O potencial consumidor da terceira idade



Autor: Marcos Morita

 

Enfim, boas novas aos aposentados e pensionistas. Além da antecipação da primeira parcela do 13° salário, despejando quase 7 bilhões de reais na economia, há a possibilidade de aumentos reais atrelados à variação do PIB dos dois últimos anos. A proposta, que precisa ser aprovada no Congresso, prevê que o ganho real será ao redor de 2,55% em 2010, o que somado à reposição da inflação chegaria a um reajuste de quase 6%.

 

Estas notícias colocaram foco sobre este grupo heterogêneo, formado por aqueles que já completaram 60 anos. Composto por 15 milhões de pessoas ou 14% da população adulta, são responsáveis por mais de 47 milhões de domicílios. Com renda média de R$ 866 reais, são formadores de opinião das famílias, decidindo ou influenciando as decisões de compras.

 

O avanço da medicina e a melhoria da qualidade de vida fizeram com que a expectativa de vida do brasileiro chegasse aos 72 anos, avançando 17 anos desde 1960. Ainda estamos longe de países como o Japão, onde a expectativa é de 82 anos um pouco melhores que os 67 da média mundial. Tudo indica que em 2020 sejam mais de 30 milhões de brasileiros neste grupo. Ou seja, o dobro do que temos hoje!

 

Apesar das evidências, são poucas as empresas que exploram este nicho de mercado de maneira consistente e adequada, com produtos e serviços especialmente desenhados para esta parcela da população. Analisando-se as variáveis do mix de marketing – produto, praça, promoção e preço – percebe-se a utilização com frequência das duas últimas, adequando-se à oferta existente.

 

Pacotes turísticos e cruzeiros em baixa temporada, cursos e faculdades da terceira idade, cartões de desconto em farmácias e drogarias, são alguns exemplos. Convenientes por oferecer condições de preços especiais em períodos com baixa demanda, ajudam a cobrir os custos fixos envolvidos na operação. Em sua maioria a mesma oferta de serviços, sem maiores adequações às necessidades desta fase da vida.

 

Ter mais dificuldades para ler, apresentar movimentos mais lentos, lembrar com menos acuracidade dos fatos presentes e andar mais devagar são consequências inexoráveis da idade. Entretanto, isso pode ser visto como uma oportunidade imensa para as empresas desenvolverem as duas primeiras variáveis do mix de marketing – produto e praça – sem ter que recorrer apenas a descontos e promoções.

 

Um bom exemplo do potencial destes consumidores é o campo tecnológico. A exclusão digital, tão comentada nos dias de hoje, não se aplica somente às camadas mais carentes da população. Grande parte dos idosos não teve acesso à tecnologia enquanto estavam no mercado de trabalho.

 

Produzir computadores com programas mais simples, celulares com dígitos maiores, porta remédios que avisem a hora de tomá-los, fechaduras que se abram utilizando as impressões digitais, carros com mostradores mais fáceis de enxergar e tantas outras adequações a este público já estão nos planos de diversos fabricantes mundiais.

 

Criar produtos que possam eliminar a barreira entre as gerações pode gerar lucros atuais e potenciais para as empresas que o fizerem. Somado a isso estará o valor da vantagem competitiva gerada pelo pioneirismo.

 

Talvez ainda não tenhamos no Brasil as mesmas oportunidades de países como os Estados Unidos, o qual conta com uma geração denominada de baby boomers. Nascidos após a 2° guerra, os boomers compõem um universo de 74 milhões de pessoas, cuja renda anual chega a impressionantes U$ 157 mil dólares. Eles são responsáveis pela compra de 48% dos carros de luxo e ocupam 70% das vagas em cruzeiros.

 

No nosso país a economia estável pós-real criou instrumentos para que uma geração possa planejar sua aposentadoria. São hoje mais de 155 bilhões de reais investidos em planos de previdência privada e complementar, com quase 15 milhões de investidores.

 

Quem sabe em 2020, grande parte dos 30 milhões de aposentados e pensionistas possa gozar da qualidade de vida e do padrão de consumo dos boomers americanos. Sorte de quem planejou, acreditou e investiu neste poderoso grupo.

 

Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor das disciplinas de planejamento estratégico e gestão de serviços na Universidade Presbiteriana Mackenzie. ([email protected])

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