Antonio Carlos Lopes
O sonho de qualquer executivo é ter o próprio negócio. É como dirigir sem ter carro. Agora estou preparado para dirigir o meu carro, perdão, o meu negócio. Tenho observado o fracasso de negócios iniciados por ex-executivos, com experiência na direção de negócios bem mais complexos, e que teriam todas as chances de fazer sucesso. Vejo que na maioria dos casos algo relevante foi deixado de lado e fez diferença: experiência no negócio escolhido, impostos não-previstos, burocracia governamental, escolha da localização, etc.
Como contador por formação, tenho até vontade de discorrer sobre os problemas tributários que irão afetar os novos negócios. Porém, o problema realmente relevante é de outra natureza: quanto tempo se tem para o negócio dar certo? E o que é dar certo? Aprender sobre qualquer coisa leva tempo e em negócios tempo é dinheiro. Num país com um custo de capital tão elevado, o tempo faz uma grande diferença quando traduzido em dinheiro. Nem sempre dar certo é garantia de dinheiro no bolso. Antes do dinheiro, deve vir o reconhecimento do mercado em relação ao negócio, serviço ou produto e não o inverso.
Bons negócios estão morrendo no nascedouro porque seus idealizadores não previram o tempo necessário para que pudessem amadurecer e dar frutos. Os tempos estimados nos planos, na prática, não funcionam. Executivos que galgaram altos postos em importantes organizações criadas por empreendedores há décadas deixam escapar aspectos práticos do início de qualquer negócio, apesar de toda a sua experiência.
Normalmente este início de atividade é escrito muito tempo depois da criação de qualquer negócio e tende a falar somente da parte que deu certo. Mas, por mais experientes que estes executivos possam ser, não participaram do processo de criação, em que tudo acontece de forma a conspirar contra as boas idéias. Do tempo previsto para a legalização total do empreendimento à falta de infra-estrutura mínima de apoio, o ter que fazer outras coisas não-previstas – que muitas vezes não se tem mais paciência de fazer ou se julga que são aspectos menos importante em um negócio – vão fazer grande diferença.
É normal um ex-executivo se dar conta de quão importante era sua posição em detrimento de sua pessoa. Não deveria ser assim, porém é. O mercado passa a vê-lo de forma diferente agora na nova empreitada. Um bom jogador de futebol, mesmo que famoso, quando entra em um novo esporte, vai ter de aprender tudo de novo e fazer o mesmo caminho para chegar ao sucesso. Com o executivo vai acontecer a mesma coisa e ter uma boa dose de humildade vai ajudar bastante. Alguns ex-executivos que montaram os próprios negócios ainda falam como altos executivos, só que agora dentro de uma “quitanda”, e ainda não acordaram para a nova realidade, qualquer que seja o negócio.
Notícias de gente que ganhou muito dinheiro em pouco tempo, sem saber direito como, acalenta o sonho de muitos desses executivos. Normalmente estamos diante de um sucesso tecnológico em que o “tempo” estava sincronizado com o mercado, ou de um caso para ser mais bem investigado.
O sucesso, normalmente, é construído com o tempo, o resto é sorte. Sorte que vamos precisar sempre. Para que haja a chuva é preciso que antes tenhamos as nuvens e as nuvens levam tempo para se formar, e ainda assim às vezes custa para chover. Escolha bem o negócio e preste muita atenção para saber se você vai ter tempo e paciência para esperar.
Antonio Carlos Lopes é contador e sócio-diretor das empresas Asscont Assessoria Contábil e Auditoria S/S, Asscont Consultoria e Gestão Ltda., Transearch Brasil Consultoria em Recursos Humanos Ltda. e Automóvel & Cia. Ltda. (Internet).