A difícil arte de liderar e tomar conta de tudo

Autor: Sílvio Celestino
Eu estava no fórum Leader Thinking na última semana de julho, no qual o entrevistado era o presidente da Mondeléz North America, Roberto Marques. Ao compartilhar sua experiência, ele disse que o líder deve ser capaz de lidar com o “e”. Ele se referia ao fato de que o gestor tem de alcançar o resultado e liderar pessoas e seguir a governança e ser ético e outros inúmeros “es”.
Essa foi uma maneira sucinta, simples e direta de falar a respeito da complexidade da liderança. Suas palavras de lucidez contrastaram com a declaração estapafúrdia de Dilma, na mesma semana: “Não vamos colocar uma meta: deixaremos em aberto e, quando atingirmos ela, nós dobraremos a meta.”
Liderança é uma posição exaustiva, que requer competência, capacidade de organização de ideias e de clareza nas palavras.
Há gerentes que enfrentam dificuldade de compreender que, para dar conta de tudo, não é apenas a quantidade de tempo que dedicam ao trabalho que importa, mas em como utilizam as tecnologias, dedicam-se ao aprendizado contínuo e solicitam ajuda com rapidez.
Por mais que alguém seja organizado na agenda, a carga de trabalho nas empresas é insana. Vivemos em um mundo com uma quantidade avassaladora de informações, e a internet das coisas vai tornar essa massa de dados gigantesca. Portanto, não será possível liderar sem uma preocupação constante em transformar o maior número possível de rotinas em algoritmos, em critérios que gerem decisões rápidas e em mensagens automáticas que alcancem simultaneamente as pessoas relevantes, para que uma decisão seja implementada.
Sem o uso da tecnologia, por maior que seja a capacidade de trabalho de um gestor, artesanalmente, ele não terá condições de exercer seu papel. E ainda hoje encontramos gerentes que relutam em usar a tecnologia. Pior ainda é quando vejo empresas que decidem desenvolver, em seus departamentos de TI, tecnologias que já existem. Um desperdício do dinheiro de acionistas e investidores.
Para manter-se atualizado na velocidade necessária, o líder deve criar uma rede social de aprendizado. E ter humildade de usá-la para pedir ajuda. Muitos gestores ainda encaram as redes sociais como se fossem um programa de calouros de bolso. Eles veem os adolescentes compartilhar imagens e vídeos de assuntos irrelevantes, e acham que elas só servem para isso. É um engano! As redes podem ser parametrizadas para servir como um importante painel de alerta sobre tendências e padrões que devem ser observados para as decisões. E também como uma fonte de ajuda e de ideias.
Ninguém é mais inteligente que a rede. O pensamento de que o líder deve saber todas as respostas é impraticável.
Por último, o líder dever ser capaz de se autoavaliar continuamente e ter o auxílio de um mentor ou coach em seu desenvolvimento. Uma pessoa sempre pode se desenvolver sozinha, mas isso leva muito mais tempo. E tempo é o elemento mais escasso nas companhias e em nossas vidas.
E… não é “apenas” isso! Além de dar conta dos muitos “es” no trabalho, deve fazer o mesmo na vida pessoal. E equilibrar ambas. Um trabalho para 12 Hércules!
A conclusão, portanto, é que, apesar de pessoas desejarem ser líderes, essa tarefa não é para qualquer um. Exige método, persistência, uma crença inabalável em sua capacidade de ser um guardião de propósitos conflitantes, humildade e outros infinitos “es”.
É, no entanto, uma carreira de realizações inatingíveis em outras posições. E, neste momento em que vemos vários exemplos de falência da ética em lideranças políticas e empresarias – diga-se de passagem, não apenas no Brasil -, é o momento oportuno de chamar a atenção daqueles que desejam liderar: lembre-se de todos os “es”.
Vamos em frente!
Sílvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching.

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