Júlia Botelho, CEO da Matchpoint

Encontro debate as oportunidades com as fachadas ativas

Evento foi promovido pelo GRI Institute e pela Matchpoint e reuniu incorporadores, arquitetos e gestores de investimento em São Paulo

“Fachadas ativas vieram para ficar, mas sua efetividade depende de projeto, governança e operação bem estruturados”. Essa foi uma das principais conclusões da Roundtable “Fachadas Ativas: Entre a intenção urbana e a realidade comercial”, promovida pelo GRI Institute e pela Matchpoint, que reuniu incorporadores, arquitetos e gestores de investimento em São Paulo. Do painel participaram nomes como Alexandre Rodrigues (Rio Bravo Investimentos), André Agostinho (matchpoint Real Estate), Daniel Takase (Tellus Investimentos), Fernanda Rosalem (Paladin Realty) e Henrique Melega (IDE Studio Arq), que compartilharam experiências sobre legislação, operação de varejo, retrofit de ativos, desafios e soluções.

“Quando começamos a falar sobre fachadas ativas, no início do ano, muitas incorporadoras não queriam entrar no debate. Hoje, o tema está em toda a imprensa. Não devemos enxergar isso apenas como problema, mas como uma oportunidade de construir soluções”, destacou Júlia Botelho, CEO da Matchpoint, empresa especializada em Real Estate, que moderou o painel.

O encontro apontou que a alta vacância registrada em muitos empreendimentos — em alguns casos chegando a 80% — decorre de projetos concebidos apenas para atender exigências legais, sem considerar a lógica do varejo. Pé-direito baixo, vitrines pouco visíveis, ausência de áreas técnicas para carga, descarga e exaustão, além de convenções condominiais que oneram lojistas, foram citados como entraves que dificultam a ocupação.

Em contrapartida, exemplos bem-sucedidos mostraram que fachadas ativas funcionam quando há planejamento desde a concepção, curadoria de mix sob comando único, regras condominiais claras e abertura ao público por meio de boulevards ou retrofits que integram o empreendimento ao entorno. “Fachadas ativas precisam ser planejadas de acordo com o que cada operação demanda. Um restaurante precisa de exaustão, uma farmácia precisa de vagas, e assim por diante. O imóvel tem de ser vocacionado para que funcione de verdade”, afirmou Botelho.

Segundo ela, também é essencial que as fachadas sejam pensadas como ativos de interesse para o mercado financeiro. “Quando você forma um mix coerente, torna o imóvel atrativo não apenas para lojistas, mas também para fundos e investidores que buscam renda estável. Sem isso, é muito difícil transformar o térreo em um ativo valorizado”.

As discussões reforçaram ainda que retrofits bem executados podem recuperar imóveis e aumentar o valor de locação. Casos de empreendimentos que se reurbanizaram e abriram suas áreas térreas à cidade foram apresentados como modelos de valorização imobiliária e de vitalidade urbana. “Projetos que recebem investimento e visão de longo prazo transformam fachadas ativas em ativos estratégicos, elevando o valor de locação e melhorando a vida urbana. É essa mentalidade que precisamos replicar”, observou a executiva.

Entre as soluções destacadas para estoques já entregues estão diagnósticos individualizados de cada loja, revisões de convenções condominiais, intervenções de projeto para melhorar acessos e visibilidade, além de redefinição do mix. Além disso, a ativação depende também de tempo de maturação: assim como shoppings precisam de “três Natais” para consolidar hábitos de consumo, fachadas de rua exigem curva de consolidação acompanhada de gestão ativa. “Ativar o térreo é ativar a cidade. É preciso unir projeto, operação e governança para que todos ganhem — moradores, lojistas, investidores e a própria cidade”, concluiu Júlia.

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