Raul Marinho
Muito se fala sobre o jovem empreendedor como se isso fosse um fenômeno contemporâneo. Mas se analisarmos nossa história evolutiva, veremos que ele é, na verdade, um dos personagens mais antigos da nossa espécie – além de fundamental para que atingíssemos o atual grau de desenvolvimento da humanidade.
No nosso ambiente ancestral, grupos humanos se organizavam em bandos de caçadores e coletores que atuavam de maneira organizada para obter o sustento da comunidade. Mas de nada adiantava um grande número de bons manejadores de lanças se não houvesse um indivíduo com habilidade para coordenar uma estratégia eficiente para cercar a presa. Foi precisamente aí que surgiu a necessidade de um sujeito que fosse bom na coordenação da caçada (ou de uma eficiente operação de coleta), independente de sua própria habilidade na atividade de caçar ou coletar propriamente dita.
Muito tempo depois, inventamos a agricultura, o comércio, a escrita, as leis… Continuamos, entretanto, a ter a necessidade de indivíduos que liderassem empreendimentos análogos aos que praticávamos há dezenas de milhares de anos. No atual grau de desenvolvimento, centrado no sistema capitalista de livre iniciativa, esse sujeito é o empreendedor – que, a priori, pode ser jovem ou velho, tanto faz. Acontece que, já no ambiente ancestral, havia uma diferença sutil entre os líderes de caçadas mais novos ou mais velhos, que tem paralelo entre os jovens empreendedores e aqueles já estabelecidos há muito tempo.
A diferença entre jovens e velhos empreendedores não se restringe ao número de fios de cabelo branco na cabeça, mas principalmente ao comportamento de um e de outro. Um jovem empreendedor, assim como um jovem líder de caçadores, é um sujeito mais impetuoso e disposto a assumir ricos e a inovar. O empreendedor mais velho, por sua vez, tem um comportamento mais seguro e menor propensão ao risco. E uma sociedade saudável terá estes dois tipos de lideranças empresariais convivendo de modo a obter um equilíbrio que maximize a eficiência total do sistema.
Neste contexto, cabe ao jovem empreendedor o papel de avançar, ao passo que os empreendedores mais velhos têm a responsabilidade de não retroceder. Ambos são importantes, sem dúvida, como um time que precisa de um bom goleiro e um bom artilheiro. Mas um ótimo goleiro não ganha o campeonato, mesmo que seja a peça fundamental para que o time não seja rebaixado para a 2a divisão. Por isto, a importância das associações de jovens empreendedores: fomentar a proliferação dos artilheiros que nos farão vencer o campeonato!
Raul Marinho é administrador de empresas, ex-executivo e ex-empresário do mercado financeiro, consultor de corporate finance e estratégia, escritor e palestrande.