Intenção de compra ainda não é boa

Em agosto, o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) em São Paulo registrou a décima retração mensal consecutiva ao cair 7,4% em relação a julho. Com isso, chega a um novo recorde da zona de pessimismo: 70 pontos. Comparando-se com o mesmo período do ano passado, a queda foi ainda maior, de 35,1%. Desenvolvido mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o indicador avalia sete itens – relacionados a emprego, renda e consumo – e varia de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de 100 pontos é considerado insatisfatório e acima de 100 pontos é apontado como satisfatório. 
 
Desde que começou a ser medido, essa é a primeira vez que o ICF teve todos os seus itens no patamar de insatisfação. Entre os sete componentes de índice, Perspectiva de Consumo teve a maior variação entre o mês de julho e agosto, com queda de 14,0%, ao passar de 58,1 para 50,0 pontos. Em relação ao ano passado, houve queda de 49,2%. O item Nível de Consumo Atual, por sua vez, voltou a cair tanto na comparação mensal (-10%) quanto na comparação anual (-42,5%), indicando que as famílias paulistanas vêm consumindo cada vez menos em relação ao mesmo período do ano anterior. Desde fevereiro de 2013, o indicador de Nível de Consumo Atual se encontra abaixo dos 100 pontos. 
 
Segundo os economistas da entidade, a retração do consumo das famílias paulistanas está diretamente relacionada à pressão inflacionária, aos juros altos, ao crédito escasso e ao aumento do desemprego. O crédito e os juros afetam especialmente o item Momento para Duráveis, que teve a maior queda anual, de 51,2%, entre os componentes. Em agosto, o item registrou 44,4 pontos, 11% menor do que em julho. Já os itens Renda Atual e Acesso a Crédito retraíram 6,9% e 4,3%, respectivamente, na comparação mensal. O primeiro está no patamar de 84 pontos, enquanto o segundo está com 76,7 pontos.
 
O item Emprego Atual, por sua vez, recuou 5% em agosto, passando 101,9 para 96,8 pontos, e entrou pela primeira vez na zona do pessimismo. Indicando que os paulistanos estão se sentindo cada vez menos seguros em relação ao emprego. Ao mesmo tempo, o índice também projeta um cenário sem melhorias no mercado de trabalho nos próximos meses. Conforme revelado pelo item Perspectiva Profissional, que recuou 5,7% na comparação mensal e atingiu 90,2 pontos.
 
Para a Federação, o resultado de agosto mostra que os números negativos do mercado de trabalho, a inflação e os juros em ascensão colaboram para o pessimismo das famílias paulistanas. Ao mesmo tempo, a retirada recorde de dinheiro da poupança, quase 41 bilhões de janeiro a julho, mostra a fragilidade do orçamento das famílias e a busca por um equilíbrio nas contas. Outros sinais de preocupação são o forte aumento da inadimplência da conta de luz e a retração das vendas do setor de Supermercados, que evidenciam a dificuldade das famílias até na manutenção dos gastos básicos. 
 
RENDA
Todos os itens que medem o nível de intenção de consumo por renda ficaram abaixo dos 100 pontos. As mais insatisfeitas são as famílias com renda superior a 10 salários mínimos. Para as quais o ICF atingiu 67,9 pontos em agosto, recuo de 1,9% em relação a julho. Destaque nesta faixa para o item Perspectiva de Consumo, que chegou aos 35 pontos, valor mais baixo entre os sete componentes do índice quando considerada a segmentação por faixa de renda.
 
A maior variação negativa mensal do ICF, no entanto, foi observada entre as famílias com renda abaixo de 10 S.M. Um recuo de 9,1%, ao passar de 77,8 em julho para 70,0 pontos em agosto. Para esse grupo, vale ressaltar a insatisfação apresentada nos itens Emprego Atual, com recuo de 7% (ao passar de 105,3 para 98,0 pontos), e Momento para Duráveis, que registrou retração de 15,4% (ao passar de 48,6 para 41,1 pontos). 
 
A FecomercioSP estima que o ICF continuará no patamar de insatisfação até o final deste ano devido à piora dos indicadores econômicos e à deterioração do mercado de trabalho. Adiciona-se a isso a falta de perspectiva de melhora da economia, resultante do problema político que limita a capacidade de implementação dos ajustes necessários para o País.

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