Guilherme Machado, especialista em inteligência de mercado da Positivo S+

IA mostra gargalos invisíveis e redesenha a produtividade

Eficiência de verdade, definitivamente, honra o tempo humano

Autor: Guilherme Machado

Cliques não definem produtividade. Frase forte, sim. O trabalho do conhecimento, presencial, híbrido ou remoto, sofre com atrito invisível. Reuniões que cortam o raciocínio, notificações que corroem o foco, ferramentas que multiplicam caminhos e perdem respostas. A vigilância digital confunde movimento com resultado. Nesse contexto, o legado da liderança exige outra lente e uma nova forma de trabalhar: Workstyle Analytics, apoiado por inteligência artificial (IA) e Machine Learning (ML). O foco muda de pessoas vigiadas para sistemas avaliados. O objetivo vira remover ruído, liberar fluxo e elevar a colaboração.

Eis o dado que expõe a questão com nitidez. Durante o expediente, trabalhadores têm interrupções a cada dois minutos em média, o que soma 275 interrupções por dia. As conversas fora do horário cresceram 15% em um ano, com média de 58 mensagens antes ou depois do expediente. Reuniões iniciadas depois das 20h aumentaram 16%. Até as edições finais de slides disparam 122% nos 10 minutos que antecedem um encontro, sinal de corrida contra o relógio e de planejamento frágil. Esses números , expostos no Work Trend Index Annual Report 2025 da Microsoft, evidenciam fricção sistêmica. Medir teclas, telas ou presença ignora o verdadeiro gargalo.

O que o Workstyle Analytics faz de diferente? A análise deixa de contar atividade isolada e passa a ler padrões de trabalho, densidade de comunicação, filas invisíveis, alternância de contexto, qualidade do tempo de foco, efeito pós-reunião. Um estudo de gestão apontou que mais de um quarto das reuniões deixa efeitos negativos duradouros, com queda de engajamento e produtividade por horas seguidas. Esse rastro pós-encontro não aparece no relatório de cliques. A IA detecta o traço, sinaliza o custo e permite intervenção cirúrgica no desenho dos rituais.

Há outro sintoma de desperdício. Um levantamento com 12 mil trabalhadores do conhecimento e 200 executivos mostrou que equipes e líderes perdem 25% do tempo apenas para encontrar respostas. Um quarto do dia some em busca, retrabalho e desorganização de informação, espelho do excesso de ferramentas e da ausência de curadoria de conhecimento.  O Workstyle Analytics atua precisamente aí. Mapear tempo de ciclo, latência entre áreas, fluxo de decisão e janelas de foco dá aos executivos um painel vivo do sistema, não um placar de indivíduos. O alvo vira gargalo e hábito improdutivo, não suposta negligência pessoal.

Líderes pedem prudência e ética. Com razão. Metade dos trabalhadores declara preocupação com o uso de IA no trabalho. Trinta e seis por cento relatam esperança. Um terço se sente sobrecarregado. Vinte e nove por cento se dizem animados. Emoções ambíguas exigem contrato social claro e limites explícitos. O Workstyle Analytics responde com três pilares. Primeiro, transparência integral sobre dados coletados e, sobretudo, os dados excluídos. Conteúdo de e-mails e mensagens sai de escopo. Segundo, agregação e anonimização por padrão. A leitura recai no coletivo, com foco em tendências e riscos sistêmicos. Terceiro, governança com representantes de pessoas, tecnologia e jurídico, além de auditoria externa, sempre que conveniente. A mensagem ao time ganha credibilidade: a ferramenta protege a saúde do sistema e não persegue indivíduos.

A adoção ampla de IA reforça esse ponto. Mais de três quartos dos executivos indicam uso de IA em ao menos uma função. Apenas 21% dos que usam IA generativa relatam redesenho fundamental de fluxos. A maioria, mais de 80%, ainda não percebe impacto consistente em EBIT no nível da empresa, o que indica projetos sem mudança estrutural de trabalho e métricas. O recado é cristalino. Valor surge quando a liderança reconfigura o como, define métricas sistêmicas e cria espaço para foco e criatividade. O Workstyle Analytics encaixa nessa virada estratégica.

Como avançar sem tropeços? Primeiro, alinhar o que medir com as metas que importam. Tempo de ciclo de projeto, latência entre departamentos, porcentagem de tempo de foco, taxa de decisões que atravessam mais de três áreas, janelas de recuperação de energia após reuniões. Segundo, expor hipóteses e testar mudanças por sprints curtos. Reduzir reuniões internas em 20% em áreas críticas. Trocar status semanal por dashboards vivos. Consolidar ferramentas que geram redundância de mensagem. Terceiro, reforçar modelos mentais de colaboração. Equipes ganham autonomia para conduzir análises dentro de trilhos éticos. A liderança olha tendências e decide alavancas sistêmicas, sem tabelas nominais, sem ranking de pessoas.

Casos concretos acontecem quando o Workstyle Analytics joga luz sobre detalhes invisíveis. O gráfico mostra picos de mensagens no fim da tarde e tráfego intenso entre duas áreas que falam pouco com a terceira. A leitura indica gargalo de integração. A intervenção migra decisões triviais para um repositório público, ajusta horário de hotspots de agenda e estabelece limites de reunião após as 18h. O efeito aparece no ciclo de entrega. Mais foco. Menos urgências artificiais. O contrato social melhora. A cultura aprende a proteger tempo de qualidade, em vez de celebrar labuta infinita.

Arquitetura importa. O Workstyle Analytics opera como camada de análise neutra, conectada a sistemas de calendário, colaboração e documentação, com controles de acesso rígidos e logs completos. O padrão evita captura de conteúdo e preserva finalidade. A IA treina modelos que reconhecem padrões de fluxo e sinalizam anomalias. O comitê define ações e acompanha resultados. O time participa, propõe ajustes e valida melhorias. O ciclo gira com disciplina. O ambiente amadurece. O desempenho sobe sem empobrecer a experiência humana.

A tecnologia embarcada nos dispositivos também entra na conversa. NPU (Neural Processing Units) favorece inferência local para análises de uso com privacidade reforçada. A escolha por arquiteturas que respeitam limites de dados fortalece a confiança, especialmente em ambientes regulados. O mesmo vale para políticas claras de retenção, criptografia e mascaramento. O Workstyle Analytics prospera quando a fundação técnica protege as pessoas e incentiva comportamentos saudáveis.

Eficiência de verdade, definitivamente, honra o tempo humano. Ferramentas de monitoramento tradicional ainda servem a funções operacionais específicas e contextos de alto controle. Para o trabalho do conhecimento, viram retrovisor curto. O futuro do trabalho está em líderes que mapeiam padrões, corrigem o sistema e ampliam a autonomia. O Workstyle Analytics faz essa ponte com precisão. Em um mundo guiado por dados, a responsabilidade maior recai sobre quem decide métricas e incentivos. O caminho mais inteligente, mais justo e mais colaborativo passa por usar IA para libertar talento, retirar obstáculos e elevar o espírito criativo do trabalho que a IA não consegue replicar e por isso se torna cada vez mais valioso. Essa escolha define cultura, reputação e resultados por décadas.

Guilherme Machado é especialista em inteligência de mercado da Positivo S+.

Deixe um comentário

Rolar para cima