Depois das empresas que já nasceram digitais abrirem o caminho para o crescimento com modelos de negócios de plataforma. Pequenas empresas e companhias tradicionais estão entrando no mercado de plataforma digital, em uma segunda fase. Mas a grande maioria das novas startups de plataformas digitais não vai ter sucesso e o abismo entre os países irá aumentar nos próximos anos, de acordo com um novo relatório da Accenture. O documento aponta as iniciativas importantes que empresas e governos devem tomar para terem sucesso.
O relatório “Cinco de formas de vencer com as plataformas digitais”, publicado em colaboração com a G20 Young Entrepreneurs´ Alliance, informa que US$ 20 bilhões foram investidos em plataformas digitais, entre 2010 e 2015, em 1.053 acordos anunciados publicamente. Mais da metade deste investimento foi realizado recentemente: entre 2014 e 2015.
Gigantes das plataformas digitais
O documento também mostra que a China, a Índia e os Estados Unidos vão dominar a economia de plataforma até 2020. O Reino Unido e a Alemanha vão se juntar a eles no topo do Índice de Prontidão de Plataforma da Accenture, que avalia a capacidade de 16 economias do G20 – entre elas, o Brasil – para apoiar a evolução das plataformas digitais. Nas últimas posições do ranking figuram Brasil, Turquia, África do Sul, Itália e Rússia. Outros mercados emergentes e economias europeias provavelmente ficarão para trás, por falta de condições socioeconômicas e de negócios apropriadas.
Índice de Prontidão de Plataforma
“Quando você pensa em plataformas digitais, pense na China e Índia, tanto quanto nos EUA. Essas economias estão usando o poder das plataformas para criar mercados de grande escala muito rapidamente”, diz Paul Daugherty, chief technology officer (CTO) da Accenture. “Muitas economias europeias correm o risco de perder a economia de plataforma. A cooperação entre vários públicos de interesse é necessária para enfrentar os mercados digitais fragmentados e apoiar os níveis maiores de empreendimentos e consumo digitais que negócios de plataforma bem-sucedidos precisam.”
A análise da Accenture mostra que as classificações no Índice de Prontidão de Plataforma têm forte correlação com os níveis de atividade e de investimento de plataforma digital nos países do G20. O relatório ainda recomenda que os governos se envolvam com líderes de negócios para promover uma série de políticas que podem criar um ambiente rico de estímulo das plataformas digitais, incluindo as seguintes ações:
1. Priorizar normas e regras de proteção de dados: estimular a harmonização de privacidade de dados e legislação de segurança de dados. Transferências tranquilas de dados entre fronteiras.
2. Conceber regulamentações tendo em mente as plataformas digitais: fazer experimentações com regulamentações junto com novas tecnologias e modelos de negócios. Por exemplo, a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido possui um dispositivo que permite que startups testem ideias, sem incorrer imediatamente em todas as consequências regulatórias normais.
3. Incentivar o comércio eletrônico entre fronteiras: harmonizar os impostos e normas, defesa do consumidor, direito dos contratos e infraestrutura de logística. A eWorld Trade Platform (eWTP), iniciada pela B20 China, visa acelerar a colaboração internacional em políticas de apoio às PMEs.
4. Investir em infraestrutura digital: por exemplo, a Diretiva de Serviços de Pagamento da União Europeia (PSD2) irá capacitar startups para expandir o alcance de cliente e incentivar modelos de negócio inovadores.
5. Pensar pequeno, agir grande: educar as PMEs sobre financiamento alternativo, como crowdfunding e empréstimo pessoa a pessoa; e sobre privacidade de dados e defesa do consumidor. Apoiar as PMEs com zonas econômicas digitais para apoiar o comércio eletrônico.
Cinco formas para ter sucesso
A Accenture observa que apenas 15% das empresas da Fortune 100 desenvolveram modelos de negócios de plataforma digital até o momento, e somente 10% das novas startups focadas em modelos de negócios de plataforma digital vão se tornar entidades independentes lucrativas nos próximos anos. No entanto, o relatório afirma que as plataformas digitais de sucesso vão proliferar à medida que as pequenas empresas e as indústrias tradicionais seguirem o caminho traçado pelas empresas de plataforma nascidas no digital.
A empresa identificou também cinco fatores importantes para manter a massa crítica em plataformas digitais, que utilizam novas tecnologias para criar mercados de grande escala de clientes e prestadores de serviços.
1. Proposição – Criar serviços de plataforma diferenciados que se estendam para além do ponto de operação e que apoiem tanto os clientes no lado da demanda quanto os provedores de serviço no lado da oferta.
2. Personalização – Focar nos clientes por meio de experiências adaptadas em todos os canais, usando os dados dos consumidores para antecipar necessidades e oferecer experiências sob medida.
3. Preço – Aplicar novos modelos de preços, tais como pay-as-you-go, ´freemiums´ e preços de assinatura para responder ao pico de demanda.
4. Proteção – incorporar a confiança no coração da plataforma, usando técnicas de prevenção e de compensação para atrair clientes e diferenciar a plataforma.
5. Parceiros – Escalar a plataforma rapidamente, identificando parceiros digitais – tais como desenvolvedores de aplicativos e provedores de serviços de pagamento – que podem enriquecer a experiência de plataforma e atender às necessidades dos clientes.
“As plataformas digitais não são apenas a preservação das empresas nascidas no digital, como Airbnb e Alibaba, mas elas agora estão se tornando um modelo de negócio padrão na maioria dos setores da indústria, tanto B2B quanto B2C”, afirma Francis Hintermann, diretor executivo da Accenture Research. “Para desfrutar das eficiências e de altas taxas de crescimento, as empresas terão de transformar tudo, desde a forma como criam produtos e serviços junto com terceiros, até personalizar as suas ofertas para os clientes e precificar dinamicamente. Fundamentalmente, elas só vão sustentar a massa crítica trabalhando com parceiros digitais que podem entregar a gama de serviços funcionais que completa a experiência do cliente “.
Brasil
O Brasil é o 12º no ranking este ano e permanecerá nesta posição até 2020, de acordo com os dados. O país está em 3º em inovação aberta e cultura; em 5º no ranking de usuários digitais e experiência; na 12ª posição em talento digital e empreendedorismo e em tecnologia e governança; e ocupa a 16ª posição em políticas e regulação. Usuários digitais e sua experiência: Índice foi baixo, devido ao baixo nível de adoção de dispositivos, com apenas 30 milhões de pessoas utilizando dispositivos e metade deles usando a internet para pagar contas. Talento e empreendedorismo: O índice é baixo devido à pouca disponibilidade de cientistas e engenheiros no Brasil, que também mostra baixa capacidade para inovação.
Já em Investimentos em Tecnologia, o país é mal classificado por conta de serviços tecnológicos não competitivos, pouco investimento relativo em infraestrutura de comunicação e em pesquisa e desenvolvimento, além de possuir baixa governança em tecnologia. Inovação Aberta: O índice alto se deve especialmente à atitude de colaboração digital de grandes empresas e empreendedores. Políticas públicas: Baixo índice, devido à limitada harmonização de regulação e comércio livre.
O relatório afirma, ainda, que alguns fatores poderiam ajudar a aumentar a capacidade do País para as plataformas digitais. Entre eles está a modernização da infraestrutura de TI, incluindo a qualidade da rede 4G, e a elaboração de leis mais abrangentes sobre privacidade, direitos autorais, proteção de propriedade intelectual e pirataria on-line. A falta de talentos para trabalhar em startups digitais é considerada pela pesquisa outra clara limitação aos investimentos no mercado de tecnologia brasileiro.