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Cesare Rollo Iacovone, fundador e CEO da Destrava Aí

Desafios das garantias mais utilizadas para a oferta de crédito entre empresas 

Com a evolução do mercado financeiro, o crédito com garantia em recebíveis de cartões é uma alternativa que vem ganhando cada vez mais popularidade 

Autor: Cesare Rollo Iacovone

O Brasil é um dos países mais complexos para ofertar crédito, principalmente se os tomadores são pequenas e médias empresas, que necessitam de capital de giro para inovar e até para sobreviver. Segundo o Serasa Experian, 6,53 milhões de companhias estavam inadimplentes no país no primeiro semestre de 2023. Para atender essa enorme demanda,  bancos, fintechs e outras empresas credoras têm desafios estruturais de aprovação nas políticas de crédito e encontrar bons pagadores, garantindo o fluxo completo de concessão, gestão de portfólio, cobrança e originação de novos empréstimos. 

Com essa perspectiva, para financiadores, a maior dificuldade é analisar o risco das operações devido a ausência de informações estruturadas sobre essas empresas – pequenas e médias – que precisam de linhas de crédito . Neste sentido, o Banco Central do Brasil tem dialogado com o mercado e implementado uma série de inovações e melhorias que contribuem com o fortalecimento do setor como um todo.

Além do Marco de Garantias, que avançou significativamente em 2023, outros movimentos devem avançar agora em 2024, como a digitalização de recebíveis, que otimiza a redução da inadimplência e a dos juros a todo o sistema. Vale ressaltar o estudo publicado pelo próprio Banco Central em Set/2022 (Creditor Rights and Bank Competition, escrito por Dimas Mateus Fazio e Thiago Christiano Silva, com análise dos dados do SCR – Sistema de Informações de Crédito) que prova a relação direta entre fortalecimento do uso de garantias e aumento da concessão de crédito.

Diante desse contexto, é crucial que o credor conheça os diferentes tipos de garantias disponíveis para crédito de empresas. As mais utilizadas são imóveis, automóveis, estoques, e recebíveis (cartões e duplicatas). Cada uma tem suas particularidades, mas o financiador que busca conceder mais crédito via o uso de garantias precisa entender a dinâmica competitiva (“tenho um diferencial para essa linha de negócios?”) e os desafios de execução de cada uma delas (“quanto tempo e/ou dinheiro preciso investir para que o ativo vire liquidez?”).

A garantia com imóveis é quando o tomador do crédito oferece um bem imobiliário ao credor, proporcionando segurança, pois caso o acordo não seja cumprido, a instituição que concedeu o crédito tem o direito de tomar posse do imóvel para recuperar o valor emprestado. Este tipo de garantia geralmente resulta em taxas de juros mais baixas, devido à menor exposição ao risco. Apesar de ser uma garantia sólida, a execução da mesma não é trivial e pode gerar desafios para o financiador. Para mencionar alguns dos principais desafios: primeiro, existem desafios para tomar posse efetiva do bem; em seguida, uma vez que  o bem esteja em posse do credor, existe o desafio de convertê-lo em dinheiro.

A disponibilização de bens automóveis para empréstimos segue o mesmo conceito. Nesse modelo, os veículos são oferecidos como colateral, proporcionando ao credor uma garantia tangível. Essa opção é especialmente relevante para empresas de transporte e logística. A desvantagem ao credor está na possível depreciação dos veículos ao longo do tempo, além dos casos de fraude que são mais frequentes com esse tipo de ativo.

Já o empréstimo com garantia em estoque é para empresas que possuem um volume significativo de mercadorias. Nesse cenário, o valor do estoque é avaliado e serve como colateral para o empréstimo empresarial. A desvantagem é que, em casos de desvalorização ou obsolescência do estoque, a empresa pode enfrentar dificuldades. Além disso, o credor não é um varejista, sendo assim, é possível que o estoque não tenha a liquidez esperada no momento de sua liquidação. No entanto, essa forma de garantia oferece flexibilidade para negócios que operam em setores com flutuações sazonais.

Vale também citarmos as garantias “inovadoras”, ou seja, que surgiram nos últimos anos, fruto de startups que trabalham com o tema. Dois exemplos são smartphones e placas solares. Essa modalidade funciona quando o empresário oferece esses equipamentos como garantia em um contrato de empréstimo. O ponto sensível é a depreciação de equipamentos e das peças por conta do uso, além do desafio de reaver os ativos para dar liquidez às garantias, sobretudo no caso de smartphones.

Com a evolução do mercado financeiro, o crédito com garantia em recebíveis de cartões é uma alternativa que vem ganhando cada vez mais popularidade dado sua presença abundante em empresas de todos os portes.  Nesta modalidade, as transações realizadas por meio de cartões de crédito ou débito – os recebíveis de cartões – são utilizados como garantia para o empréstimo. Para o credor, essa prática representa uma forma mais segura de concessão de crédito, uma vez que os recebíveis futuros servem como uma garantia tangível, que é a melhor garantia no quesito liquidez (afinal, para converter recebíveis em dinheiro basta esperar pela sua liquidação). 

Independente da garantia escolhida pelo credor, as movimentações deste mercado alimentam outros setores da economia como o de infraestrutura financeira. Cada vez mais as empresas especializadas em prover infraestrutura de gestão de garantias para as operações de crédito ganham espaço neste ecossistema, pois ajudam no aumento da concessão e da recuperação de crédito permitindo que  fintechs, gestoras de investimentos (FIDCs), bancos e outros foquem no core de seus negócios.

Cesare Rollo Iacovone é fundador e CEO da Destrava Aí.

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