Andrea Cavallari, diretora sênior de práticas de serviços para a América Latina na Red Hat

A transformação com a IA é uma jornada, não um destino

Embora a inteligência artificial possa aumentar a eficiência, ela não é capaz de criar conexões significativas

Autora: Andrea Cavallari

A acelerada evolução da inteligência artificial, o uso cada vez mais amplo de chatbots e a crescente automatização de tarefas têm levado o mercado de trabalho a se transformar rapidamente. Um cenário que divide sentimentos: enquanto algumas empresas e profissionais buscam aproveitar essa curva positiva com a criação de novos modelos de negócios, produtos e serviços baseados em IA, outros estão paralisados pelo medo, questionando se seus empregos e organizações serão capazes de sobreviver à nova era.

O cenário complexo, no entanto, parece um pouco mais otimista na América Latina. Pesquisa recente do Thomson Reuters Institute mostrou que 56% dos entrevistados da região ainda expressam entusiasmo com o futuro da inteligência artificial, especialmente a IA generativa, em seus setores, um número que supera significativamente os 27% dos entrevistados globais. 

Manter essa jornada de transformação confiante requer das empresas e dos gestores uma mentalidade aberta, que os permita enxergar o futuro da IA como um caminho de aprendizado e não como um destino final. Ao invés de se concentrarem nos possíveis milhões de empregos que se espera que sejam substituídos até 2030, os líderes e organizações deveriam estar buscando abordar os 170 milhões de novos empregos previstos e as novas competências que estes irão exigir, como aponta relatório do Fórum Econômico Mundial.

Para isso, é preciso ter o entendimento de que IA não é um destino fixo; não se resume em sair do ponto A para chegar ao ponto B com uma linearidade previsível. A cada dia aparecem novidades e ferramentas que nos fazem perceber as inúmeras possibilidades a serem exploradas, como profissionais e como negócio – e este é só o começo.

Como abordar a mudança 

Se por um lado a IA automatiza processos, podendo substituir tarefas rotineiras, por outro as atividades cotidianas ainda necessitam de muitas habilidades exclusivamente humanas. As chamadas “soft skills”, como conhecemos, são o ponto-chave desta equação. Normalmente definidas como habilidades não técnicas que ajudam as pessoas a se destacarem no mercado de trabalho, elas marcam o diferencial humano que, dificilmente, deixará de existir. Pesquisa da Wiley apontou a comunicação (34%), a liderança (23%) e a adaptabilidade (12%) como as três principais habilidades sociais que serão mais necessárias no ambiente de trabalho na era da IA. 

Embora a IA possa aumentar a eficiência, ela não é capaz de criar conexões significativas, muito menos de desenvolver o pensamento crítico e a resolução de problemas complexos. Mesmo que forneça respostas prontas para as questões mais complicadas, cabe aos humanos questionar os resultados da IA contra a realidade e pensar em novas soluções. A criatividade e a inovação também fazem parte dessa lista. Enquanto a IA pode gerar conteúdo e ideias, a criatividade genuína e a capacidade de pensar fora da caixa para inovar são diferenciais humanos.

Colaboração e comunicação são outras skills insubstituíveis. A capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares, comunicar conceitos técnicos complexos para não técnicos e colaborar efetivamente com máquinas (human-to-tech skills) é crucial e não irá desaparecer. Além disso, inteligência emocional e empatia, que possibilitam entender o contexto dos negócios, saber ouvir e absorver as necessidades dos usuários, permitindo gerenciar equipes e navegar por ambientes de trabalho em constante mudança, seguem como habilidades inerentes aos seres humanos.

Ir além da técnica e entender como a tecnologia (especialmente a IA) pode gerar valor para o negócio, identificar oportunidades e impulsionar o crescimento é outro ponto crucial. A visão estratégica de negócios é ponto em que deve estar o principal foco das equipes. Enquanto a IA cuida de processos do dia a dia, as pessoas se ocupam em pensar em pontes inovadoras entre o presente e o futuro. Os profissionais também precisam estar dispostos a aprender novas ferramentas, técnicas e conceitos de forma contínua e rápida. A IA está em constante evolução, e o aprendizado contínuo é a melhor resposta a isso. 

Por fim, a capacidade de discernir implicações éticas, morais e sociais ainda é uma característica que cabe somente aos humanos. Os profissionais precisarão garantir que as soluções sejam desenvolvidas e utilizadas de forma responsável, o que mostra que a capacidade humana seguirá sendo crucial para gerir e usar a IA da melhor maneira.

Apesar de tantos avanços e dos claros papéis para a inteligência artificial e para a sabedoria humana, há ainda muito por evoluir não somente na tecnologia como principalmente em nossas capacidades para garantir harmonia entre ambos. Aproveitar os benefícios dessa união, no entanto, requer manter o olhar no copo meio cheio, enxergando o aspecto positivo de cada mudança. A transformação já está ocorrendo e só irá acelerar cada vez mais, por isso é importante trabalhar para que nossas equipes e empresas tenham a adaptação mais suave possível a essa nova realidade. Observe sua organização, seus clientes e o mercado: você está pronto para se adaptar ao uso da AI em seus negócios e em seu dia a dia? 

A única certeza que temos é que, após absorvermos essa onda de novas ferramentas de IA e de transformação no mercado de trabalho, cada vez mais automatizado e moderno, haverá uma nova onda — seja da própria IA, seja da computação quântica ou de outra tecnologia que ainda nem conhecemos. Para não se perder na jornada e não deixar escapar oportunidades, precisamos reforçar nossas soft skills e as habilidades únicas que nos tornam humanos pois são elas que farão a diferença no posicionamento das empresas e profissionais nesta nova era.

Andrea Cavallari é diretora sênior de práticas de serviços para a América Latina na Red Hat.

Deixe um comentário

Rolar para cima