Autora: Alexandra Jakob
O Brasil assistirá nas próximas décadas a um aumento da população idosa e diminuição no número de jovens.
A população idosa (definida como acima de 60 anos, mas que não lembra em nada o estereótipo do “velhinho de bengalas” de antigamente) deve dobrar no país até 2042, em comparação com os números de 2017, de acordo com projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em cinco anos, 2012 a 2017, a população brasileira com 60 anos ou mais de idade cresceu 18,8%.
Apesar do rápido aumento do número de idosos nos últimos anos, o país não está preparado para o envelhecimento de sua população.
Diante deste cenário, o público sênior torna-se um mercado especialmente atraente para a indústria, varejo e serviços. A população idosa movimenta em torno de R$ 1,6 trilhão, de acordo com uma pesquisa conduzida pelo Instituto Locomotiva. E ainda: a renda da população acima de 50 anos é 40% superior à média nacional.
Ainda assim, alguns setores não acordaram para esse target. O Marketing parece estar antenado nos jovens millennials e orientado para seus mercados, tratando o público sênior ainda com certo preconceito.
Alguns negócios não têm olhado para este perfil de consumidor brasileiro.
Os idosos estão cada vez mais informados sobre seus direitos e buscam por qualidade de vida. Eles não se importam em pagar um valor mais alto, desde que o produto seja de qualidade e principalmente adequado ao seu perfil.
Mercados como o imobiliário, farmacêutico, de turismo, preventivo e de suplementação já estão um passo a frente, oferecendo oportunidades, produtos e conteúdos para a terceira idade.
O aumento na expectativa de vida e a previsão do aumento da população idosa no Brasil têm causado mudanças no mercado imobiliário. Ele já começa a voltar o seu olhar para esse público de consumidores em potencial, construindo moradias que tragam a melhor experiência em qualidade de vida para os idosos. Há um crescimento no lançamento de imóveis com características peculiares para esse segmento, como áreas comuns para a convivência e estrutura médica. As principais mudanças nos projetos estão relacionadas à segurança dos moradores. O modelo já é conhecido nos Estados Unidos e em países europeus e começa a ganhar espaço no Brasil.
Já a divisão farmacêutica demonstra compreender que a população idosa tem expectativa de aproveitar a vida de maneira saudável e produtiva. Com comportamentos, estilos de vida e necessidades específicas, necessitam de produtos e serviços que atendam a seus anseios. Percebendo isso, as farmácias já oferecem atendimento personalizado, estrutura adequada, cuidado na disposição dos produtos nas gôndolas, estoque de medicamentos de uso contínuo, descontos e promoções, além de produtos específicos para a terceira idade, como vitaminas, cremes, maquiagem, entre outros.
A gigante rede de drogarias norte-americana Walgreens oferece soluções para seus clientes há muitos anos. A Walgreens fornece uma série de utilidades realmente significativas para a experiência do cliente, como o gerenciamento de receitas médicas, lembrete do horário para administração dos medicamentos e muito mais. Possuir o cartão fidelidade permite que o usuário acesse descontos exclusivos e atribua pontos para cada compra. Os membros podem acessar um chat protegido, aberto 24 horas por dia, no qual encontram um farmacêutico do outro lado do terminal que pode fornecer respostas rápidas e completas para os médicos do paciente o que vai além da relação mercantil e abre a porta para um novo grupo de usuários, dedicados exclusivamente à qualidade do serviço oferecido. No Brasil, redes como Droga Raia e Drogasil caminham bem neste sentido, com ações voltadas a este público.
Em compensação, algumas indústrias e varejos estão muito despreparados para satisfazer as necessidades dos consumidores mais velhos. Por exemplo, os setores de alimentos e de moda parecem estar alheios a este público, ainda muito ligados a uma “cultura da juventude”, sem lançamentos de produtos ou coleções voltados diretamente a este público. Os supermercados possuem dificuldades em resolver questões de acessibilidade básica, como a falta de rampas, carrinhos de compra ou caixas adequados.
Essas divisões do varejo estão perdendo uma grande oportunidade.
Alexandra Jakob é sócia-consultora da Step Stone.