Hora de enfrentar a situação inversa

A situação atual da economia realmente não está muito positiva para boa parte da população e nem para alguns setores do mercado. Entretanto, essa não é a primeira vez que o País passa por uma fase difícil. Até 1994, quando houve o Plano Real, realizar uma compra podia ser um processo complexo para o brasileiro. Como explica Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Provar, Programa de Administração de Varejo, da FIA, Fundação Instituto de Administração, a inflação distorcia os preços de uma maneira ampla e frequente, ficando difícil a realização, inclusive, de comparações de valores. “Você poderia comprar uma geladeira por um preço, talvez, de um fogão e o fogão pelo preço de uma geladeira, dependendo, apenas do dia que você fosse à loja”, exemplifica o especialista, acrescentando que o País chegou a ter inflação de 100% ao mês.
Por conta desse cenário, era complicado para o consumidor tomar alguma decisão. Entretanto, entre os anos 2003 e 2004, as pessoas se encontraram em outra fase, bem mais favorável ao consumo. “A partir desses anos houve um processo de redistribuição de renda bastante importante, que teve com precondição a estabilidade da economia em 1994. Fazendo com que, nada menos, 30 a 40 milhões de pessoas emergissem das classes D e E, em que recebiam menos de quatro salários mínimos, para uma posição entre quatro e 10 salários”, conta Angelo. Momento esse que ele chama como boom da economia, na qual houve um maior estímulo às compras e que durou até o ano passado, com a chegada da atual crise que criou uma situação inversa.
Mas, diferentemente das fases complicadas do passado, essa é um tanto quanto atípica para o setor de varejo. Pois, ao mesmo tempo em que é preciso se atentar aos gastos, o mercado também cobra das empresas investimentos em inovação e tecnologias para não perderem espaço com a concorrência. Por isso, Angelo ressalta que é desafiador e extremamente importante que os negócios se preparem, seja para a situação econômica seja para a disputa do setor. “A evolução, creio, será na área de inteligência de mercado. Não só softwares, mas principalmente em pessoas que consigam examinar o conjunto de clientes e separá-los em razão ou em função, orientando a distribuição de acordo com esses dados”, comenta.
Na verdade, a captura de informações é um progresso já alcançado por muitas empresas, como considera o executivo. Hoje, as companhias já têm acesso a diversas fontes e possuem uma quantidade enorme de conteúdo dos clientes. Porém, o varejo ainda está carente na análise correta dos dados. “Enquanto você morre no deserto por falta de água, também morre no oceano de informações”, analisa. Ou seja, apesar de muito se discutir sobre Big Data, realmente, são poucos que estão sabendo empregar o conceito corretamente para o sucesso. “Eu penso que, na verdade, há aí um distanciamento muito grande entre aquilo que se consegue coletar e o que se faz com aquilo que coletou.”

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