Autor: Edilson Menezes
Arrisco dizer que todo ser humano adulto já pensou em abrir uma empresa. Alguns alimentam este pensamento. Outros optam por fazê-lo passar fome até que morra. E ambos estão corretos, pois o direito de escolher é uno.
Nessa semana, fui convidado a palestrar sobre “carreira e sucesso em tempos adversos” por uma renomada universidade paulistana. A audiência foi composta por ávidos estudantes desejosos de ingressar no concorrido mercado como empresários ou colaboradores e também por educadores dispostos a fazer a diferença.
Durante a explanação, me senti muito feliz por constatar aquilo que eu também já verificara em outros palcos acadêmicos onde atuei: a quantidade de universitários dispostos ao ingresso no meio empresarial é diametralmente maior em relação aos seus pares que preferem ingressar em regime CLT com a carteira assinada por uma empresa.
A coluna desta semana é um voo sobre estas possibilidades e enquanto voamos, peço que observe os dois cenários antes de tomar uma decisão difícil…
Os colaboradores com registro em carteira têm garantias trabalhistas e responsabilidades tributárias. Entretanto, ainda há quem pense que “é melhor ser empregado do que patrão, pois assim se paga menos impostos”. Não é bem assim. Como empresários, também somos contribuintes do INSS através de pró-labore e da receita através do imposto de renda. Logo, se você almeja empreender, a diferença não é exatamente tributária. Todos pagaremos os tributos ao leão e à previdência.
Há quem alegue que os benefícios coletivos são “mais baratos” e como a saúde no Brasil não é um serviço que custe pouco ao bolso, noto que muitos gostariam de atuar como empresários, mas preferem a opção da carteira assinada simplesmente para ter convênio médico cooperativado, assegurando a si e à família. É um preço muito baixo para deixar de viver o seu sonho. Ouse, se assim a sua vocação sugerir e as suas capacidades permitirem, encarar esta despesa que será pequena diante do êxito.
De outra forma, caso se submeta a trabalhar em regime CLT por tão singela razão, sempre existirá a sensação de que “falta algo” e esta talvez seja a razão pela qual várias pessoas não ficam muito tempo no mesmo emprego. Ou seja, não se demitem exatamente do empregador, mas da frustração de trabalhar com o que gosta, embora no lugar errado.
Outra questão relevante que tem tirado o sono das pessoas é a decisão circunstancial. Em tempos adversos, investir na abertura da empresa é um erro?
Para encontrar esta resposta, avalie se o seu produto ou serviço oferece uma solução inédita ou no mínimo transformacional. Em qualquer dos casos, se você trabalhar com ordem, rigor e coragem, terá êxito. O amigo Leandro Sgarlatta criou um produto inovador que visa recuperar o telefone celular que tenha caído, por exemplo, na piscina. Ora, pouco importa se o mercado está ou não adverso. Este produto será consumido de maneira merecidamente abundante.
Por outro lado, se o seu produto ou serviço é mais um a disputar espaço com inúmeros concorrentes, é preciso pensar em diferenças circunstanciais. Por exemplo: em tempos difíceis, reduzir o preço ou dar desconto só faz denegrir o objeto de venda e não resolve o problema, mas descobrir onde tem falhado o concorrente ou onde ele terá se encolhido em função do medo, pode representar excelente caminho para traçar suas ações diferenciadas.
Exceto pela possibilidade de você ter muita habilidade enxadrista, caso tenha dinheiro para estruturar o próprio negócio, invista-o, de preferência, sem comprometer o cotidiano. Não é saudável zerar a conta. Deixe uma reserva e adote o cuidado de não adquirir um excelente espaço alugado para a nova empresa enquanto as contas pessoais se acumulam.
Ainda que precise endividar-se, é fundamental que o faça sob o formato de endividamento saudável. Tomar empréstimo no BNDES a juros baixos, por exemplo, para colocar em prática o seu plano de negócios, pode ser um excelente caminho, mas usar o cheque especial ou aquele temerário limite do cartão de crédito que o banqueiro disponibilizou, pode ser o equivalente a colocar a corda corporativa no próprio pescoço.
Cerque-se de profissionais que saibam o que estão fazendo. Eu jamais fui buscar informações técnicas, documentais e burocráticas. Selei uma aliança com Cristiano Papini, um contador que tem meu reconhecimento e admiração. Faça o mesmo. Não invista energia em áreas incompatíveis ao seu conhecimento. Como eu fiz, contrate um profissional que zele pela saúde e segurança de seus números, que lhe oriente sobre como seguir a lei e evitar problemas.
Por fim, você ouviu muitas vezes dois ditados que merecem ser quebrados:
Quem abre uma empresa demora anos para ver lucro – é uma inverdade. Você deve estruturar um negócio que já inicie com abundância financeira e capacidade de crescimento. Descarte este ditado que é da época de nossos avós e somente nasceu porque os concorrentes que já estavam robustos no mercado espalhavam o boato para coibir a chegada de novos concorrentes.
Abrir uma empresa é fácil. Difícil é fechar – é mais uma crença corporativa que merece ser quebrada. Como me ensinou Cris Papini tão logo abri minha empresa, há alguns anos, fechar uma empresa é fácil desde que você mantenha a vida financeira e tributária em dia. Na época de nossos avós, muitos deles deixavam acumular impostos e esta inadimplência, somada aos juros sobre juros, acabavam por tornar inviável o fechamento do CNPJ.
Só há algo que você até pode, mas não deveria fazer: deixar de viver o seu sonho com aqueles velhos argumentos; “é complicado”, “é muito difícil”, “é muito caro”. Vá pesquisar com dedicação, empenho e tenho certeza que você vai descobrir algo interessante:
O investimento para realizar o sonho pode ser bem menor do que investir numa vida inteira de desconhecimento e frustração. Afinal, desconhecimento pode se resolver. Frustração, todavia, não tem conserto.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])