Número de negativados cai

A quantidade de brasileiros negativados caiu pelo terceiro mês consecutivo e atingiu 58,8 milhões em agosto. Conforme aponta a estimativa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Em maio, a estimativa apontava 59,3 milhões de inadimplentes e, desde então, passou para 59,1 milhões em junho, 58,9 milhões em julho. Apesar da queda nos últimos meses, esse número é considerado elevado pelos especialistas por representar 39,46% da população adulta no país.
“Apesar da queda no número de inadimplentes, ainda é cedo para considerar que a tendência de retração da inadimplência se manterá ao longo dos próximos meses”, afirma o presidente da CNDL, Honório Pinheiro. “O país enfrenta dois movimentos distintos na economia e que impactam a inadimplência em direções opostas. Por um lado, há o aumento do desemprego, queda na renda e inflação elevada que restringem o poder de compra da população, afetando negativamente sua capacidade de pagamento. O outro movimento é a maior restrição ao crédito, dada a elevada taxa de juros e a maior incerteza por parte dos tomadores e concedentes de crédito”, explica.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, ambos os fatores do cenário econômico afetam mais os indicadores de inadimplência do que a capacidade de pagamento dos consumidores. “Esse movimento de desaceleração não necessariamente está ligado a uma melhoria na capacidade de pagar as dívidas pendentes. Com a retomada do ambiente econômico acontecendo de forma lenta, ainda demorará para termos um aumento expressivo do número de empregos e renda, fatores que podem impactar positivamente no pagamento de pendências.” 
Análise por região
A estimativa por região do país mostra que o Nordeste concentra o maior número absoluto de negativados, somando 15,38 milhões de consumidores nesta situação. O que representa 38,99% da população adulta da região. Em seguida, aparece o Sul, com 8,32 milhões de inadimplentes (37,65% da população adulta). Destaca-se a região Norte que, com 5,41 milhões de devedores, possui 46,97% de sua população adulta incluída nas listas de negativados – o maior percentual entre as regiões pesquisadas. O Centro-Oeste, por sua vez, aparece com um total de 4,89 milhões de inadimplentes, ou 43,25% da população.
Quando consideramos o total das quatro regiões, o número de inadimplentes cresceu 0,31% em agosto. A região Nordeste foi a única que teve crescimento no número de devedores: alta de 2,04% na comparação com agosto de 2015. Em seguida, a região Norte, com retração de 0,75%, Centro-Oeste com recuo de -1,25% e a região Sul, também com retração, de -1,39%. O indicador não considera a região Sudeste devido à Lei Estadual nº 15.659, que dificulta a negativação de consumidores em São Paulo.  
Queda nas dívidas também
O indicador também verificou o primeiro recuo na quantidade de dívidas atrasadas desde o início da série histórica, em 2010. Ainda, que seja um recuo modesto, na comparação entre agosto de 2016 e o mesmo mês do ano passado houve retração de 0,76%, considerando as quatro regiões pesquisadas. O Nordeste novamente se destaca: a alta do indicador em agosto foi de 1,37% – única região a apresentar crescimento. Em seguida aparecem o Norte, com variação negativa de 0,17%, o Centro-Oeste com recuo de -2,72% e a região Sul com a maior retração, de -3,46%.
A abertura do indicador de dívidas em atraso por setor da economia mostra que o brasileiro ainda enfrenta dificuldades para realizar o pagamento de contas básicas. O maior avanço no número de dívidas foi com as empresas concessionárias de serviços como água e luz, cuja alta atingiu 2,34% na comparação anual. “Além da maior dificuldade do consumidor em arcar até mesmo com suas contas básicas, em meio à crise econômica, as empresas desses serviços mostram mais disposição em negativar os consumidores inadimplentes como forma de acelerar o recebimento dos compromissos em atraso. Tem se tornado mais comum que essas empresas negativem o CPF do residente antes de realizar o corte no fornecimento”, afirma Marcela.
Já as dívidas com os bancos caíram -0,54% e as de comércio cresceram 0,55%, ambos na base anual de comparação. A maior retração foi no setor de comunicação, que engloba TV por assinatura, internet e telefonia, com recuo de -6,80%. Para os especialistas do SPC Brasil, esta queda ainda não pode ser configurada como tendência para o segmento, mas sim uma acomodação, já que o setor foi o destaque negativo da inadimplência ao longo de vários meses em 2015, apresentando as maiores altas do indicador.
Ainda que o crescimento das dívidas no setor de contas de água e luz seja o principal destaque do mês de julho, as dívidas com os bancos são as que concentram, proporcionalmente, o maior número de pendências, com participação de 42,32% no total de dívidas em atraso das quatro regiões. Seguido do comércio, com 24,62% e do setor de comunicação, com 12,51%. O setor de água e luz concentra 8,89% do total de pendências. 

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