Nesse caminho onde o consumidor tem protagonismo, em especial na escolha de uma matriz energética limpa e econômica, destaca-se a geração distribuída de energia solar
Autora: Adriana Marinho
A preocupação com as mudanças climáticas e a atenção com a preservação do meio ambiente são questões que têm tomado conta da pauta social, política e empresarial em todos os continentes. Nesse contexto está o processo de transição energética, em que é possível notar avanços em direção à geração de energia renovável, ao mesmo tempo em que se busca reduzir a dependência de matrizes menos sustentáveis. Nesse ambiente, embora as empresas do setor elétrico (dos grandes conglomerados até as companhias menores) estejam inseridas nesse movimento, noto que os consumidores estão cada vez mais atuantes nesse debate e participativos nas decisões que conduzem essa mudança.
E mais. Em minha visão, os consumidores têm potencial para assumirem o protagonismo dessa transformação à medida que vêm se informando sobre as suas opções e assegurando um poder de escolha acerca da maneira que desejam consumir energia hoje e no futuro, da forma mais aderente aos seus estilos de vida.
Se antes os consumidores de energia tinham uma postura passiva, herança do clássico sistema de consumidores “cativos”, em que o consumidor não influenciava a matriz de geração de energia e não tinha a opção de escolha do seu fornecedor além da distribuidora da sua região e não podiam negociar preço, atualmente já existem opções que permitem uma participação mais ativa para parte desses consumidores, como é o caso do Ambiente de Contratação Livre.
Também nesse caminho de um modelo onde o consumidor tem protagonismo, em especial na escolha de uma matriz energética limpa e econômica, destaca-se a geração distribuída (GD) de energia solar. E os consumidores já estão aderindo a esse novo modelo de consumo, e se informando sobre isso, tanto que é perceptível o crescimento da energia renovável em todo o país, de forma alinhada com a evolução das matrizes sustentáveis em todo o mundo. A geração distribuída (GD) de energia solar oferece aos consumidores uma maneira de contribuir ativamente para a transição energética, utilizando energia solar limpa e renovável democratizando o acesso a fontes de energia em harmonia com o meio ambiente e economicamente vantajosas. É um segmento que vem transformando o setor energético no país.
O modelo de negócio da GD de energia solar, inclusive, é totalmente favorável a colocar o consumidor como protagonista do processo de decisão ao oferecer uma alternativa sustentável e economicamente viável. Empresas que atuam nessa área estruturam um modelo pelo qual o consumidor recebe a energia solar em sua residência ou pequena / média empresa sem mudar a maneira como ele já consome energia, sem necessidade de investir na aquisição ou instalação de equipamentos. Isso porque a energia solar é gerada em fazendas localizadas próximas das regiões de consumo e conectada diretamente na rede de distribuição, e para qual o cliente contrata uma quota mensal da geradora de energia solar, como se fosse um pacote de TV por assinatura ou streaming, com destaque ainda para a economia média de 10% na conta mensal de energia elétrica.
Com esses benefícios, o setor vem crescendo embasado na escolha dos consumidores, que compartilham informações entre si na famosa comunicação “boca a boca”, dando mais exposição para o modelo e pavimentando as empresas do setor como o meio pelo qual essa transformação acontece. Isso é notado pelo fato de, hoje, 98% das instalações de GD no país, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), são de geração solar; os outros tipos de usinas desse tipo são de geração eólica e biomassa. E o setor continua em expansão.
Dados da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) indicam que, nesse ano, o setor já gera quase 2,5 GW em 233.718 plantas distribuídas em todo o país; em 2012, quando começaram as primeiras unidades, foram contabilizadas 29 plantas para a geração de 0,8 MW (megawatt).
Mas, apesar dos números robustos e da minha visão entusiasmada, é preciso reconhecer que ainda há um longo caminho para alcançar um número maior de consumidores. Por uma herança do modelo “cativo”, grande parte da população ainda desconhece esse mercado. Porém, o futuro me permite manter a visão otimista do protagonismo dos consumidores na transição energética no Brasil, pois é fato que a transformação acontece quando as pessoas se sentem mais seguras para consumir e, nesse segmento, essa segurança já é realidade a partir que a área dispõe de empresas sólidas e que a informação vem trafegando com mais clareza entre os próprios consumidores, a partir do noticiário e das próprias companhias nos processos e venda e pós-venda e pelas associações setoriais.
Isso deve ser levando em consideração até porque os consumidores de energia estão cada vez mais atentos que estão inseridos em uma jornada do cliente que é longa e cuja satisfação está relacionada a uma série de fatores, que envolve o fornecimento com qualidade, com preço justo e bom atendimento. E isso inclui uma atuação forte das organizações do segmento para promover a educação das pessoas à medida que dissemina informações e contextos reais em torno do modelo de negócio e da própria GD de energia solar. Como a confiança passa a ser uma palavra-chave nesse relacionamento e como os próprios consumidores indicam o serviço entre si, chega-se a um ponto de que já existem até clubes de benefícios e descontos para aqueles que expandem essa rede de consumo consciente. Em muitos casos, alguns consumidores chegam a zerar o valor pago à empresa no final de cada mês, ou no ano.
Considerando tudo isso, junto, é possível voltar ao início da nossa abordagem e reforçar que, em minha visão, esse cenário favorece aos consumidores assumirem o protagonismo da transição energética, e que as empresas do segmento serão os mecanismos por onde essa transformação ocorrerá.
Adriana Marinho é CSO da Órigo Energia.