Reduza, reutilize, recicle

Autor: Leonardo Barci
Às vezes, tenho a impressão de que estamos todos a bordo do Titanic, na cena do filme de James Cameron que retratou o naufrágio do navio, onde os músicos tocam até os momentos finais como se nada de especial estivesse acontecendo. Enquanto assisto nos jornais cenas do recente desastre ecológico ocorrido no Brasil, vejo também, entre um intervalo e outro, propagandas da Black Friday. Pergunto-me se as pessoas se atentam para o fato de haver alguma ligação entre as notícias e os comerciais.
Alguns dos desastres que estamos começando a ver se desenrolar cada vez mais próximos de nós começam a mostrar que o consumo – o que, como e o quanto consumimos – está começando a trazer os problemas cada vez mais próximos das portas de nossas casas. E onde este tema do consumo se encaixa na relação Cliente – Empresa? Da mesma forma que uma relação de casal que não vai bem causa reflexos naqueles mais próximos. Também na relação Cliente – Empresa, quando esta não caminha bem, a sociedade e o ambiente recebem seu impacto.
Tenho a impressão de que algumas poucas empresas já estão atentas ao fato de que, em algum momento, o cliente começará a se questionar sobre como elas extraem, produzem e distribuem seus produtos e serviços. Infelizmente, ainda, uma pequena quantidade começou a transformar esta percepção em algum tipo de atitude concreta. Tenho visto grandes empresas se protegendo legalmente dentro de toda a sua cadeia de fornecimento, produção e distribuição através de contratos, corresponsabilizando os parceiros de negócio em eventuais acionamentos jurídicos. Isso me parece suficiente para alertar as empresas terceiras sobre a importância de suas práticas diárias. A questão, porém, é que somente isso não é suficiente. No momento em que o barco afunda, não vai fazer muita diferença se você está na primeira ou na terceira classe. Estamos todos literalmente no mesmo barco!
Na prática muito se tem falado, mas ainda pouco se tem feito. Principalmente no Brasil, acredita-se que “o governo” irá resolver as coisas. Neste exato momento, isso me parece pouco provável de acontecer. Vejo que o momento é de autorresponsabilização – tanto por parte das empresas quanto dos clientes, para práticas de consumo cada vez mais sustentáveis. Da mesma forma que o cenário onde vivemos não foi construído da noite para o dia. O retorno a uma situação de sustentabilidade ambiental e social também não será produzido com muita velocidade. Assim como o Titanic, no momento, estamos em “velocidade de cruzeiro” em direção ao iceberg dos desastres ambientais cada vez maiores. O primeiro passo em um cenário como este é reduzir o passo para só então buscar um movimento de correção.
E como iniciar esta mudança de curso?
Para a empresa: existe um ótimo guia para melhores práticas de negócios e sociais que são as 17 metas globais. Veja, dentro de sua realidade, o que pode ser colocado em prática, ou como sua empresa pode contribuir com pelo menos uma delas. Ninguém conhece seu próprio negócio melhor do que você mesmo. Não espere o cliente dizer que quer produtos com menor impacto ambiental. Talvez ele até queira isso, mas certamente só você sabe como fazer mudanças dentro de sua empresa. Organize algum tipo de banco de dados e estabeleça metas e estratégias para criar laços cada vez mais estreitos com seus clientes. Em longo prazo este tipo de prática costuma gerar melhor resultado e redução sensível no custo de aquisição.
Além disso, a decisão de estabelecer melhores relacionamentos vai além da relação cliente-empresa; ela acaba naturalmente se estendendo para os funcionários e parceiros de negócios. Busque formas de mudar a máxima de contratos e a tão “malhada” parceria para verdadeiras relações sustentáveis e saudáveis com todos que a empresa se relaciona. Busque formas de avaliar o impacto que seus negócios geram na sociedade e aja positivamente a partir deste conhecimento.
Para o cliente: a prática do “Reduza, reutilize e recicle” é uma das melhores referências que tenho visto para dar os primeiros passos rumo a melhores práticas de consumo. Busque, sempre que possível, comprar produtos e serviços produzidos e oferecidos próximo de sua região, preferencialmente de empreendedores locais. Avalie, também, o impacto para suas finanças e a real necessidade de uma nova compra. Lembre-se que cada produto que você compra tem uma cadeia relevante por trás para que aquilo chegue até suas mãos. Se você tem afinidade com algumas empresas de sua preferência, procure ser colaborativo no consumo. Isto é, se algo não está bom e você sabe que pode ser melhorado, dê sua opinião através dos canais de contato da empresa. Seja corresponsável pela compra. As empresas são feitas de pessoas e, desta forma, naturalmente imperfeitas.
Leonardo Barci é presidente da youDb e co-autor do livro Mind The Gap – Porque o Relacionamento com Clientes vem antes do Marketing

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