Segundo pesquisa da Finanzero, esta é a primeira vez, em dois anos, que elas correspondem pela maior parcela dos pedidos
O cenário entre as pessoas que mais solicitam empréstimo está mudando. Segundo o Índice FinanZero de Empréstimo (IFE), pela primeira vez, em 24 meses, a maior parcela do público que pediu crédito pessoal dentro da plataforma da fintech foram mulheres, com idade média de 34 anos, que corresponderam, sozinhas, por cerca de 50,2% do total de solicitações feitas no último mês de julho.
Na avaliação de Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, “à medida que o perfil apresenta alterações, também é possível observar essas mudanças na economia do país. Com famílias endividadas, o mês com orçamento desequilibrado e o desemprego que ainda bate na porta, brasileiros têm precisado mudar seus hábitos e prioridades. Os últimos anos em pandemia evidenciou disparidades sociais, levando muitas pessoas, principalmente mulheres, a optarem por trabalhos informais ao ver a renda familiar cair. De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, em julho, 80% das consumidoras tinham contas a vencer. Em janeiro, eram 72%”.
Empreendedorismo e crédito pessoal
De acordo com Rodrigo, a realidade de mais mulheres estarem solicitando empréstimo também pode ser observada em conjunto com o fato de que muitas delas tiveram que optar pelo empreendedorismo por necessidade nesse período pandêmico. A dificuldade de se realocar no mercado de trabalho com carteira assinada junto à necessidade de complementar o orçamento mensal são fatores que intensificam esse crescimento nos pedidos.
Ele cita uma pesquisa feita pela Closeer, plataforma de freelancers, segundo a qual 70% desses profissionais no Brasil hoje são do gênero feminino. Dessas, 54% dizem que o motivo da atividade é para aumentar a renda. “Além do empreendedorismo por necessidade, elas têm visto na solicitação de empréstimos uma saída provisória e mais rápida para saírem do vermelho e conseguirem quitar dívidas em atraso, ou, até mesmo, fazerem uso desse crédito com a finalidade de abrir um negócio próprio para gerar ou complementar o rendimento mensal”.
Para o executivo, “esses dados justificam o aumento dos pedidos de empréstimo para sair do vermelho. Isso porque, nos últimos meses, com a elevação da inflação, as pessoas utilizaram o cartão de crédito e o cheque especial para consumo de itens básicos e rotineiros. Agora, com uma recuperação de renda, as pessoas tendem a procurar por créditos com taxas de juros mais baixas, para quitar dívidas contraídas anteriormente.”
Fonte de sustento para as famílias
Rodrigo lembra que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, 2020, o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25% em 1995 para 45% em 2018. Entre o período de 2014 e 2019 estima-se que quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período, por conta da crise econômica.
“Sejam solteiras ou casadas, mais mulheres estão assumindo o posto de ‘chefe de família’ e ficando com a maior parte de responsabilidade financeira da casa, equilibrando o dia a dia entre afazeres domésticos e obrigações do trabalho. Com 29% das famílias endividadas, segundo a CNC, levantamento feito em julho deste ano, somente uma fonte de renda não é suficiente para suprir todas as necessidades básicas e financeiras”.