Autor: Carlos Augusto Pires
O setor de varejo brasileiro vive um acelerado processo de mudança, o que equivale à abertura de boas oportunidades de negócio, mas apenas às empresas e grupos que se movimentarem rápido e que estão preparados para as especificidades de nosso mercado.
Em 2014, o Brasil promove a Copa do Mundo de Futebol, mas não são os animados fãs de futebol que estão transformando as ruas do país em uma espécie de “ONU”. Cada vez mais é possível encontrar pessoas falando espanhol, inglês e outras tantas línguas, o que mostra a face humanizada da maturidade econômica brasileira.
Passamos por uma profunda mudança social, que traz consigo oportunidades enormes para as empresas dos mercados de consumo. Estima-se que 35 milhões de pessoas vão ascender à classe média brasileira até 2014, somando-se aos 32 milhões que já se enquadraram nesse grupo social na última década. Esses novos consumidores têm amplo acesso a crédito barato e já demonstraram gostar de comprar.
Ao longo dos últimos anos, a valorização do real em relação às moedas estrangeiras, especialmente o dólar, fez despencar os preços de tablets, PCs, TVs e outros produtos. O PIB avançou 7,5% em 2010 e, embora o crescimento da economia tenha desacelerado ao longo de 2011, não há dúvidas de que o Brasil conquistou um lugar na mesa de negociações de alto nível da economia global.
Os recursos naturais disponíveis têm sido “garotos propaganda” do avanço da atividade econômica, liderado por empresas ávidas por compras. Mas as empresas do segmento de consumo, especialmente as varejistas do setor de alimentação, também se beneficiaram desse crescimento. As redes varejistas Casino, Carrefour e Walmart formam o grupo no país conhecido como “big three”, e a consolidação neste setor tem sido rápida.
Ainda existem oportunidades disponíveis, principalmente em setores não-alimentícios. Algumas redes norte-americanas e europeias, desde a Target até a Tesco, devem realizar grandes movimentos no Brasil, e certos players indicam que esses grupos podem já estar por aqui “reconhecendo o terreno”.
No entanto, as possíveis entrantes devem estar preparadas para eventuais perdas financeiras no início de sua incursão no país. O mercado consumidor brasileiro é generoso, porém difícil de ser conquistado. A tributação é punitiva. Aspectos logísticos estão melhorando, graças, em parte, aos preparativos para a Copa e para os Jogos Olímpicos de 2016. Todavia, os custos logísticos são equivalentes a aproximadamente 10% do PIB, e o transporte de bens até zonas rurais continua sendo uma tarefa árdua.
Alguns economistas se afligem em relação a uma possível bolha de crédito, e o número de brasileiros entrando no mercado habitacional gera certa preocupação. Mas o país conta hoje com estabilidade econômica e um governo que se recusou a interferir nos mercados – especialmente em relação ao varejo – e está fazendo grandes progressos na questão tributária, onde se percebe existir vontade política para a mudança. Para as grandes empresas e grupos do setor de consumo, a questão que fica não é quando investir, mas como fazê-lo.
Carlos Augusto Pires é sócio responsável pelas áreas de consumer markets Brasil e Audit-SP da KPMG.