A atividade econômica enfraquecida e o cenário de juros e inflação em alta têm refletido na baixa disposição dos micro e pequenos empresários em tomar crédito. A intenção desses empresários de procurar crédito pelos próximos três meses registrou apenas 13,85 pontos no mês de agosto. Embora o índice seja superior ao observado em julho (10,75 pontos), o resultado é considerado baixo, visto que a escala do indicador varia de zero a 100. Quanto mais próximo de 100, maior é a probabilidade de os empresários procurarem crédito e, quanto mais próximo de zero, menos propensos eles estão para tomar recursos emprestados para os seus negócios. É o que mostra o indicador mensal calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Na avaliação do presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o baixo apetite ao crédito é justificado, em parte, pelas dificuldades econômicas que o país atravessa. “Sem boas perspectivas com os rumos da economia, os empresários estão reticentes para assumir compromissos financeiros de longo prazo. Muitos empreendedores recorrem aos recursos do próprio bolso como alternativa aos empréstimos e financiamentos em bancos, já que os juros estão elevados e a demanda do consumidor segue baixa”, explica.
Segundo a pesquisa, quatro em cada dez (39,4%) empresários consultados consideram que nos dias de hoje está “difícil” ou “muito difícil” conseguir credito no Brasil – em julho eram 32,9%. Dentre o universo de empresários pessimistas, 40,3% apontam a burocracia como a razão principal do impedimento e outros 36,5% culpam as altas taxas de juros praticadas no mercado. Há ainda aqueles que reclamam do critério aplicado pelos bancos ao exigir um faturamento mínimo para a concessão de crédito (9,8%).
Apenas um em cada dez (10,3%) tem a intenção de buscar crédito no intervalo de 90 dias. Entre as principais finalidades, a formação de capital giro surge em primeiro lugar (58,5%). Seguido pela compra de equipamentos e maquinário (30,5%), compra de insumos e formação de estoque (23,2%), reforma da empresa (18,3%) e o pagamento de dívidas (17,1%). “O fato de a tomada de crédito para o pagamento de dívidas figurar novamente com um percentual relevante é um sinal de que os micro e pequenos empresários estão sentindo dificuldades para honrar seus compromissos”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Intenção de investimento cresce
O indicador de investimentos calculado pelo SPC Brasil e pela CNDL registrou 29,60 pontos em agosto. Sendo que quanto mais próximo de 100, maior é a propensão ao investimento. O resultado mostra uma melhora do cenário na comparação com os últimos dois meses, quando o índice ficou em 25,98 pontos em junho e 22,54 pontos em julho. Ao todo, somente três em cada dez (28,9%) dos micro e pequenos empresários consultados pretendem realizar algum tipo de investimento nos próximos três meses. Sendo que capital próprio aparece como o principal recurso. Sete em cada dez empresários (76,2%) usarão o dinheiro do próprio bolso – em julho o percentual era de 65,8% – e 22,1% irão recorrer a empréstimos em bancos e financeiras. Outras opções ainda mencionadas são a venda de algum bem (4,8%) e o empréstimo com algum familiar (2,2%).
Os investimentos mais citados por esses empresários são a reforma de empresa (36,8%), a compra de equipamentos (34,2%), investimento em propaganda e comunicação (32%) e ampliação do estoque (28,6%). Em julho, a compra de equipamentos figurava em primeiro lugar, mas acabou sendo ultrapassado pela reforma neste mês de agosto.
Os Indicadores de Demanda por Crédito e de Propensão para investimentos do Micro e Pequeno Empresário (IDCI-MPE) calculados pelo SPC Brasil e pela CNDL levam em consideração 800 empreendimentos com até 49 funcionários, nas 27 unidades da federação, incluindo capitais e interior. As micro e pequenas empresas representam 39% e 35% do universo de empresas brasileiras nos segmentos de comércio e serviços, respectivamente.