Autor: Reginaldo Gonçalves
A economia brasileira está passando por grandes turbulências. Aquilo que aparentemente era uma marolinha está sendo muito maior e duradouro. O desequilíbrio da Eurozona, principalmente com os países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, acaba provocando mudanças de comportamento com relação às exportações e importações. O mercado americano, grande importador brasileiro, ainda se encontra em uma situação delicada, em virtude da crise dos financiamentos imobiliários. A China, um dos principais parceiros brasileiros, vem apresentando um reposicionamento quanto ao mercado interno, buscando uma redução das importações.
Nesse cenário, a classe C vem aumentando a cada ano o seu poder de compra – se enquadram nessa faixa os que possuem renda entre R$ 1,75 mil e R$ 7,5 mil. Nos últimos anos, o crescimento de sua capacidade de compra e do número de habitantes incluídos foi considerável. Em 2003, representava cerca de 65,9 milhões de pessoas e, em 2011, 105,4 milhões. A previsão é de que em 2014 esse número atinja aproximadamente 118 milhões. Os principais produtos que se tornaram acessível a essa classe são os da linha branca, veículos e eletroeletrônicos, que o governo estimula com redução dos impostos, como mecanismo de política pública na manutenção do consumo em alta e das condições econômicas internas no Brasil.
Muitos consumidores que migraram da classe D para a C acabaram, na esteira do crescimento do potencial de compra, se endividando e tendo problemas nos pagamentos de suas dívidas. Isso é notado pelo próprio governo, no momento em que usa os bancos estatais para minimizar os juros e buscar a recuperação dos créditos ou aumentar o consumo. Porém, essa alternativa poderá gerar consequências futuras, que precisarão de medidas para minimização de impactos como, por exemplo, a redução dos juros e estímulo aos financiamentos para o consumo. Isso deverá gerar, em um primeiro momento, um nível de consumo para o qual a indústria poderá não estar preparada, e o eventual não atendimento à demanda geraria inflação. Outro aspecto é o endividamento popular, que poderá criar uma bolha de crédito. A inadimplência também poderá internamente prejudicar qualquer tomada de decisões dos planos econômicos. Os bancos utilizam mecanismos de avaliação de crédito para minimizar as perdas ou, no momento do financiamento, aumentar as taxas de juros em virtude dos riscos.
Em momentos de crise, consumir não é o melhor remédio para países emergentes. O importante é estruturar uma política que possa melhorar a renda e as condições de consumo, sempre orientando o consumidor a também poupar para se precaver em momentos de dificuldades.
Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da FASM – Faculdade Santa Marcelina.