“Em tempos de portabilidade, em que tudo pode ser mudado facilmente, as pessoas tendem a aplicar esse parâmetro a suas próprias carreiras.” O alerta é do especialista Alfredo Castro, sócio-diretor da MOT, empresa de treinamento e desenvolvimento de pessoas. “Elas acreditam que é possível mudar diante do primeiro momento desfavorável – e isso tem contribuído para aumentar a dificuldade em atrair e reter talentos”, explica.
Castro enfatiza que cabe às empresas serem mais atrativas. Gestores retrógrados, líderes que não dialogam, atitudes autoritárias e pouco participativas afastam as pessoas mais talentosas – que sabem que terão outras oportunidades no mercado. “Hoje, os jovens percebem que há uma multiplicidade de possibilidades e que não é necessário esperar uma situação melhorar, basta aceitar uma nova oferta de trabalho”, ressalta.
Ele acrescenta que nem sempre um talento profissional se adéqua a todas as organizações. “Talento é uma classificação que se dá na comparação do que se espera da estratégia e da vocação da empresa para o futuro”, define Castro. Assim, a ideia da existência um talento “absoluto”, que possa servir às mais variadas empresas e situações é ilusório. “O uso de critérios subjetivos para encontrar um profissional talentoso acontece apenas quando não se sabe o que se espera para o futuro”, alerta. Isso pode ser entendido como um problema de planejamento e estratégia empresarial e organizacional.
Já que um talento não pode ser definido a partir de critérios subjetivos, Alfredo Castro elenca três competências comportamentais que um profissional talentoso deve ter:
1. Flexibilidade: um profissional de talento consegue perceber as mudanças que ocorrem no cenário ao seu redor, sabe adaptar-se a elas e encontrar alternativas para conciliar esse novo quadro. “Ninguém sabe se o que existe hoje haverá em vinte anos e precisamos estar prontos para responder a essa nova realidade quando ela surgir.”
2. Capacidade de conexão: conectividade não é apenas uma característica necessária para o universo tecnológico, mas também para estabelecer boas relações sociais na “vida real”, com pessoas reais. Para Castro, um profissional conectado indica que ele consegue ressignificar a diversidade, um conceito fundamental no mundo de hoje. “A conectividade fala sobre como um talento entende e reage ao ambiente e sobre sua capacidade de ligar-se a tribos e grupos sociais diversos.”
3. Conciliar razão e emoção: o mundo do trabalho não é feito apenas de decisões racionais, análises e decisões, mas também de paixão. “É a paixão nos olhos que faz a diferença. Quem tem paixão não tem medo da vida, tem brilho nos olhos e consegue se superar. É a emoção que proporciona a criatividade. Por meio dela, percebemos o que o outro está sentindo e contamos histórias que ajudam a construir um perfil da empresa”, afirma o consultor. Essa característica é a chamada inteligência emocional, que permite equilibrar a paixão e o senso de praticidade, usando o melhor de cada um deles.