O Chazz, estúdio de design criativo da everis, realizou uma pesquisa com trabalhadores essenciais para entender essa força de trabalho, seu potencial criativo e os impactos da digitalização em suas vidas. O objetivo é munir o mercado com informações consistentes sobre os diferentes perfis desses profissionais, para que possam se aproximar e auxiliá-los a se inserirem e serem reconhecidos pela sociedade a partir da oferta de novos produtos e serviços. “Os trabalhadores informais representam 41,4% da força de trabalho nacional em 2020, segundo o IBGE, o correspondente a 38,8 milhões de brasileiros. Eles são responsáveis pela geração de 1,12 trilhões de reais (17,3% do PIB) e era preciso ter um olhar mais atento a essa população, que ajuda a impulsionar a economia, e que precisa ser reconhecida e incluída social e economicamente”, afirma Raphael Bueno, sócio responsável pela área de Digital Strategy da everis Brasil.
Segundo o executivo, uma das formas de auxiliar esses talentos a se sentirem inseridos e a se fortalecerem profissionalmente é viabilizar sua inserção digital e bancária. Assim, a everis recorreu ao Chazz para fazer esse estudo a fim de compartilhar os resultados com seus clientes do setor financeiro. A pesquisa Trabalhadores Essenciais, cujo título respeita a constatação de que a maioria desses profissionais considera o termo “informais” pejorativo, considerou profissionais que trabalham por conta própria sem CNPJ registrado, não tem carteira de trabalho no setor privado, que trabalham ajudando parentes em seus negócios e que são empreendedores sem CNPJ registrado. “O termo trabalhador informal é considerado depreciativo, porque a informalidade não é uma escolha, é a consequência do desemprego, de sucessivas crises econômicas, da falta de acesso à educação e acesso à internet. Se pudessem, eles gostariam de ser assalariados, mas consideram um privilégio ao qual não têm acesso – afinal só um em cada 10 empregos gerados em nossa economia tem registro em carteira”, explica Luiza Futuro, head de Ressearch do Chazz.
Em seus resultados, a pesquisa detectou que as principais tensões que impulsionam o crescimento do mercado informal são: altos índices de desemprego; empreendedorismo estrutural; digitalização do mercado; e inovação exigida pelo capitalismo e pouca literacia digital, entre outros. O estudo também identificou insights sobre como funciona a informalidade brasileira: 1) é uma linha tênue entre o emprego e o desemprego, pois a maioria gostaria de ter uma ocupação formal; 2) o produto a ser vendido não importa, porque é preciso dar um jeito; 3) é um trabalho muitas vezes coletivo ou familiar; 4) os vendedores são camaleões – o mais importante é não perder a venda; 5) a liberdade é um dos principais atributos do empreendedorismo, assim como valores e possibilidade de conquistas; 6) é uma luta pela sobrevivência; 7) o que importa é a performance de venda e não o lucro ou a margem.
A pesquisa constatou ainda que os trabalhadores essenciais têm pouca percepção ou relação com o universo digital e financeiro, ou com as fintechs, consideram o dinheiro físico o melhor meio de pagamento e são mais orientados à transação do que às maquininhas – que são boas para viabilizar as vendas, mas não para os vendedores devido às taxas. Outro fator evidenciado foi que eles não se identificam com uma única classe trabalhadora também devido à grande diversidade que compõe a economia informal, que vai de marreteiros (vendedores ambulantes de alimentos, roupas, acessórios, entre outros produtos), domésticas, cuidadoras, floristas, costureiras, digital influencers até profissionais autônomos e empreendedores. “Essa complexidade e diversidade de perfis dos profissionais essenciais acaba tornando suas condições de trabalho e sua relevância para a economia invisíveis para a maioria das pessoas e instituições, o que impede sua ascensão como categoria e melhor integração à sociedade”, reforça a head do Chazz.
