As campanhas e estratégias devem considerar as especificidades de cada região, pois cada vez mais a valorização das identidades locais são um diferencial competitivo
Autora: Gleissieli Souza
A latinidade está em alta. O Brasil está na moda. Esta tendência não é mais novidade, mas é importante ressaltar que os números não mentem. A receita de música da região, um termômetro importante, teve crescimento de 22% em 2024, com o Brasil liderando o mercado e figurando entre os 10 principais do mundo, segundo o Global Music Report da IFPI.
Além disso, a população local tem sentido orgulho de se reconhecer latina, como é o caso de 84% da Geração Z, de acordo com estudos da WGSN. Tendência fortalecida pela diminuição da hegemonia norte-americana, reflexo das recentes políticas externas, que abrem espaço para o fortalecimento de mercados locais e nacionalismo comercial.
O Brasilcore é uma derivação dessa corrente. O país está em alta e temos visto marcas internacionais com uma estética parecida com a nossa, tendências de moda reproduzindo nosso cotidiano (estilo Copenhagen) ou até mesmo marcas nacionais expandindo a internacionalização (Havaianas, Granado, Farm).
Mas, o que isso influencia na sua estratégia de venda? O que muda no comportamento de consumo?
Com o fortalecimento da cultura e identidades locais, uma comunicação que leva em consideração esses fatores passa a ser fator de decisão de compra. De acordo com a pesquisa Brasilidades, da MindMiners, 48% dos brasileiros dizem que comprariam mais de marcas que representassem melhor suas culturas regionais.
Sendo assim, suas campanhas e estratégias devem considerar as especificidades de cada região, pois cada vez mais a valorização das identidades locais são um diferencial competitivo. Não basta apenas reconhecer de maneira superficial, é necessário considerar e demonstrar isso de maneira mais profunda, pois a diversidade cultural brasileira é uma das maiores fortalezas que temos como sociedade.
Regionalidades: o que levar em consideração para criar conexão com o consumidor
É cada vez mais importante saber como se comunicar com os diversos Brasis, conversando com os públicos locais e suas regionalidades. Nem sempre é possível diversificar, mas em campanhas regionais isso deixará de ser opcional e se tornará um diferencial competitivo, principalmente neste momento que discutimos cada vez mais o poder da hiperpersonalização.
Para a pesquisa Brasilidades, de maneira geral, o brasileiro fora do eixo Sul-Sudeste se sente pouco representado. E já existem exemplos, principalmente em campanhas com influenciadores locais que refletem o poder de falar a língua local.
Um levantamento da Opinion Box mostrou que 67% dos entrevistados acreditam que grandes marcas deverão investir em campanhas com influenciadores regionais, que se comunicam de maneira mais alinhada à realidade local.
Cada região do país tem uma necessidade e pontos que podem ser explorados para impulsionar resultados de campanhas locais, seja na estratégia dos planos de mídia ou na escolha das imagens e criativos dos anúncios. E são eles:
SUL: é a região onde os consumidores se sentem mais representados pelas marcas, reflexo da autoafirmação regional consolidada. O principal desafio é aprofundar a representatividade incluindo vozes periféricas, fora da influência europeia, como indígenas e afrodescendentes.
SUDESTE: por concentrar os maiores centros urbanos do país, as marcas tendem a focar no eixo Rio-São Paulo e desconsiderar microcosmos culturais da região. O consumidor sente que é representado de maneira genérica, por isso, o desafio é criar abordagens mais localizadas e sintonizadas com territórios periféricos, suburbanos e interiores.
NORTE: a área com maior percepção de invisibilidade cultural, para o consumidor dessa região, ser representado é resistência simbólica. Por isso, é importante valorizar saberes locais, sotaques e grafismos inspirados em desenhos indígenas, por exemplo. A população acredita que imagens que remetem a natureza e aos povos originários, melhor representam o Norte.
NORDESTE: sofrendo com estereótipos, a região tem diversas expressões culturais que são motivo de orgulho para quem vive por lá, mas que não se sentem representados pela mídia. O desafio das marcas é ultrapassar clichês, e aproveitar regionalidades estratégicas como é o caso do São João, festividade mais valorizada pelo público local.
CENTRO OESTE: uma das regiões mais sub-representadas do país, embora com grandes oportunidades por conta da riqueza do agro, mas com grande orgulho da sua culinária regional e natureza local. As marcas podem encontrar terreno fértil na força da cultura sertaneja e crescimento do agronegócio, incluindo os consumidores com protagonismo nas campanhas.
Atuar de maneira localizada e personalizada pode garantir oportunidades com novos públicos em locais pouco explorados, dependendo do tipo de produto ou serviço que a sua marca oferece, essa pode ser uma chance de crescer em um cenário com menor concorrência e com menos custo. Então, vale a reflexão: qual oportunidade local você está deixando passar?
Gleissieli Souza é coordenadora de conteúdo e SEO na Aunica Interctive Marketing.