Autor: Ênio Meinen
De longa tradição e consistente evolução, o cooperativismo financeiro, cujo modelo se distingue por sua simplicidade, sustentabilidade e seu humanismo, já marca importante presença na atividade bancária ao redor do mundo, especialmente pelo protagonismo na inclusão financeira de considerável parcela de cidadãos e pequenos empreendedores nos cinco continentes.
Na Europa, onde tudo começou em meados do Século XIX, a relevância das instituições financeiras cooperativas nos sistemas financeiros locais, inclusive como agentes reguladores de mercado, manifesta-se especialmente em países como a Alemanha (país-berço) e França. No primeiro caso, cerca de 20% do PIB financeiro está sob a gestão de cooperativas, que são as responsáveis por suprir as operações e os serviços de natureza bancária de um quarto da população alemã. Na França, por sua vez, nação com a maior participação relativa, o cooperativismo financeiro serve em torno de 40% dos cidadãos e empreendedores e é líder absoluto no sistema bancário do país.
Já no continente asiático, China e Japão são a referência. Estima-se que 200 milhões chineses se beneficiem da solução cooperativista, ou seja, o equivalente a uma população inteira do Brasil. Trata-se do maior contingente de cooperados em um único país. No segundo caso, pelo menos 10% dos japoneses elegem as cooperativas financeiras como suas provedoras de produtos e serviços bancários.
Os Estados Unidos igualmente mostram um cooperativismo financeiro pujante. Reunindo cerca de 5.900 cooperativas, e com aproximadamente 110 milhões de cooperados – equivalente a um terço da sua população -, representam o segundo principal mercado mundial em termos de quantidade de beneficiários. Dados os seus apelos e as suas estratégias de expansão, as cooperativas norte-americanas, só em 2016, conquistaram 4,2 milhões novos cooperados, que migraram, sobretudo, de empresas bancárias tradicionais (a propósito de crescimento do número de associados, prevê-se, em escala global, o incremento de 50 milhões de novos membros até 2020).
No Brasil, ainda que já existam cooperativas centenárias, o movimento assume evolução mais expressiva apenas nos últimos vintes anos, especialmente em razão da inexistência de um marco regulatório incentivador até meados de 1990. Atualmente (outubro de 2017), as pouco mais de 1.000 entidades detêm um quadro de cooperados da ordem de 10 milhões de pessoas físicas e jurídicas (algo como 5% da população), ao lado de mais de 2 milhões usuários não associados. Com abundante capilaridade (mais de 6.000 agências, em expansão), as cooperativas, a cada ano, ampliam o contingente de membros a razão de 10%.
Também do lado dos números financeiros, a relevância das cooperativas no Brasil ainda não logrou alcançar os patamares do movimento em economias mais estáveis. Hoje, os ativos do segmento representam 3% do PIB bancário, com igual participação no crédito. Os depósitos e o patrimônio líquido, por sua vez, alcançam 5% do consolidado da indústria. Vale ressaltar, contudo, que em estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia e Espírito Santo as cooperativas já ultrapassam os dois dígitos de participação no sistema financeiro regional.
Mas a notícia especialmente boa é a da tendência, considerando a performance recente. Com efeito, levando em conta que o crescimento médio anual do conjunto dos negócios tem sido superior a 20% na última década (a título de exemplo, os ativos saltaram de R$ 69 bilhões em 31/12/2010 para R$ 221 bilhões em 31/12/2016), é provável que, em intervalo não muito prolongado, o cooperativismo brasileiro venha a ocupar posição bem mais visível no sistema financeiro nacional.
Por fim, há, ainda, que realçar três aspectos da presença do cooperativismo em nosso país, cujos indicadores reforçam a importância do setor para os tomadores de serviços financeiros e para a economia nacional.
O primeiro é o fato de que, em 2016, comparando os preços médios praticados pelas cooperativas versus instituições convencionais (computado o retorno do resultado do exercício aos cooperados) e considerando as principais linhas de negócios do sistema cooperativo, os benefícios estimados para os associados ultrapassaram a R$ 20 bilhões (vide exemplo em EXAME.com, de 30/8/2017, sobre taxas de juros em operações de crédito). O segundo, diz respeito à contribuição para a dinâmica econômica em tempos de adversidade. De 2014 a 2016, por exemplo, enquanto a concessão de crédito no sistema bancário encolheu, nas cooperativas cresceu 22% (EXAME.com, 30/8/2017). O último destaque refere-se à responsabilidade social. As cooperativas financeiras empregam mais de 70 mil trabalhadores (não computados os dirigentes). E na crise, em vez de demitir – como o mercado geralmente o faz -, contratam.
Ênio Meinen é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil – Bancoob.