Autor: Luis Schedel
O Brasil se consolida como um importante player no segmento de TI. Recente estudo da consultoria internacional A.T. Kearney demonstra que o país é um destino competitivo para o offshore, passando do 10º lugar, em 2005, para o 5º, em 2007. E nem mesmo a turbulência econômica trará maus ventos para o país: segundo o levantamento, o mercado mundial de offshore outsourcing apresenta um crescimento de mais de 20% ao ano, nos posicionando como um player estratégico e apto a conquistar parte dos US$ 31 bilhões que serão movimentados nos próximos dois anos. Só em 2008, esse segmento movimentou cerca de US$ 1,4 bilhão, o que representa um crescimento de 75% em relação a 2007.
Mas nem tudo são flores. Pesquisa da Gartner revelou que os serviços terceirizados de TI irão registrar queda neste ano e em 2010, com uma redução que pode oscilar de 5% até 20%. Essa constatação gera reflexões, especialmente por parte das companhias que já adotaram modelos de outsourcing. Já para os fornecedores, a análise da consultoria pode fomentar a implantação desse modelo entre companhias que ainda não tinham cogitado de forma efetiva essa alternativa. Portanto, abrem-se novas possibilidades.
Mais do que nunca o momento é oportuno para discutir a relação preço baixo versus qualidade. Aqui, é importante lembrar que qualidade é um requisito subjetivo, determinada pela demanda do cliente. A velha máxima de que um Fusca modelo 1970 e uma Mercedes top de linha são dotados, ambos desse atributo, pode ser aplicada nesse caso. Só dependerá da necessidade do motorista. E isso se adequa, se fizermos uma analogia, para os serviços de TI.
Depois das várias ondas de terceirização, o mercado se tornou mais profissional. A TI já é considerada uma parceira estratégica, que cada vez mais exerce influência direta no negócio das empresas. Nesse contexto, o primeiro questionamento que um fornecedor de outsourcing precisa fazer é determinar se a tecnologia, dentro daquela organização, é encarada como um “fim” ou como um “meio”. Será a resposta dessa indagação que determinará o grau de criticidade que a TI tem para o business.
Um exemplo prático é o segmento financeiro, que embora não tenha a TI como DNA, depende dela para viabilizar seu negócio. É nesse momento que a forma como o serviço é comercializado e a questão da escala ganham relevância, à medida que o mercado demonstra ter percebido o quão vantajoso é adotar um modelo de outsourcing. Ao optar por esse tipo de serviço, o cliente tem a disposição, por exemplo, equipamentos de alta tecnologia que podem ser vendidos de maneira fracionada, de acordo com a necessidade do negócio.
Isso se dá porque o custo da propriedade no momento da aquisição de um serviço pode ser fracionado para atender a demanda real daqueles que compram. De um lado temos os grandes players, que apresentam um custo administrativo gerencial grande e não conseguem comercializar seus serviços com flexibilidade ao cliente. E, na contramão desse movimento, tem ganhado cada vez mais força os fornecedores de menor porte, capazes de atender empresas que não comprar um “bolo” inteiro, mas apenas uma fatia dele.
Os fornecedores que apostarem nesse nicho de negócio contam com chances reais de crescimento. Quem conseguir atender de maneira eficiente esse mercado, que já demonstrou uma grande dependência dos serviços de TI, tem tudo para conquistar seu lugar ao sol. E essa constatação não será afetada nem mesmo pela crise mundial. Pelo menos é o que o mercado brasileiro tem revelado.
O Brasil, especialmente em função de fornecedores que conseguem aliar bons serviços, flexibilidade e preços competitivos, se torna uma opção mais do que viável para projetos de outsourcing. Talento, disposição e criatividade não nos falta. Além disso, o uso de tecnologias de comunicação unificada, virtualização de servidores e de storage são outros nichos que não foram afetados pela crise mundial. Ao contrário. São campos cada vez mais férteis, com condições propícias para a comercialização de serviços e novos formatos de modelos de negócio. Basta ter ousadia para se reinventar. Caso contrário, seremos acometidos da famosa Síndrome de Gabriela: “eu nasci assim, eu vivi assim, vou morrer assim”.
Luis Schedel é VP de Tecnologia da BSA Brasil.