Nem sempre possuir conta em banco é um requisito para os brasileiros consumirem e também parcelarem suas compras. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal Meu Bolso Feliz sobre o uso do crédito pelas pessoas que não possuem conta corrente, mostra que oito em cada dez consumidores (84%) nesta categoria realizam compras parceladas. As alternativas mais comuns encontradas entre essas pessoas para o consumo são o parcelamento por meio do crediário (42%), o cartão de crédito (40%) e o financiamento (15%).
De acordo com o estudo, os produtos mais comprados de forma parcelada são os eletrônicos (34%), celulares (32%) e roupas (30%). Para os entrevistados, o uso do crédito mesmo sem ter uma conta corrente representa uma necessidade para fechar as contas e comprar o necessário no mês, já que muitas vezes a renda não é suficiente para comprar à vista. Além de também ser uma ajuda para momentos difíceis. Ainda assim, 17% afirmaram ter o acesso ao crédito negado nos últimos três meses.
“A situação da economia com inflação elevada e juros cada vez mais altos está bloqueando o acesso ao crédito dos consumidores, com ou sem conta bancária”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “É importante estar atento ao orçamento e ver o que cabe nas contas e o que pode e deve ser cortado”, complementa. Mais da metade dos entrevistados parece compreender a dificuldade de administrar o crédito: 52% evitam ouvir propostas de novos cartões e/ou aumento de limite, para não comprometerem o orçamento ou para evitarem compras desnecessárias; e 61% escolhem a opção de crédito levando em conta as menores taxas de juros cobradas.
A principal opção de crédito para as pessoas que não possuem conta em bancos é o crediário – 42% dos entrevistados utilizam essa modalidade, nem que seja raramente (menos de três vezes ao ano). Entre eles, 35% têm alguma compra no crediário no momento, 8% compram ao menos uma vez ao mês. Cerca de 12% dos consumidores ouvidos pedem a outras pessoas que façam crediário para uso próprio. Para os entrevistados, as principais vantagens dessa modalidade de crédito são o parcelamento das compras e a opção de poder parcelar mesmo sem ter cartão ou cheque.Os itens mais adquiridos através do crediário são eletrodomésticos (31%) e calçados (29%).
Além disso, 40% de entrevistados sem conta bancária que possuem cartão de crédito, 58% não sabem qual o limite para compras e 40% possuem entre uma e duas compras parceladas no cartão. Dois em dez consumidores (21%) afirmaram que têm o hábito de pedir um cartão de crédito a terceiros para realizarem suas compras. Quando perguntadas sobre a principal vantagem percebida no uso dessa modalidade, a segurança foi a mais indicada, uma vez que não é necessário andar com dinheiro e poder fazer compras mesmo sem a quantia no momento.
Também foi analisada na pesquisa a taxa de uso dos financiamentos de pessoas que não possuem conta bancária: 15% possuem alguma pendência no momento. A modalidade tem como principais finalidades a compra de automóveis (37%) e motos (45%).
Para a economista do SPC Brasil, as compras por impulso são um dos principais problemas da falta de orçamento ou do descontrole das finanças. “Quase a metade dos entrevistados sem conta corrente afirmaram que nos últimos três meses compraram por impulso. Assim, os consumidores devem ficar sempre atentos às facilidades que as lojas dão para o consumo e não acreditar em cada sinal de desconto dado”, diz. De acordo com os entrevistados, as lojas que mais facilitam o crédito são as de departamento (31%) e as virtuais (21%); e que os itens mais comprados sem necessidade foram as roupas, calçados e celulares. E a principal justificativa para as compras por impulso é uma velha conhecida dos consumidores: a promoção (55%).
Segundo o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro, a pesquisa mostra que o crédito acaba sendo uma saída viável para que muitos consumidores consigam entrar no mercado de consumo, ainda que não tenham conta em bancos. “Há muitas alternativas de crédito disponíveis que permitem o pagamento de compras em parcelas, e elas podem ser importantes em um momento em que os bancos restringem o crédito concedido e exigem mais garantias”, explica. “Porém, ao mesmo tempo, o fácil acesso pode gerar descontrole financeiro e transtornos no orçamento. Neste sentido, recomendo que o consumidor reflita antes de recorrer ao crediário, ao cartão de crédito, ao financiamento e outras modalidades. É necessário e importante saber se ele terá condições de honrar os compromissos financeiros assumidos sem desequilibrar seu orçamento”, conclui Pellizzaro.