É preciso virar o jogo da realidade


Alfried Karl Plöger


Este 2006 de eleições e Copa do Mundo é estratégico para a Nação. A baixa evolução do PIB em 2005, que se torna ainda mais ínfima se comparada à performance da economia mundial e à dos países emergentes, acende luz de alerta. Não há tempo a perder e nem mais desculpas para omissão! Até o carnaval já passou… É preciso arregaçar as mangas e trabalhar muito para alcançar índices de expansão do nível de atividades compatíveis com a premência do País de ingressar num duradouro ciclo de crescimento sustentado, multiplicação de empregos, resgate da dívida social e conquista do desenvolvimento.

A sociedade e os setores produtivos têm plena consciência desses desafios e responsabilidades. Tanto assim que, enfrentando numerosas adversidades relativas à política e às normas exageradamente monetaristas de controle inflacionário, conseguiram manter viva a economia nacional em 2005. A pergunta é: será que o setor público, em especial o governo da União, está devidamente conscientizado sobre as prioridades do Brasil e, mais do que isto, preparado para atendê-las? O retrospecto histórico, lamentavelmente, é desfavorável.

Há muito, incluindo gestões anteriores à do presidente Lula, o governo mostra-se distante dos diagnósticos e sugestões dos setores produtivos. É como se a realidade de Brasília fosse diametralmente oposta à do restante do País. As reformas estruturais do arcabouço legal que rege a economia, uma visão mais progressista de uma nação com imenso potencial para se converter em potência e a vontade política materializada em ações pragmáticas e eficazes são sempre postergadas por interesses políticos imediatos, medidas emergenciais e acordos partidários nem sempre afinados com as efetivas prioridades da Nação.

Em anos eleitorais, todos esses problemas costumam potencializar-se, pois o discurso governamental e o das oposições tendem a sobrepor a retórica à realidade conjuntural. Embora conhecedores de todos esses entraves da cultura política brasileira, devemos insistir no atendimento às reivindicações da sociedade quanto às soluções necessárias. O Brasil, precisa, em verdade, é de um projeto de país e não mais de programas improvisados para empurrar a realidade com a barriga até as próximas eleições.

E um projeto de país começa pela redução efetiva das despesas do setor público. Não basta superávit primário, do qual tanto se gaba o governo. É preciso superávit nominal, viabilizando mais investimentos, inclusive em nossa combalida infra-estrutura, e o controle da inflação sem o recurso recessivo dos juros. Também é necessário estabelecer nova e eficiente política de crédito para a produção e o consumo. Igualmente, é impreterível implementar estratégia comercial mais eficaz, abrangendo câmbio adequado, consolidação do comércio com os parceiros tradicionais do Brasil na economia internacional e conquista de novos mercados. O projeto de edificação de um país próspero e desenvolvido também exige as reformas política, trabalhista e tributário-fiscal, além da implementação prática das Parcerias Público-Privadas.

As entidades de classe, que – em seu trabalho em defesa dos setores que representam – se têm mostrado muito atuantes e engajadas nas metas do desenvolvimento, somam-se aos anseios de toda a sociedade no pleito pela adoção de medidas realmente voltadas ao avanço do País. Os setores produtivos fazem essas reivindicações com a autoridade de quem tem cumprido a sua parte e prestado sua contribuição. Em 2005, foi essencial a sua mobilização cívica contra atos deletérios do governo, como a medida provisória que aumentaria impostos dos prestadores de serviços. Além disso, tiveram expressiva influência na adoção de providências que contribuíram para evitar danos ainda mais graves à economia, como a PM do Bem.

Para os distintos setores de atividades, dentre eles a indústria gráfica e o mercado de impressos, eleições e Copa do Mundo são fatores de estímulo. Porém, os empresários, os trabalhadores e a sociedade, muito mais do que um movimento sazonal, desejam o fortalecimento perene da economia e a garantia de um mercado em constante expansão. De nada adiantará vencer em gramados da Alemanha se continuarmos perdendo de goleada no jogo da história! Tomara que a Seleção Canarinho seja hexacampeã do mundo, mas que também a Nação possa vencer a miséria, a corrupção, o desemprego e todos os obstáculos ao desenvolvimento. Assim, que se quebrem em 2006 dois paradigmas brasileiros: a prevalência dos interesses eleitorais sobre os nacionais; e a subjugação da consciência pela alegria do futebol.

Alfried Karl Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto).

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