O imperativo tecnológico

A queda do PIB brasileiro, da 12ª para a 15ª posição, como divulgou a Global Invest, torna ainda mais imperativo o sucesso da política industrial anunciada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isto, porém, está condicionado a outros fatores, como a propalada redução dos juros e impostos e a um aspecto nem sempre lembrado nas discussões nacionais relativas ao crescimento econômico, “os investimentos em ciência, inovação e tecnologia”.
O Brasil situa-se em posição intermediária dentre os países que investem em ações e estratégias destinadas a colocar a produção de conhecimento no centro do desenvolvimento econômico e social. Aqui, os recursos aplicados em ciência, pesquisa e fomento tecnológico representam 0,89% do PIB, média semelhante à de nações como a Espanha (0,9%), mas muito distante das maiores economias, como os Estados Unidos (2,7%) e Japão (3%), ou de tigres asiáticos, como a Coréia do Sul (2,5%). Nestes países, por outro lado, a iniciativa privada, em especial a indústria, responde por 60% dos investimentos em pesquisa e tecnologia, enquanto no Brasil e outras nações intermediárias no setor o governo assume cerca de 65% dessas inversões.
Além disso, nos Estados Unidos, há 800 mil cientistas fazendo pesquisa em empresas; na Coréia do Sul, 75 mil; no Brasil, menos de 10 mil. Resultado, a Coréia registra 3.500 patentes por ano nos Estados Unidos, maior mercado mundial, e o Brasil, apenas 100. Ou seja, a Nação ainda está gatinhando no sentido de cumprir a inexorável missão de produzir e agregar tecnologia de ponta. Nos anos 90, pela primeira vez o conhecimento foi abordado como elemento explícito e condicionante do desenvolvimento, nas “Novas Teorias de Crescimento”, formuladas por Paul Romer e seus colaboradores (Chicago, EUA). Até então, o conhecimento era considerado variável exógena à teoria econômica.
Na prática, as grandes mudanças que delimitaram etapas no processo de evolução sempre contaram com o suporte da tecnologia, mas se calcavam muito no empirismo, gerando conhecimento posterior. O que mudou de verdade é que, agora, o conhecimento antecede ao fato, ao gesto, ao investimento, à criação de uma empresa ou a um grande negócio internacional. Por isso, torna-se sujeito no universo econômico.
Ter plena consciência dessas transformações é imprescindível para o Brasil neste momento, em que, definitivamente, acabou a lua de mel do Governo Lula, dos próprios integrantes da administração com o poder e também com a sociedade, que, conforme demonstram as pesquisas de opinião, começa a questionar e cobrar mais firmemente as políticas públicas prometidas na campanha eleitoral.
A queda do PIB brasileiro, a fadiga da globalização, apontada em estudos (Banco Mundial e Organização Internacional do Trabalho, dentre outros) como um dos fatores responsáveis pelo empobrecimento internacional generalizado, e a persistência de sérios problemas brasileiros não solucionados consubstanciam grave alerta. Mais do que nunca, o Brasil precisa do aporte tecnológico, paralelamente ao equacionamento das questões macroeconômicas.
Assim, é importante que a política industrial anunciada pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, tenha como eixo a inovação tecnológica, tanto em setores tradicionais quanto nos considerados estratégicos. Entretanto, não é correto o fato de o atual governo ter esperado mais de um ano para, na verdade, retomar programa implementado na administração anterior, inclusive por meio de instrumento legal, a “Lei da Inovação”. O tempo perdido atesta, mais uma vez, que as divergências políticas e a saudável alternância no poder não podem interferir no andamento dos grandes projetos de interesse nacional.
Ruy Martins Altenfelder Silva, advogado, é presidente do Instituto Roberto Simonsen. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo.

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