Inadimplentes não sabem valor de contas

A falta de atenção em relação à educação financeira e o desconhecimento a respeito das próprias contas são algumas das razões que comumente dificultam o pagamento das dívidas atrasadas e a organização do orçamento familiar. Tanto que, dos inadimplentes, 42,2% não têm muito conhecimento sobre o número de parcelas das compras a crédito que serão pagas no próximo mês. Três em cada dez (33,9%) não sabem ao certo o valor das contas básicas e 40,3% desconhecem até mesmo sua renda total. Como aponta a pesquisa nacional realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, estar a par do orçamento é essencial para uma vida financeira livre dos riscos da inadimplência. “O baixo conhecimento das contas, das parcelas a pagar e dos produtos e serviços adquiridos por meio do crédito indica que o consumidor perdeu o controle da situação. Nesse cenário, é extremamente difícil sair da inadimplência, pois a pessoa se torna incapaz de negociar melhor as dívidas e até mesmo de identificar as áreas em que é preciso realizar ajustes e cortes de gastos”, afirma.
A pesquisa mostra que quatro em cada dez brasileiros inadimplentes não têm conhecimento sobre os valores dos produtos e serviços comprados a crédito que serão pagos no próximo mês e nem quais são eles (43,5%). “Seja qual for o motivo que levou o consumidor a tornar-se inadimplente, uma coisa é certa: deixar de acompanhar atentamente as próprias finanças e contas só piora as coisas, pois só assim é possível viver dentro do padrão de vida adequado à sua realidade”, aconselha o educador. Prova disso é que 23,5% dos inadimplentes nunca ou na minoria das vezes conseguem fechar o mês com todas as contas pagas.
Quando perguntados sobre quais são as prioridades financeiras, as mais citadas foram: compra de alimentos, produtos de higiene e limpeza (43,9%); pagamento no prazo das contas mensais, como luz e telefone (30,6%); e o pagamento das dívidas em atraso para limpar o nome (11%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, com a recessão econômica, o desemprego e os efeitos da inflação, o poder de compra e de pagamento de contas das pessoas foi enfraquecido. “Além da dificuldade dos consumidores em arcar com suas dívidas, as empresas que prestam serviços básicos, como de água, luz e plano de saúde, mostram cada vez mais disposição em negativar os inadimplentes, como forma de acelerar o recebimento dos compromissos em atraso.” 
Redução de consumo
A inadimplência, o acesso mais restrito ao crédito e a maior dificuldade no pagamento de dívidas fizeram com que parcelas significativas de brasileiros inadimplentes mudassem alguns hábitos de consumo: 79,7% fizeram cortes e ajustes no orçamento; 77,7% abriram mão de coisas que consumiam antes; 75,9% deixaram de fazer compras parceladas; 71,4% agora evitam comprar roupas e calçados; 64,0% deixaram de sair com amigos e familiares para bares e restaurantes; 56,6% cortaram alimentos supérfluos.
Segundo Vignoli, os resultados da pesquisa revelam que os problemas com dívidas em atraso impõem restrições consideráveis ao consumo, obrigando os consumidores a rever o orçamento e se adaptarem à nova condição. “Caso não haja a possibilidade de adotar medidas para aumentar a renda, os inadimplentes se veem obrigados a abandonar hábitos de compra, trocar marcas tradicionais por outras mais acessíveis e deixar de adquirir determinados itens em favor de outros que são prioritários. São mudanças impactantes no padrão de vida, mas é fundamental para que as pessoas consigam obter sobras financeiras no orçamento e possam pagar as dívidas pendentes”, conclui.

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