Para se ter uma ideia, na pesquisa recente realizada pela Desabafo Social e Afrotrampos com 200 pequenos e médios empreendedores – dos quais 30.8% possuem um negócio sem CPNJ e 60.3% são MEI -, 75.1% não estão conseguindo vender seus produtos ou serviços e 36,7% planeja pedir empréstimo a amigos e familiares devido à crise da Covid-19. “Esse dado deixa clara a necessidade de estabelecerem um relacionamento com as instituições financeiras para conseguirem financiar e dar continuidade aos seus negócios, o que é uma oportunidade para bancos e financeiras ampliarem sua carteira de clientes, contribuindo para o desenvolvimento econômico do País”, acrescenta o sócio de Digital Strategy da everis.
Com a maior digitalização da economia, impulsionada ainda mais pela pandemia, a tendência é que a massa de trabalhadores essenciais cresça significativamente em volume e amplitude, especialmente pelo surgimento de novas profissões geradas na Era Digital, assim como já ocorreu com o aparecimento dos aplicativos de transporte e de entrega de mercadorias. De acordo com Bueno, por essa razão, a everis solicitou ao Chazz que, considerando a relevância criativa, econômica e social dos trabalhadores essenciais, avaliasse como as instituições financeiras podem abrir novas oportunidades de negócios com essa classe trabalhadora.
Essa solicitação motivou o Chazz a definir possíveis cenários futuros de atuação do setor financeiro junto a esses profissionais, considerando o potencial das instituições como players versus o grau de digitalização social, que são:
1. Novo Mundo – no qual os novos players aproveitam a alta digitalização da sociedade para desenvolver novos produtos digitais e mais simples. Neste cenário, o sistema financeiro tradicional precisa se reinventar, pois a inovação será atrelada a reconhecer novos nichos comportamentais de consumidores, que se tornam invisíveis nos modelos convencionais de segmentação (varejo, alta renda e private).
2. Nova Competição – com a baixa digitalização, os novos players entram para competir nos produtos e canais tradicionais, acirrando a guerra de preços entre competidores tradicionais e novos players.
3. Mais do Mesmo – com a baixa digitalização e pouca força dos novos players, os bancos tradicionais se fortalecem, levando a pouca inovação ou mudanças significativas.
4. Guerra de Titãs – com a alta digitalização e baixa força dos novos players, a inovação no setor financeiro é impulsionada pelos bancos tradicionais e os novos players se tornam seguidores.
“Esses cenários nos mostram que esses profissionais representam um enorme potencial de expansão para os bancos, viabilizando a ampliação não só do número de clientes, mas a oferta de soluções inovadoras e diversificadas para atender aos variados perfis dos trabalhadores essenciais, gerando proximidade e fidelização”, avalia Bueno. Essas boas perspectivas abrem caminho para o ingresso de novos players no mercado, com diferentes propostas de valor, capazes de desenvolver produtos low cost. “Mostra também que há espaço para boas parcerias dos bancos com players digitais não financeiros a fim de ampliar a base de clientes e contribuir para melhorar o dia a dia de um público não bancarizado”, complementa. Outra iniciativa interessante, segundo Luiza, seria buscar contribuir para democratizar o empreendedorismo, retirando-os da informalidade e os incluindo no sistema financeiro e de seguridade social por meio de modelos de comercialização de produtos e serviços específicos, com taxas e tarifas financeiras mais acessíveis.
Entretanto, todos os cenários vislumbrados são incertos e, assim sendo, incluem também grandes desafios. “O setor financeiro está em constante mutação. Com a entrada de novos players (inclusive de outros segmentos econômicos), os bancos precisam ser ainda mais ágeis em suas estratégias de inovação operacional e comercial, com a oferta de soluções fáceis de comprar e de usar, bem como na comunicação das novidades ao mercado informal, para manterem sua competividade. Diante de tamanho desafio, tecnologias disruptivas e informação assertiva sobre esse amplo segmento invisível da economia são agora mais do que nunca imprescindíveis”, conclui Bueno. A pesquisa foi realizada junto a uma amostra de 69 profissionais informais, em cinco capitais brasileiras (Belém, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo).