixar de lado o sabor. Ou seja, querem produtos saudáveis e ao mesmo tempo, saborosos. Um exemplo disso é o crescimento das categorias leite de baixa lactose, azeite, pães e massas integrais. Já entre os setores, um dos que mais sofre é o de calçados. Houve uma variação negativa de 14% no tíquete médio e de 7% no volume médio por viagem. Já o de comidas para pets cresceu 15% e 2%, respectivamente.
Em resumo, percebe-se um novo cenário no comportamento dos consumidores, que estão com um bolso mais apertado, reduzindo a frequência de compra e por isso precisam se planejar mais e cada visita a um ponto de venda se tornou mais valiosa, sendo que o consumidor valoriza muito o tempo e o custo benefício em cada compra.