Autor: Mauricio Valim
O termo fintech se tornou comum para quem circula, sobretudo, no mundo da tecnologia. Ele define o segmento das startups que criam inovações na área de serviços financeiros. E, justamente, por ter como base o uso da tecnologia, têm desafiado instituições financeiras tradicionais. Há, inclusive, quem diga que o fim dos bancos está próximo.
Não acho que seja esse o caso, mas um fato é realidade: as fintechs vieram para revolucionar o setor, e vieram para ficar. É um processo que não tem como voltar atrás. Se por um lado temos instituições financeiras que insistem em processos engessados e burocráticos, numa linha que segue quase o retrocesso, por outro, temos o advento da era digital, do mobile, o acesso mais barato a novas tecnologias, aliadas ao modelo disruptivo de oferecer produtos e serviços. Esse conjunto de fatores tem funcionado como molas propulsoras para o advento das fintechs. Chegou a hora das pessoas e empresas mudarem a forma como lidam com as questões financeiras.
Um dos grandes diferenciais competitivos das fintechs é a maneira como se relacionam com os usuários. Enquanto os bancos e outras grandes instituições financeiras concentram seus serviços para atender a indústria, com o objetivo de gerar receita imediata, as fintechs buscam oferecer um atendimento humanizado para seus usuários, que inclui desenhar serviços centrados em pessoas, em suas necessidades específicas, cujo sucesso é alcançado por meio de muita pesquisa, empatia, co-criação e metodologia.
Outra vantagem das fintechs é que são empresas muito enxutas, totalmente focadas no modelo de negócios, construídas sobre uma base tecnológica consistente, com plataformas modernas e integradas aos serviços da nova geração cloud. Tudo isso reduz muito seu custo de operação e tempo para tomada de decisões. Costumamos dizer que elas fazem muito com pouco.
É visível o crescimento desse mercado no Brasil, principalmente nos dois últimos anos. A 3ª edição do Radar Fintechlab, elaborada no ano passado, apontou 130 iniciativas de fintechs mapeadas no país nas categorias Pagamentos, Gerenciamento Financeiro, Empréstimos e Negociação de Dívidas, Investimento, Funding, Seguros, Eficiência Financeira, Segurança, Conectividade e Bitcoin/Blockchain. De acordo com o levantamento, quase 70% das iniciativas monitoradas já estão em fase operacional, ou seja, já possuem clientes pagantes e já passaram pelas fases de ideação e de validação dos seus modelos de negócios. Em 2015, de cada 10 fintechs, 3 tiveram faturamento superior a 1 milhão de reais. E 1 em cada 5 fintechs já possui mais de 20 funcionários contratados. Outro dado interessante é que 31% das fintechs são direcionadas exclusivamente para o consumidor final, 27% para empresas e 42% atendem ambos os públicos. Cerca de 30% das fintechs já estão planejando expandir para o mercado internacional.
Os brasileiros se mostram bem receptivos às fintechs, talvez até por uma carência deixada pelas instituições financeiras tradicionais. Dados da Techfoliance, empresa global de notícias e análises de fintech, apontam que mais de 55 milhões de adultos no Brasil ainda não têm conta bancária, algo em torno de 40% da população. Em contrapartida, 74% dos clientes de bancos no país adotaram serviços fintech. Um case de sucesso por aqui, embora a empresa não revele o número de clientes, é o Nubank, que recebeu quase US$ 180 milhões desde o seu lançamento em 2013, e prova que a fintech caiu no gosto do povo. Ainda a favor das fintechs, está a penetração do telefone móvel em todo o país, que hoje é superior a 115%.
Para finalizar, parece que a palavra crise passou bem longe das fintechs. Em 2015, o investimento no setor foi de aproximadamente R$ 200 milhões, saltando para R$ 450 milhões em 2016, números muito bons para um ecossistema empreendedor que está em processo de amadurecimento, mas que promete ano a ano ocupar posições cada vez mais relevantes, tanto em termos de faturamentos, como na conquista de clientes.
Mauricio Valim é CEO da Paggi.