Crescimento, mas com ressalvas



Em entrevista exclusiva ao Portal Crédito e Cobrança, Milcíades Morais, professor de finanças da Faculdade IBS/FGV, fala sobre a expansão do crédito no Brasil e faz uma radiografia geral do setor, com previsões e dados que fundamentam o momento da economia nacional e apresenta perspectivas futuras para as instituições financeiras.

 

Qual é o panorama geral do atual mercado de crédito no Brasil?

O crédito bancário no Brasil apresentou nos últimos anos uma extraordinária expansão, passando de 25, 8% do PIB, em 2011, para 50,1%, em 2012. A expansão de crédito foi de 94%, enquanto o PIB cresceu apenas 41%.Entre 2003 e 2011, o crédito para as pessoas físicas apresentou uma expansão média de 21,8% ao ano, ou seja, três vezes o crescimento da massa salarial.

 

É possível afirmar que se trata de um mercado com boas perspectivas de expansão?

Sim, porque o endividamento brasileiro de 50,1% do PIB é baixo, se comparado aos padrões internacionais, que é de 75% ou mais.

 

Podemos então entender como um crescimento pontual ou em ascensão?

Crescimento em ascensão, devido à baixa dos juros, ao parcelamento facilitado e também ao percentual de endividamento, que para alguns especialistas é baixo.

 

Como o senhor avalia tal expansão do crédito no Brasil?

Avalio com cautela, pois estamos crescendo, em média, 21% ao ano, nos últimos nove anos, ou seja, três vezes o crescimento da massa salarial. Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas, com pesquisa amostral feita em sete capitais brasileiras, constatou que 9% das dívidas estão com atraso superior a 30 dias, percentual que atinge 19% das classes mais baixas. A mesma pesquisa evidencia que 48,5% dos brasileiros desrespeitam o princípio basilar de finanças, pois gasta mais do que ganha. A avalanche de oferta de crédito que ocorre sistematicamente pode prejudicar a economia familiar e, dependendo de sua dimensão, a economia do país.

 

Quais os reflexos da expansão do crédito para a economia brasileira?

Hoje 23% da renda líquida do brasileiro são utilizados no pagamento do serviço da dívida, ou seja, sua renda líquida é 77%. Há, portanto, uma queda do poder de compra das pessoas, sendo essa uma das causas do baixo crescimento atual da economia. Nesse momento, é uma situação sem volta: se o governo diminuir a expansão do crédito, a economia irá piorar, haverá aumento de desemprego e de inadimplência, além de outras conseqüências. Paradoxalmente, a massa salarial vem crescendo, o que pode ajudar a reverter essa situação.

 

Que oportunidades se apresentam para as empresas do setor perante a expansão do crédito no País?

A lucratividade dos bancos está caindo por causa da queda das taxas de juros, mas com a expansão do crédito, que deve aumentar ainda mais no ano que vem, pode haver maior lucratividade. Vale lembrar também que estamos com  níveis recordes de inadimplência.

 

Existem pontos negativos no crescimento do crédito no País?

O uso de crédito não aumenta a renda dos consumidores, apenas transfere do futuro para o presente a capacidade de consumir. No futuro terá que ser pago o principal do empréstimo acrescido de juros.Ganhos e gastos não necessitam ser iguais no mesmo momento, mas se houver mais gastos no presente, no futuro os gastos serão necessariamente menores que os ganhos.

 

Que tipo de infraestrutura e quais instrumentos podem agilizar e oferecer mais segurança nas operações de crédito?

– Equipe treinada e experiente;

– Disponibilidade de ferramentas específicas de auxílio nas operações de crédito (sites de pesquisa, sistemas de busca e confirmação de informação);

– Informações creditícias (cadastros de restrições – Serasa,SPC,CDL);

– Sistemas de digitalização e fotos de clientes (inibir fraudadores);

– Qualidade de decisão;

 

Se pensando em futuro, o que vem por aí?

O setor pode esperar um ritmo acelerado para 2013 e para os próximos dois anos, pois a expansão do crédito tende a aumentar pelos motivos já expostos nas questões anteriores.

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