Dionaldo Passos, diretor da unidade de negócio de supply chain da Neogrid

Farmácias demais, resultados de menos? Como a tecnologia pode virar o jogo

O setor precisa evoluir para uma atuação estratégica com modelos avançados de previsão, simulações de cenário e gestão de sortimento baseada em dados

Autor: Dionaldo Passos

Mais de 100 mil farmácias em operação no Brasil estão pressionando margens, aumentando estoques parados e comprometendo a eficiência de toda a cadeia. A boa notícia? A resposta está na tecnologia: previsão de demanda granular, reabastecimento inteligente e colaboração entre elos da cadeia já estão mostrando caminhos para resultados mais sustentáveis.

Nos últimos anos, o varejo farmacêutico cresceu de modo acelerado no Brasil. Segundo a Anvisa, o país contava com 92.282 farmácias e drogarias ativas no final de 2023 — número muito acima da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere uma farmácia para cada 10 mil habitantes, o que indicaria cerca de 21 mil estabelecimentos no país. Esse crescimento, embora impulsionado por oportunidades comerciais e mudanças nos hábitos de consumo, vem trazendo efeitos importantes para indústria, varejo e distribuidores. O excesso de pontos de venda dilui artificialmente a demanda, expandindo a variabilidade do giro por loja e dificultando a previsão de vendas. O resultado? Ineficiências nos pedidos e risco de erros no planejamento. Sem soluções baseadas em dados e inteligência artificial, o cenário tende a piorar.

Essa pulverização também impacta diretamente a logística e os custos operacionais. Mais lojas, volumes menores por entrega e pressões sobre os prazos comprometem o nível de serviço. Modelos de abastecimento baseados apenas em frequência e volume já não são suficientes: é preciso atuar com dados em tempo real e logística orientada por inteligência.

Essa pulverização também impacta diretamente a logística e os custos operacionais, pois são mais lojas com volumes menores por entrega e pressão sobre prazos comprometem o nível de serviço   Modelos de abastecimento baseados apenas em frequência e volume já não são suficientes: é preciso atuar com dados em tempo real e logística orientada por inteligência.

Em 2024, o setor cresceu 11% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 158,4 bilhões em vendas, e o volume de unidades comercializadas subiu 6,1%, chegando a 8,1 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan). Esse progresso foi impulsionado principalmente pela abertura de novos estabelecimentos, especialmente redes associativistas e grandes varejistas. O alerta está no fechamento das farmácias independentes, que mostra que crescer sem estratégia pode custar caro.

Esse desequilíbrio pressiona os custos: estoques maiores, menor giro e mais necessidade de capital de giro. Há elevação ainda nos custos de produção, armazenagem e distribuição para atender a uma base mais fragmentada e imprevisível. Sem planejamento colaborativo e visibilidade integral, margens são comprometidas e os acordos comerciais precisam ser revistos. Dentro desse cenário, rupturas e excessos de estoque ocorrem simultaneamente, uma vez que produtos com alta demanda faltam em certas regiões, enquanto os de baixa saída encalham. Em um mercado que depende do equilíbrio entre mix, margem e rotatividade, erros no sortimento ou reposição comprometem resultados. 

A solução está em tecnologias de previsão granular, sistemas inteligentes de reabastecimento e maior integração entre produtores, distribuidores e varejo. Trocar a reação pela predição é um passo necessário. O setor precisa evoluir para uma atuação estratégica com modelos avançados de previsão, simulações de cenário e gestão de sortimento baseada em dados. Só assim o setor produtivo e o comércio farmacêutico poderão sustentar o crescimento com mais eficiência, rentabilidade e foco no consumidor final.

Dionaldo Passos é diretor de supply chain da Neogrid.

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