Crédito para educação: quem paga essa conta?

Autor: Eduardo Tambellini
A educação deve ser entendida como o principio básico de tudo em uma nação. A melhor educação e formação gera redução de inúmeros custos, sem falar em cuidados para saúde e qualidade de vida. O brasileiro, porém, não tem de fato esta questão como uma das prioridades quando o assunto é pagar por isso!
O modelo do FIES, que sucumbiu em meados de 2015, já nasceu com diversas interrogações, entre as mais relevantes está o como subsidiar um montante financeiros por pelo menos quatro anos e com um juros de 3,4% ao ano em um país – onde o juros mensais são acima dos 10%.
Fato é que as IES, Instituições de Ensino Superiores, não deram muita atenção se o modelo era ou não sustentável, e resolveram surfar a onda, tanto que de 2010 até 2014 o número de novos contratos do FIES cresceu nove vezes.
Quando em 2015, o país percebeu finalmente que a conta não iria fechar, as IES acenderam o sinal ´amarelo´, e começaram a repensar a vida pós FIES. Muitas tentaram avaliar alternativas de um crédito próprio ou um modelo hibrido com instituições financeiras. O fato é que, a partir das mudanças do novo FIES, o ano de 2016 trouxe inúmeros desafios.
O primeiro problema, encontrado em 2016, passa que a captação de alunos – segundo levantamentos da GoOn – está em torno de 70% da captação de 2015. Este não é só um problema da captação de novos alunos, os Veteranos também vem demonstrando dificuldades e não estão renovando a matrícula.
A projeção é de um achatamento no EBTIDA das IES já que, a  mensalidade média deve crescer ligeiramente abaixo da inflação devido as campanhas e ações que as instituições estão fazendo para captar e manter os alunos, frente aos reajustes de custos do corpo docente e frente ao aumento da inadimplência, que em 2015 mais que dobrou.
Uma das alternativas é a oferta de bolsas que podem chegar até 50% por um semestre pra manter os alunos. Esta conduta pode parecer uma solução imediata, porém pode gerar problemas a médio e longo prazo, declarando uma guerra de preço e impactar todo o setor, já tão abatido pelas mudanças do FIES e pela crise econômica.
As grandes perguntas são:  Será que os alunos que ficarem serão bons pagadores? Como ficará a inadimplência em 2016?  Nos últimos Fóruns que a GoOn participou, temos observado uma evolução em 2015 de cerca de 4% para 9%. O setor de educação acompanha os demais setores, ou seja, quando a inadimplência aumenta as IES recebem um forte impacto, e nesta hora o pagamento da educação, acaba sendo uma das últimas prioridade de pagamento do cidadão brasileiro.
O caminho das bolsas precisam ser bem direcionadas para um público que tenha uma probabilidade de evasão menor, para garantir a rentabilidade da turma que foi aberta. A Educação é uma questão social, mas o FIES não está cumprindo seu objetivo. Atualmente, algumas IES tem mais de 50% dos alunos ficando com FIES não simplificado, ou porque o aluno não pagou os juros do governo, ou porque teve uma mudança de rendimento entre outros fatores. Quem paga essa conta? As IES, que deve decidir se matricula o aluno independentemente da liberação do governo. E se o governo travou o financiamento do aluno por falta de pagamento dos juros. Resta então uma alternativa que já teve o papel fundamental em muitos segmentos de mercado em nosso país: o crédito!
O Crédito é uma alternativa, porém a demanda por este tipo de financiamento é baixa, existe muita incerteza por parte dos alunos e das instituições de ensino. O custo do dinheiro, no momento, é muito alto e um plano tão longo (4 ou 5 anos) inviabiliza a operação tanto para o aluno quanto para a IE. O jeito é pensar em um modelos híbridos e para isso, a segmentação da carteira dos alunos e uma estratégia diferenciada e com certeza pode trazer resultados muito interessantes para ambas as partes.
Além disso, a Gestão de Risco no  negócio de crédito, é uma exigência fundamental para que atua no mercado de crédito e requer uma ciência e técnicas de modelagem estatísticas para a qual a grande maiores das IES não estão preparadas, seja porque não possui uma estrutura de dados para viabilizar os estudos analíticos, ou porque não tem equipe de crédito e cobrança focada nas estratégias.
Vale ressaltar que são nos momentos de crise que surgem as grandes oportunidades de crescimento e evolução. Não seria hora então do segmento de educação superior buscar sua independência do crédito subsidiado pelo governo. Esta não é uma tarefa fácil, porém o mercado de crédito já evoluiu em segmentos financeiros, Varejo, Cartões e sem dúvida tem potencial para promover a verdadeira Pátria Educadora.
Eduardo Tambellini é sócio diretor da GoOn.

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