Aceita cheque, aí?

Segundo último levantamento do indicador nacional da Boa Vista Serviços, o número de cheques devolvidos foi de 1,99% em julho de 2013, mostrando alta em relação ao mês anterior, quando essa proporção atingiu 1,93%. O estudo mostra que os consumidores ainda se endividam com um meio de pagamento que pode ser um forte instrumento de crédito, uma vez que carrega as propriedades dos financiamentos.
De acordo com Flávio Calife, economista da Boa Vista Serviços, embora o número de devoluções dos cheques no mês de julho não seja tão alto, o que se esperava esse ano é que houvesse queda.  O executivo explica que os dados revelam um setor, o qual vem se mantendo no mesmo patamar do ano passado e, outros meios de pagamento superam os níveis de inadimplência.  “Os meios de pagamento que mais apresentam portadores inadimplentes são cartão de crédito, o qual aparece em primeiro lugar, 28%, em seguida, os boletos, 27% e, em terceiro lugar o cheque, totalizando 18% dos “maus pagadores”, diz.
Dentre os endividados com cheques, Calife explica que muitos podem contrair dívidas com o parcelamento, o conhecido, “pré-datado”, um meio de financiamento muito utilizado em épocas de crise – fato que evidencia a importância de do instrumento, como crédito. “Em momento de crédito escasso, que está mais difícil de tomar recursos emprestados, em que os juros estão mais altos, o consumidor pode utilizar o cheque, também, como forma de financiamento” diz. Ainda de acordo com o economista, o alto número de consumidores deste tipo de empréstimo, pode ter sido a causa do aumento do número de inadimplentes. “De janeiro a julho foram 500 milhões de cheques compensados, mais os devolvidos – um número significativo, o que talvez seja uma das causas do aumento recente do número de cheques devolvidos”, completa.
E quais são as melhores práticas que as recuperadoras podem tomar ao lidar com este tipo de dívida? Segundo Donato Stillo Junior, diretor de cobrança da Intervalor, a principal dificuldade é não ter uma garantia real atrelada à recuperação do crédito quando utilizado este meio de pagamento. “É importante ressaltar que a emissão de cheque sem fundo acarreta a inclusão do nome do emitente no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), impedindo o recebimento de um novo talonário de cheques, e, além disso, a emissão de cheques sem provisão de fundos de forma deliberada é considerado crime de estelionato”, diz. Para o executivo, é importante que as empresas utilizem estes argumentos no momento da cobrança, enfatizando  ao inadimplente a importância da regularização da dívida.
Dentre as estratégias que as recuperadoras podem utilizar, a diretora de recuperação da Telecheque, Dirlene Costa, explica que as melhores práticas incluem gestão de pessoas, tecnologia e de processos. “A primeira questão é que hoje não se cobra mais como antigamente, no mercado de autoendividamento você precisa tratar e treinar a sua equipe para serem negociadores”, diz. “Eles [os negociadores] precisam ser bons ouvintes, entender a necessidade e o momento em que esse devedor está e fazer a melhor proposta para que ele consiga te pagar, essa é uma prática eficiente”, completa. Ainda segundo a executiva, as ações mais assertivas estão nas ferramentas de análise do crédito, incluindo os modelos estatísticos – seja na concessão, como também na recuperação do crédito pós-inadimplência. 
Acompanhe as entrevistas com os especialistas: 
Para diretora de recuperação da Telecheque, os consumidores são melhores administradores com os cheques
Quando o assunto é cheque, a principal dificuldade é a falta de garantia real da recuperação do crédito
Se bem utilizado, o cheque pode ser um eficaz instrumento de crédito

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