Autor: Marcelo Marzola
Em outubro de 1996, pesquisadores do Joint Institute for Nuclear Research, na Rússia, observaram o elemento Ununoctium, formado a partir da colisão do elemento californium com o cálcio. Ununoctium é o centésimo décimo oitavo elemento conhecido da tabela periódica.
Se você faz parte do seleto grupo de seis bilhões de seres humanos que habita o planeta Terra, certamente acorda todos os dias com um peso de atlas sobre as costas pensando: o que eu tenho que fazer para me manter competitivo? Existem muitas respostas por aí, algumas falam de monges outras de queijos. A minha resposta é mais simples, mas, infelizmente, só pode ser dada em inglês: seja resourcefull. Em bom português, ser resourcefull é ter a capacidade de se virar. Porém, não é só porque esta palavra não tem uma boa tradução para o português que você não deve se preocupar com ela.
Você está diante de um problema e não consegue solucioná-lo. No entanto, sabe como encontrar a resposta adequada, sabe quem a tem ou onde ela está. Mas, é claro, só isso não basta. É preciso compreender, avaliar a consistência da informação, sintetizá-la e, finalmente, resolver o problema que está na sua frente. “Dê-me um computador com Google e te direi quem és”. O adágio auto-explicativo freqüentemente é seguido da citação “se não está no Google, não existe”.
A tecnologia amplificou o poder do ser humano “se virar”. Olhe para o mundo ao seu redor e note que a propriedade da informação está cedendo lugar ao acesso à informação e a capacidade de encontrá-la. Isto é meio caminho no conceito de resourcefulness – ter acesso à informação. Uma das características que vai, cada vez mais, distinguir um profissional bom de um excelente é o conhecimento dos recursos. Saber lidar com eles e não ter medo da tecnologia, saber escolher e filtrar a informação, saber condensá-la e apresentá-la de forma consistente. Tudo isso, muito, muito rápido.
Se por um lado o acesso à informação está mais fácil, por outro, a quantidade de informação de qualidade está aumentando exponencialmente. Quer uma prova de que será cada vez mais difícil saber tudo? Você se lembra da tabela periódica das aulas de Química? Bem, se você está na casa dos 30 anos de idade vai se lembrar dela com cerca de 109 elementos. Pois bem, hoje já são 118 e, em mais alguns anos, esse número aumentará para cerca de 135 elementos. A má notícia é que a Ciência ainda não sabe se o cérebro acompanhará este crescimento do volume de informação, já que o nascimento de novas células cerebrais (neurogênese) se encerra no início da vida adulta. Essa notícia não é tão desanimadora se você levar em consideração que o cérebro precisa ser treinado, e que ainda estamos muito, mas muito, aquém do potencial de utilização da massa encefálica.
Então, se de um lado o importante é o acesso e não a informação em si, e do outro, a massa da informação gerada que aumenta exponencialmente, acho que posso desligar meu cérebro e não pensar em mais nada. É inevitável, portanto, o questionamento: estudar para quê, se o importante é o acesso à informação? Porém, nunca, em hipótese alguma, pense nisso!
O ponto de maior relevância para qualquer pessoa com acesso a uma grande quantidade de informação é o discernimento. Com o acesso a múltiplas fontes de informação, será cada vez mais importante que se consiga saber o que é verdadeiro e o que é falso. E como fazer isso? Claro que com o bom e o velho discernimento. E o que constrói discernimento? Conhecimento. A resposta é simples e mostra que essa receita do conhecimento, velha conhecida de todos nós, ainda vai perdurar mesmo na era da informação. Se você parar de estudar, parar de aprender e achar que, por ter acesso a toda informação não precisa se preocupar em aprender mais nada, você está redondamente enganado. Pior, estará fora da lista de competidores.
Não desista! Você não deve se tornar uma pessoa chata, desinteressante e sem nenhuma resposta na ponta da língua. Exercite seu cérebro, mas tenha consciência de que será cada vez mais difícil saber tudo. Saber o “como saber” será mais fundamental a cada dia.
Marcelo Marzola é diretor-geral da Predicta.