Há dois anos a Shopper Experience conduz uma pesquisa para identificar os hábitos de consumo das Panks, sigla para Professional Aunt no Kids, que são consideradas como tias especiais – consumidoras responsáveis por um consumo não convencional que tem aquecido o mercado de luxo nos Estados Unidos, Europa e também no Brasil. Na edição do ano passado, a empresa detectou que essas mulheres, das classes A e B, têm entre 30 anos e 45 anos e, geralmente, são profissionais bem-sucedidas. Mais do que brinquedos, as Panks brasileiras têm investido em experiências, emoções, momentos felizes.
A pesquisa revela ainda que a tendência promove uma revolução no consumo de luxo voltado ao público infantil. A edição 2014 do estudo mostra que houve uma “tropicalização” do movimento, ou seja, há diferenças sutis entre as “tias” brasileiras e as norte-americanas e europeias. “Uma subtendência identificada na edição deste ano é o interesse em presentear com experiências, algo que não é tangível, mas que vai deixar emoções e memórias alegres. Pagar um curso de equitação, levar a criança para esquiar, custear um curso de férias ou degustar o menu de um restaurante temático estão entre as experiências eleitas das tias nacionais”, afirma Stella Kochen Susskind, presidente da Shopper Experience e coordenadora da pesquisa.
No Brasil, a Shopper Experience concluiu, em junho, a nova edição da pesquisa inédita com 3.300 clientes secretas. Do total de entrevistadas, 1.221 mulheres não têm filhos, sendo que desse universo, 87% compram artigos infantis caros com frequência: 75% mensalmente; 16% semanalmente e 9% duas vezes por semana. Em um país tradicionalmente católico, as Panks nacionais são madrinhas – embora presenteiem irmãos mais novos, enteados, filhos de amigos e sobrinhos “de sangue” e de consideração. Já um estudo feito nos Estados Unidos, publicada pelo jornal The Washington Post, mostra que 50% das norte-americanas com até 44 anos não têm filhos. Na prática, essas consumidoras são criativas ao presentear os filhos das amigas e os sobrinhos – de sangue ou não.
Segundo Stella, as consideradas tias glamurosas – norte-americanas, brasileiras e europeias, comprometidas a desenvolver uma forma diferente de se relacionar com o consumo e com os sobrinhos, constituem uma oportunidade de negócio e a mudança de um paradigma social. “No Brasil, a tendência ainda não despertou a atenção de gestores de marcas e produtos, embora o país já conte com uma legião de Panks. O último Censo do IBGE mostrou que entre as brasileiras que estão prestes a completar 50 anos, fim do ciclo reprodutivo, o grupo que chegou a essa idade sem filhos aumentou 20% na última década; as estatísticas mostram ainda que entre as brasileiras com curso superior pouco mais de um quinto não querem experimentar a maternidade. O número de famílias brasileiras sem filhos cresce mais do que as com crianças”, analisa. Ela ressalta ainda a importância de atender corretamente essa consumidora. A executiva acrescenta que as grifes de luxo voltadas para crianças e adolescentes investem em uma comunicação para conquistar mães, pais e avós, além do próprio consumidor final – mas, não se comunicam com as Panks.
Por outro lado, as entrevistadas se mostraram satisfeitas com o atendimento prestado pelos vendedores. Nenhuma deles informou ter sofrido discriminação, sobretudo as com mais de 40 anos, por serem solteiras e não terem filhos. “Considero uma verdadeira revolução comportamental! É claro que sabemos que ainda existe muito preconceito com as mulheres que optaram por não ter filhos, mas a pesquisa mostra que a educação e polidez imperam. E as vendas prosperam com essa nova postura das equipes do varejo”, afirma.