O branding é responsabilidade de toda a organização, e não apenas da área de marketing
Autora: Thais Trapp
No imaginário corporativo, o termo “branding” ainda reside em um plano quase estético, associado a projetos de identidade visual, logotipos ou campanhas publicitárias. Essa visão, entretanto, é perigosamente limitada. Em um ambiente de negócios cada vez mais volátil e complexo, o branding não é uma camada de verniz sobre a empresa. É, na sua essência, a arquitetura estratégica de um negócio, um processo contínuo de tornar tangível o que a empresa precisa ser para continuar relevante e competitiva.
O que grandes marcas globais como Instagram e Pepsi fizeram nos últimos anos, por exemplo, transcende a simples reestilização. Esses movimentos evidenciam a compreensão de que a marca não é apenas um vetor de comunicação, mas um sistema operacional de decisões. É ela que conecta a cultura interna ao posicionamento externo, que direciona o desenvolvimento do portfólio, que reorganiza prioridades comerciais e reposiciona a companhia em seu ecossistema competitivo. Na prática, uma marca bem construída funciona como uma matriz de clareza, orientando a ação em todos os níveis — do board ao time comercial, do produto à área de pessoas.
A tese é validada por estudos consolidados que endossam o branding como uma alavanca real de valor e competitividade. Uma análise da McKinsey, que acompanhou 300 empresas por cinco anos, mostrou que organizações com práticas consistentes de design e construção de marca registraram um crescimento de receita 32 pontos percentuais superior à média. De acordo com a Harvard Business Review, 64% dos consumidores afirmam que valores compartilhados são a principal razão para a sua lealdade, evidenciando o impacto direto que a consistência da marca exerce na resiliência do mercado.
Esse cenário se torna ainda mais crítico no universo B2B. Neste contexto, as decisões de compra não são movidas por impulso, mas por critérios racionais: o cliente compra clareza, governança, escalabilidade, vantagem competitiva e, sobretudo, retorno sobre o investimento. Em mercados de alta complexidade e pressão por performance, como o de tecnologia, a marca precisa ser uma promessa de consistência. Não basta comunicar bem. É preciso entregar o que se comunica, com disciplina e precisão.
E o que acontece quando essa visão é colocada em prática? A marca funciona como um catalisador da transformação. Essa transformação pode ser demandada por ciclos de grande crescimento e momentos estratégicos como o ingresso de investidores e processos de fusão e aquisição. Momentos assim fazem da revisão da marca uma inevitabilidade.
Esse é um processo que não se limita à estética. Envolve a revisão do portfólio de soluções, a formalização de ritos culturais, a construção de novos critérios de priorização estratégica e, acima de tudo, a internalização de um novo mindset: o de que o branding é responsabilidade de toda a organização, e não apenas da área de marketing. Essa abordagem é o que permite que a marca se torne um sistema de decisão estratégica, em que cada ponto de contato com o mercado traduz a coerência entre identidade, entrega e ambição de futuro.
A reflexão que se impõe às empresas, especialmente àquelas em setores tradicionalmente céticos ao papel da marca, é simples: se seu branding não está moldando decisões internas, guiando a cultura, orientando o portfólio e habilitando o crescimento real, talvez o problema não esteja no conceito. Talvez a questão esteja em como as lideranças, a começar do CMO, estão enxergando o papel da marca.
Thais Trapp é Chief Marketing Officer (CMO) da Nava.





















