O Brasil é o maior celeiro mundial de jogadores de futebol de alta qualidade técnica. Centenas deles agregam valores à clubes dos cinco continentes, especialmente o europeu. Entre as jogadas mais admiradas destacamos o chamado “gol de placa”, lance onde o atleta demonstra toda sua habilidade artística no domínio da bola, lances capazes de enganar os adversários e resultar na marcação de um golaço, que poderá “imortalizar” o seu autor. Essa jogada merece uma placa no estádio onde ocorre o lance memorável. Esse segmento faz parte da economia da criatividade brasileira, a qual acaba de revelar, para o mundo dos negócios, um caso singular. Essa façanha coube a Gol Transportes Aéreos que, com seis anos em operação, acaba de comprar a Varig que durante oitenta anos encantou os passageiros e fez a bandeira brasileira tremular nos quatro cantos da terra.
Quando a Gol entrou no mercado a aviação já apresentava turbulências mundiais, declínio da Varig e consolidação da TAM. Com uma estratégia focada no conceito low cost, low fare (baixo custo, baixa tarifa), revolucionou o mercado ao democratizar as tarifas aéreas. Esse fato, ratifica o estudo sobre Longevidade e Performance Empresarial desenvolvido pela Fundação Dom Cabral. “Das 500 maiores empresas em operação no Brasil em 1973, apenas 117 (23,4%) conseguiram se manter no mesmo ranking em 2005. As companhias que deixaram de existir foram derrubadas pela incapacidade de reverter decisões prejudiciais à organização, pela falta de transparência da alta gestão e por lideranças voltadas para o passado, sem visão de futuro.
Se a Gol voa em céu de brigadeiro, não podemos dizer o mesmo da aviação civil brasileira, que se debate num mar de turbulências. Segundo o noticiário geral, aconteceu de tudo: verdades, meias verdades, vacilos nas declarações, acusações, reivindicações, recuos, revolta dos passageiros, ofensas, overbooking, ultimato e, gravíssimo, quebra de hierarquia e disciplina militar. As causas do Apagão Aéreo, pois acreditamos numa conjunção de vários fatores, devem ser diagnósticas por uma equipe representativa de todas as partes responsáveis pela normalidade do controle de trafego aéreo e pela segurança dos vôos no céu do Brasil. O caminho eficaz encontra-se na aplicação da metodologia contida no diagrama dos 7Ms: – mão-de-obra, mercado, método,máquinas, materiais,meio ambiente e medição.
As noticias veiculadas pela imprensa nos levam a crer que em cada um desses “emes” deve haver uma, ou mais causas, do maior “desastre” da história da aviação civil brasileira. Essa novela ainda tem muitos capítulos para chegar a um final feliz. Os prejuízos financeiros, imateriais, e da imagem do nosso país no exterior, são incalculáveis. Fatos como esses demonstraram que não há programas de qualidade assegurada, de normas técnicas internacionais, como a ISO, por exemplo, que possam impedir que o sistema seja “quebrado”, quando as pessoas tomam decisões equivocadas. A excelência em gestão evidência que as responsabilidades precisam ser apuradas para que cada um assuma as conseqüências de seus atos.
Considerando que a demanda de passageiros deverá crescer nos próximos anos, concluímos que uma alternativa estratégica eficaz ficou esquecida… lá no passado. A operação do chamado “trem bala”, que “voa” a 300 quilometros por hora. A população de baixa renda espera que os governantes demonstrem a mesma indignação, que revelaram diante do caos aéreo, com o atual nível da educação e da saúde pública, condição sine qua non para o ultimato na mais cruel das violências e no mais ultrajante desrespeito ao Ser humano: a miséria.
Faustino Vicente é consultor de empresas. ([email protected])