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O cenário é de expansão



Autor: Fabrício Winter

 

Para analisarmos o mercado de crédito brasileiro, faz-se necessária uma separação entre crédito ao consumidor, pessoas físicas, e crédito para empresas, pessoas jurídicas. Analisemos primeiramente o crédito à pessoa física.

 

Apesar das diversas notícias ressaltando aumento nos riscos de crédito ao consumidor, podemos observar que em geral a inadimplência em 2012 está muito próxima dos índices de 2011, entre 8% e 8,5%, sendo que o aumento ocorreu realmente entre 2011 e 2010, quando fechou em 8,3% contra 7,0%, respectivamente. Com esta perspectiva, o panorama ainda é muito positivo, mesmo com o crédito ao consumidor crescendo em um ritmo abaixo dos anos anteriores, 18% contra 22%, mas dentro de um quadro estável de inadimplência.

 

Alguns setores demonstram maior esgotamento, caso de veículos, crédito direto ao consumidor – CDC, e crédito pessoal.

 

CDC é uma modalidade em desuso, devido à substituição pelo parcelado sem juros no cartão, e vem de um histórico de queda livre nos últimos anos para um pequeno crescimento, cerca de 2%, nos últimos meses, graças a novas investidas dos bancos em parceria com credenciadores e varejistas.

 

Já o crédito pessoal vem diminuindo seu ritmo de crescimento, principalmente:

 

– Pelo esgotamento do crédito consignado, que possui grande concentração no setor público e vem em processo de saturação, cresceu mais de 30% em 2010 e deve fechar 2012 com menos de 15% de aumento;

 

– Pela quase extinção das financeiras de rua, que ofertavam crédito com poucas garantias e cobravam juros exorbitantes em troca, modelo que não se mostrou sustentável, nem para o consumidor, nem para os bancos que estavam por trás das financeiras.

 

Destas três modalidades, veículos é a mais crítica, mas está longe de representar algum risco para a economia como alguns já chegaram a afirmar. Em 2010, no auge da oferta de crédito para veículos, com planos de até 84 meses de financiamento, o crescimento desta modalidade chegou próximo a 50% ao ano em alguns meses. Hoje, com as mudanças na política das financeiras, maior entrada, menores prazos, este ritmo está em torno de 10% a 12%, bem mais compatível com a realidade do mercado e capacidade de endividamento do consumidor. A inadimplência cresceu muito se compararmos os níveis do início de 2011, 2,6%, com os atuais, em torno de 6%, mas é apenas um reflexo dos períodos de ampla oferta e deve voltar a cair com o tempo.

 

Mesmo com os destaques negativos acima, as perspectivas para o crédito ao consumidor em 2013 são muito positivas, tendo em vista:

 

– Crescimento na oferta de crédito imobiliário, que ancorado pelas medidas de estímulo do governo deve fechar 2013 com crescimento em torno de 35%;

 

– Diminuição na inadimplência, principalmente no segmento Veículos, tendo em vista o esgotamento de safras antigas e renovação do estoque, renegociações efetuadas por bancos juntamente com créditos novos de maior qualidade, garantias maiores, financiados com melhores escores;

 

– Manutenção da taxa Selic em patamares inferiores;

 

– Momento da economia brasileira, propício a novos investimentos com os eventos que acontecerão nos próximos anos, como a Copa do Mundo e as olimpíadas;

 

– Participação do crédito ao consumidor em relação ao PIB ainda em patamares baixos. Deve atingir 25% do PIB ao final deste ano, patamar baixo quando comparado com outros países.

 

Na contramão, existem características do crédito ao consumidor no Brasil que diminuem o potencial para um maior crescimento; são eles:

 

– Os consumidores alcançam seu limite de contratação de dívidas num patamar relativamente pequeno de endividamento, em função da maior participação de linhas de crédito com prazo curto e custo elevado, CDC, cheque especial, crédito pessoal, etc.

 

– No que tange especificamente ao custo elevado, os principais drivers deste círculo vicioso são: Comissões a lojistas e revendedores de veículos; Comissões a pastinhas no crédito consignado; Impostos; Compulsório pago pelas instituições financeiras; e Custo do “risco de crédito” em função da inexistência de um cadastro positivo operacional. Mesmo que já esteja devidamente regulamentado, levará algum tempo para que as empresas possam formar e compartilhar suas informações, gerando assim algum efeito para o mercado.

 

Em função dos pontos expostos acima, a tendência é que o crédito ao consumidor diminua seu ritmo de crescimento, mas continue crescendo por um longo período. Esperamos atingir ao final do próximo ano um saldo de crédito de R$ 1,3 trilhão no crédito a pessoa física, crescimento de 16% sobre 2012, atingindo 27% do PIB. Esta expansão é muito importante para a economia brasileira, pois alavanca o consumo interno e alimenta seu motor, o setor produtivo, comércio, emprego, renda e educação.

 

Sobre o crédito a pessoas jurídicas, há uma complexidade muito maior, pois depende diretamente das políticas do governo para equilibrar a balança comercial e estimular o setor produtivo. Hoje podemos observar uma pequena queda no ritmo de crescimento anual. Em dezembro de 2011 tínhamos 17,4% de crescimento sobre o mesmo período do ano anterior, em setembro de 2012 este ritmo estava em 14%. A inadimplência neste período apresentou uma ligeira alta, de 3,5% para 4,0%. Houve um claro movimento dos bancos em aumentar as exigências, principalmente nas linhas de crédito para varejistas, acompanhando o movimento do crédito ao consumidor, levando assim muitas empresas a aumentarem seu custo de captação de recursos, seja pelo aumento nas taxas cobradas pelos bancos em linhas já existentes ou pela migração das empresas para linhas de crédito mais caras.

 

Com os grandes eventos esportivos no horizonte, deve haver uma melhora neste cenário nos próximos anos, e acreditamos que já em 2013 ocorra um aumento no ritmo de crescimento, levando a participação do crédito PJ sobre o PIB dos atuais 27% para 31%.

 

Fabrício Winter é consultor da Boanerges & Cia.

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