Otávio Dantas, diretor executivo e sócio do BCG no Brasil

Empresas mais digitalizadas se valorizaram em plena pandemia

Apenas seis meses após o início da pandemia, as organizações mais maduras digitalmente  – classificadas como biônicas – estavam 23% em média mais valorizadas do que antes da crise. É o que aponta o estudo The Leaders ‘ Path to Digital Value, do Boston Consulting Group (BCG), que avaliou o nível de maturidade digital de 2.296 empresas dos Estados Unidos, Europa e Ásia entre 2017 a 2020 em dez setores. O levantamento aponta que a maturidade digital de uma empresa é fator essencial para que ela supere uma crise e tenha melhores resultados financeiros.

No período de foco da sondagem, 40% das empresas biônicas aumentaram suas receitas em mais de 10%, enquanto apenas 19% das menos maduras (classificadas como atrasadas digitalmente) conseguiram o mesmo resultado. No mesmo período, 33% das biônicas valorizaram mais de 10%, contra apenas 15% das atrasadas digitalmente. O retorno de investimentos (ROI) também variou significativamente entre elas. Duas em cada três empresas biônicas conquistaram taxas de ROI superiores a 10% em seus projetos, contra apenas 36% das menos digitalizadas.

Asiáticas na frente
Os setores sondados foram os de varejo e consumo, energia, instituições financeiras, saúde, bens industriais, seguros, mídia e entretenimento, setor público, tecnologia e telecomunicações. E, na avaliação regional, as empresas asiáticas estão à frente das europeias e norte-americanas em termos de maturidade digital, embora a taxa de crescimento das três regiões analisadas seja parecida em 2020. Durante a pandemia, porém, os setores que mais se digitalizaram foram varejo e consumo e saúde.

O estudo indica que existem quatro fatores que destacam as empresas biônicas das demais: elas investem mais em tecnologia, dados e capacidades humanas; colocam a Inteligência Artificial (IA) no centro da transformação digital; estabelecem governança para iniciativas digitais e adotam plataformas para operar; e conectam suas tecnologias às capacidades humanas de seus profissionais.

“A liderança de tecnologia, telecom e finanças é esperada, dada a natureza dos produtos e serviços que essas empresas oferecem. Mas há um movimento interessante com a pandemia, que mostra que empresas de outros setores estão cada vez mais digitais, alcançando – e em alguns casos até superando – empresas de setores consolidados. Varejistas apostaram forte no e-commerce, por exemplo, enquanto empresas de saúde pensaram cada vez mais na jornada digital dos seus pacientes”, avalia Otávio Dantas, diretor executivo e sócio do BCG no Brasil.

As mais avançadas no Brasil
O BCG também avaliou o nível de maturidade digital das empresas brasileiras no estudo Digital: blindando negócios contra crises e as conclusões foram parecidas. Durante a pandemia, as organizações biônicas tiveram queda menos intensa e brusca em seu valor de mercado e se recuperaram mais rapidamente:

A diferença de EBITDA entre biônicas e atrasadas digitalmente foi de 18% no Brasil, contra 3,2% globalmente, e a valorização das primeiras foi 3,9% maior no mesmo comparativo, contra 5,2% no mundo. Já a queda de valor das biônicas brasileiras durante a pandemia foi de 30% em média, contra 40% das atrasadas digitalmente. Ainda mais importante foi a recuperação: em junho de 2020, as biônicas já haviam recuperado o valor de mercado de 2019, enquanto as atrasadas ainda estavam 12% abaixo no mesmo comparativo.

Três empresas brasileiras despontaram como as mais digitalizadas de seus setores: Gerdau, em bens industriais, Bradesco, como instituição financeira, e Magazine Luiza, no varejo. “Essas companhias biônicas souberam empregar bem a tecnologia e o uso de dados, combinados com equipes ágeis e multidisciplinares, e garantiram uma recuperação excelente da pandemia, superando até os resultados de antes da crise”, diz Dantas.

Metodologias aplicadas
O nível de maturidade das empresas foi definido a partir do Índice de Aceleração Digital (DAI), que classificou 2.296 empresas dos Estados Unidos e mais 27 países da Europa e da Ásia entre 2017 e 2020. As empresas consultadas deram notas para sua maturidade digital de 1 a 4 em 36 categorias de digitalização. As pontuações, então, foram separadas e diferentes pesos foram atribuídos para qualificar as empresas em três níveis, de 0 a 100 pontos: atrasados digitalmente (0 a 43 pontos), proficientes (44 a 66) e empresas biônicas (67 a 100). Comparativos detalhados entre as capacidades de empresas biônicas e atrasadas digitalmente podem ser encontrados no infográfico do estudo.

O nível de maturidade também foi definido a partir do DAI, porém, para descobrir as qualidades biônicas das empresas brasileiras o BCG usou inteligência artificial e machine learning para executar uma extensa análise de relatórios financeiros das empresas de capital aberto que compõem o índice Ibovespa. O objetivo foi o de identificar evidências de investimentos simultâneos em tecnologia e em pessoas. Foram percorridos 6 milhões de palavras em mais de 25 mil páginas de relatórios financeiros das empresas, do 1º trimestre de 2017 até 1º trimestre de 2020, e a base de dados coletada foi cruzada com um dicionário de expressões que indicam o footprint de uma companhia em tópicos digitais relacionados às oito dimensões do modelo para empresas biônicas. Em seguida, a consultoria classificou as empresas de acordo com a frequência que as expressões foram encontradas – quanto maior a frequência, melhor a classificação. As primeiras colocadas (25%) do ranking foram classificadas como empresas Biônicas, apresentando uma densidade digital aproximadamente 4 vezes maior que a das atrasadas, as 75% restantes.

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