No mês de dezembro, o volume de consumidores com contas em atraso cresceu 3,45% frente ao mesmo período de 2013, segundo dados do Indicador de Inadimplência calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Trata-se do menor crescimento apresentado para os meses de dezembro, desde o início da série histórica, revisada em 2011. Os números de dezembro mostram que a inadimplência do consumidor cresceu em um ritmo menos intenso, após o pico registrado no mês de agosto, quando a variação havia ficado em 5,09%. A partir desses números o SPC Brasil estima que aproximadamente 54,5 milhões de consumidores terminaram o ano de 2014 com restrições no CPF por não terem quitado dívidas.
Os dados na comparação com novembro de 2014, sem ajuste sazonal, também mostram a inadimplência em queda no mês: o recuo foi de 0,94%. Esta queda confirma as expectativas do SPC, por conta de um comportamento típico deste período do ano: a injeção de capital extra com o pagamento do 13º salário e incremento de vagas temporárias no mercado de trabalho favorecem o pagamento das dívidas.
Segundo os economistas, embora os dados de menor crescimento na comparação anual sejam interpretados aparentemente como números positivos, o crescimento da inadimplência num menor ritmo tem como causa principal a baixa atividade econômica do país e a maior seletividade na concessão de crédito. Para o SPC Brasil, os bancos e os estabelecimentos comerciais passaram a conceder menos crédito, fato que tem como consequência a redução dos riscos de calotes nas compras parceladas. “As vendas de itens essencialmente ligados a crédito, como móveis e eletrodomésticos, veículos e materiais de construção têm apresentado franca desaceleração, desde o início de 2013”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
“Os dados foram fortemente influenciados pela perda de dinamismo da economia brasileira, que deve apresentar crescimento próximo de zero no fechamento do ano. O cenário adverso afetou os indicadores de emprego e da confiança do consumidor e dos empresários. Soma-se, ainda, as taxas de juros em patamar elevado ― inclusive com retomada do ciclo de alta em novembro ― e a inflação resistente, que flertou com o teto da meta ao longo de todo o ano de 2014, limitando o poder de compra dos consumidores”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
De acordo com o indicador do SPC Brasil, cinco em cada dez dívidas pendentes (46%) entre pessoas físicas no país têm como credor algum banco ou instituição financeira. A segunda maior representatividade fica por conta do comércio, que concentra 21% do total de dívidas não pagas, seguido pelo setor de comunicação (16%) – que engloba serviços de internet, televisão e telefonia. Os débitos com as empresas concessionárias de serviços básicos como água e luz representam 7% das dívidas não pagas no Brasil. Os demais setores juntos somam 10% das contas pendentes.
Apesar da menor representatividade no total de dívidas em atraso no mês de dezembro, foram justamente os setores de comunicação (16%) e de água e luz (7%) que apresentaram o maior crescimento na variação anual na quantidade de dívidas. Para a economista-chefe do SPC Brasil, o resultado é reflexo de uma tendência crescente entre as concessionárias em negativar os consumidores inadimplentes. “É uma forma de receber o débito mais rápido, antes da suspensão do serviço”, explica.