Gerar empregos, capacitar pessoas e sustentar famílias é, por si só, uma contribuição social incomparável
Autor: Eric Garmes
Quando pensamos em impacto social, muitas vezes remetemos nossa atenção a ONGs, iniciativas filantrópicas ou organizações voltadas exclusivamente para causas sociais. No entanto, como tem destacado meu amigo Paulo Milreu em suas reflexões, há uma força subestimada, porém poderosa, nesse cenário: as empresas. Por mais surpreendente que possa parecer, a empresa comum — aquela que busca lucros e crescimento — é, de fato, a maior realizadora de impacto social no mundo.
Em seu artigo “Empresa: o maior projeto social do mundo”, Milreu argumenta que o ato de gerar empregos, capacitar pessoas e sustentar famílias é, por si só, uma contribuição social incomparável. Concordo plenamente. Afinal, o impacto social real e duradouro não é apenas aquele que surge de doações ou ações de responsabilidade social, mas também do funcionamento cotidiano das empresas, que criam oportunidades e transformam vidas em larga escala.
Empregos são muito mais do que números em relatórios econômicos; eles representam vidas impactadas, famílias sustentadas e dignidade restaurada. Cada vaga criada por uma empresa é uma chance de inclusão econômica e social, algo que vai além de preencher uma função operacional.
É a oportunidade para que uma pessoa possa traçar seu caminho de crescimento pessoal e profissional. Segundo o Sebrae, micro e pequenas empresas (MPEs) são responsáveis por 54% dos empregos formais no Brasil. Esse percentual mostra que a força do impacto social não está apenas em grandes corporações, mas também nos pequenos negócios que, somados, sustentam a economia nacional.
Para além dos números, precisamos considerar o que o emprego significa na vida das pessoas. Ele é uma ponte para o futuro Com o emprego, vêm a autoestima, a autonomia financeira e a possibilidade de planejamento. Sem empregos, muitas famílias estariam à mercê de ações assistenciais ou programas governamentais, perpetuando ciclos de vulnerabilidade.
Outro ponto importante é o papel das empresas na educação e qualificação profissional. Vivemos em um contexto onde a educação formal enfrenta desafios enormes, como currículos desatualizados e falta de infraestrutura. Nesse cenário, as empresas assumem, de forma muitas vezes involuntária, a responsabilidade de preparar seus colaboradores para o mercado e para a vida.
Por meio de treinamentos, programas de desenvolvimento e capacitação, as empresas não apenas suprem lacunas educacionais, mas também criam uma força de trabalho qualificada e pronta para contribuir com o crescimento econômico e social. Essa contribuição para o aprendizado e para o aprimoramento de habilidades vai muito além do indivíduo; ela fortalece o tecido social e gera um impacto duradouro.
Ao contrário das ONGs, que dependem de doações e recursos externos, o impacto das empresas é contínuo e autoalimentado. O lucro, muitas vezes visto com ceticismo, é, na verdade, o motor que possibilita a geração de empregos e a expansão de oportunidades. Sem lucro, não há crescimento. E sem crescimento, não há novas vagas, novas chances de transformação social.
O empresário que entende seu papel como agente social não precisa limitar suas ações ao campo da filantropia. Ao gerar empregos, pagar salários justos e investir no desenvolvimento de sua equipe, ele já está transformando a sociedade em uma escala muito maior do que muitas iniciativas assistenciais pontuais poderiam alcançar.
Paulo Milreu está certo ao destacar que as empresas, em sua essência, são os maiores projetos sociais do mundo. Elas não apenas sustentam economias, mas também constroem comunidades, transformam realidades e oferecem às pessoas uma chance de futuro. Como empresários e líderes, precisamos resgatar o orgulho e a consciência desse papel. Precisamos disseminar a ideia de que o impacto social está intrinsecamente ligado ao que fazemos todos os dias — não como um apêndice das operações, mas como parte central da missão empresarial.
Ao final, o que realmente define o impacto social de uma empresa não é apenas sua capacidade de gerar lucros, mas como ela usa esse lucro para expandir oportunidades e criar um legado duradouro. As empresas, grandes ou pequenas, têm o poder de transformar a sociedade e é nossa responsabilidade maximizar esse impacto.
Eric Garmes é CEO da Paschoalotto.