Autor: Flávio Rocha
Os últimos dez anos podem ser considerados a década de ouro do varejo, pois vivemos um momento especialmente importante, em que o consumo se consolidou como o principal motor da economia e o varejo demonstrou o vigor necessário para atender a uma população disposta a comprar de tudo. Neste momento de transformação econômica e, sobretudo, social, pelo qual o Brasil vem passando, o varejo assumiu o papel de protagonista e ofereceu as respostas necessárias para atender a um aumento espetacular da demanda. Na visão de muitos analistas, nosso segmento comercial apenas foi beneficiado por um momento favorável, em que o poder de compra da população aumentou, e o governo decidiu estimular o consumo.
Pois nós enxergamos o cenário de uma forma diferente. Em nossa opinião, sem a capacidade que demonstramos em dar uma resposta positiva a esse fenômeno e sem os investimentos que todos nós realizamos nos últimos anos, nada disso teria acontecido. A verdade é que nenhum outro segmento da economia teve, nesse período que estamos vivendo, clareza de visão e capacidade de transformar desafios em respostas, como o varejo. É preciso que nós tenhamos a consciência dessa verdade para que possamos, diante do conjunto da sociedade, ter orgulho do varejo e sermos os defensores da importância econômica, social e política de nossa atividade empresarial. Nosso protagonismo não é consequência apenas do desejo de ver reconhecido o valor de nossa atividade. Ele é um fato real. Defino o que estamos vivendo não apenas como um bom momento, mas como uma revolução definitiva e irreversível. A Revolução do Varejo.
Trata-se da verdadeira revolução do século 21. Ela se desenvolve globalmente, de forma tão pacífica quanto irreversível e traz consigo os indicadores da melhoria da qualidade de vida da população de uma maneira geral. O aumento da capacidade de consumo faz com que as classes emergentes se fortaleçam como sujeitos nesse momento de mudanças. Senhoras e senhores, estamos diante de uma revolução econômica que, ouso dizer, é tão ou mais impactante na vida das pessoas quanto foi a Revolução Industrial da virada para o século passado. A Revolução do Varejo se sustenta sobre dois pilares principais: aumento da eficiência e combate à informalidade.
O cenário que se percebe hoje é distinto e bem mais positivo do que o anterior, traçado pela mesma McKinsey nos idos de 2004. O estudo de dez anos atrás avaliava os fatores que impediam o crescimento econômico e a expansão da economia formal do Brasil. Ele mostrava que mais da metade dos trabalhadores em nosso país sobrevivia de atividades consideradas informais. O estudo atual revela que, de lá para cá, a taxa de informalidade no emprego caiu quase 15 pontos percentuais. Como se vê, ainda há um longo caminho a ser percorrido no caminho da formalização total do mercado brasileiro. Mas o que se percebe é uma redução considerável desse problema que, no final das contas, funcionava como um freio ao crescimento das empresas dispostas a trabalhar dentro da formalidade. Era, como ainda é, um empecilho à concorrência sadia, travada dentro dos critérios de igualdade e transparência defendidos por todos nós.
Essa revolução pacífica e democrática de que estamos falando foi gerada por avanços tecnológicos, pela mudança nos hábitos de consumo e pela atuação incisiva de trabalhadores que se organizaram para coibir a informalidade. Também houve um extraordinário esforço por parte de companhias interessadas em aumentar a sua eficiência, sobretudo no chamado varejo de alta performance. Num mundo em que a informação se transformou no mais valorizado dos patrimônios, o varejo deixou de ser um simples canal de suprimento da sociedade. Ele passou a ser o detentor dos dados que nos permitem entender e decifrar o comportamento daquela que se consolida a cada dia como a principal figura de toda a cadeia produtiva. Sua excelência, o consumidor.
Por sua capacidade de recolher e processar um número maior de informações sobre hábitos, desejos e capacidade financeira do cliente, o varejo assumiu o papel de protagonista de todo o sistema capitalista. Na prática isso inverteu aquela situação na qual a indústria decidia o que produzir, e o comércio era um mero intermediário entre as fábricas e o consumidor final. Naquele momento, o comércio era o último vagão do comboio. Hoje não é bem assim e as empresas varejistas que souberam entender e utilizar as novas ferramentas tornaram-se as novas estrelas da constelação chamada mercado. Toda a cadeia de suprimentos passou a ser gerida pelo varejo. As empresas do nosso setor não pararam de melhorar o desempenho e de estimular o desenvolvimento de novas tecnologias.
Posso afirmar que estamos apenas no começo desse processo que, como já disse, é uma revolução. Ela definirá o ritmo e a intensidade do crescimento de nossa economia. Nosso país será tão forte e tão próspero quanto for a expansão de seu varejo. Tem sido assim no mundo inteiro desde que houve a inversão de posições à qual me referi. O varejo, é bom bater sempre nessa tecla, deixou de ser o agente econômico responsável pelo suprimento e passou a se encarregar pelo estabelecimento da demanda. Acredito que a Revolução do Varejo se fundamenta no fortalecimento de uma atividade predominantemente formal, ética, tecnologicamente equipada, estruturada e empresarial. No papel da locomotiva capaz de puxar a nova fase de desenvolvimento no Brasil. Um desenvolvimento marcado pela justiça social.
A Revolução do Varejo está permitindo o encontro do nosso povo com a real economia brasileira. Sem o pedantismo do economês nem a intermediação de representantes do Estado.
Flávio Rocha é presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)