Autor: Antonio Raupp
Incorporaram-se aos hábitos de consumo a compra de itens pelos quais pagamos em parte para consumir e noutra para jogar fora. Diariamente vai para o lixo uma fortuna em embalagens descartáveis. Isto acontece sem que nos demos conta do que fazemos e, muitas vezes, sem questionar a validade de determinados objetos, ou até mesmo a função.
Essa rotina predatória é fruto de nossa falta de competência para reprocessar materiais que poderiam facilmente ser reaproveitados. Alguns poderiam funcionar como matéria-prima para outros usos ou até mesmo reutilizados na própria cadeia da indústria de embalagens. Por essa razão, o princípio básico de “conter, proteger e transportar” precisa ser revisto.
Descartável. A palavra por si só já está associada ao lixo. Se por um lado os processos industriais nos trouxeram benefícios imediatos, por outro, vieram na carona os problemas de longo prazo. Um deles é o lixo urbano despejado às toneladas na periferia das grandes cidades, sendo que parte significativa é gerada pelas embalagens de alimentos. Se a tecnologia para o desenvolvimento de alimentos processados evoluiu tanto, e não menos as estratégias e a logística para abastecer os grandes centros, por que não embalagens melhores?
Quando analisamos o destino das latinhas de alumínio – de cerveja e refrigerantes – chegamos a uma conclusão animadora: essa categoria de embalagem passou a cumprir uma função econômica e social. Atualmente, elas têm o maior índice de reciclagem. No Brasil, segundo a Associação Brasileira do Alumínio – ABAL recicla-se hoje 94,4% das latinhas comercializadas.
Ou seja, os “catadores” não deixam as latinhas chegarem aos lixões. O garimpo urbano se encarrega de dar a essas embalagens um destino melhor – o retorno para as fábricas e, posteriormente, ao mercado. Consequentemente, a atividade de coleta transformou-se em fonte de renda para as classes sociais menos favorecidas.
O exemplo da lata de alumínio ilustra o modelo da reciclagem espontânea, que acontece naturalmente. Ela traz benefícios para a sociedade, para a indústria e para o meio ambiente. Afinal, reciclar a matéria-prima acabada é bem mais barato do que extrair o minério e fabricar o alumínio.
Outros tantos substratos e matérias-primas permitem este tipo de retorno. Considerando que a sociedade e os governos têm demonstrado preocupação constante com ecologia e preservação do meio ambiente, não seria o caso de repensar as embalagens retornáveis, focando nas ecologicamente corretas? Se conseguirmos raciocinar em termos de interdependência ao desenvolvermos projetos de embalagem com os substratos adequados, vamos, sem dúvida, minimizar o desperdício e o volume de lixo descartado.
“Conter e proteger” é elementar. Porém, temos que pensar a proteção além da nossa necessidade imediata de consumo. Temos que pensar em proteger os rios, os lagos, o mar, as florestas, o lençol freático e, finalmente, a nós mesmos! Quando pensarmos em descartar, temos que pensar onde e por quê. Pois ou o descartável retorna para nós de forma benéfica ou vai retornar nas enxurradas, na praia, na nossa rua. Ao reduzir parte do desperdício, certamente já estaremos colaborando para isso.
Se queremos a facilidade do descarte após o consumo – e pagamos por isso -, poderíamos investir em embalagens que tivessem valor agregado suficiente para promover a reciclagem.
Mais do que isso, ao idealizar um projeto, temos que ter em mente qual será o destino da embalagem após seu uso, de modo que ela cumpra outra função, além daquela para a qual foi designada. Temos a obrigação de fazer com que a embalagem agregue valor ao produto. Entretanto, não podemos deixar de lado o valor agregado à própria embalagem.
Cabe uma reflexão para estimular o reaproveitamento e um destino melhor para as coisas que tivermos que “descartar”. Por que não pensar, no início do processo, em uma forma de separar o ouro do lixo? A indústria e um exército de garimpeiros urbanos têm interesse nisto.
Particularmente, gostaria muito de ver impresso nas embalagens a seguinte mensagem: “Esta embalagem contém: valor para reciclagem, responsabilidade social e preocupação com o meio ambiente”. Esse seria o mais valioso ouro urbano!
Antonio Raupp é diretor de criação e produção do GAD´.