Autor: Christian Barbosa
Certo dia estava em uma reunião com empresários, compartilhando dores e soluções na vida empreendedora, quando uma questão interessante foi levantada. Um deles, sócio de uma empresa com pouco mais de vinte profissionais, insistia que precisaria de uma gestora de RH para criar uma cultura produtiva na empresa.
Muitos empresários compartilham a visão de que o RH faz milagres. Claro que é um setor essencial para ajudar a empresa decolar, recrutar, criar políticas, aumentar a qualidade de vida, desenvolver e apoiar a liderança. Porém, criar uma cultura produtiva não é sua função e nem de outros membros, além do empreendedor.
O conceito de cultura é bem grande, mas podemos simplificar dizendo que ela é criada por meio da missão, visão e, principalmente, dos valores que a empresa pretende seguir. E isso não tem relação nenhuma com aqueles quadros que todas as empresas têm na recepção, que são, no mínimo, inúteis. Tem a ver com atitude, tomada de decisões, princípios essenciais e com o tom que a empresa terá internamente e para o mercado.
Delegar a criação da cultura é no mínimo estranho. Supondo que você seja o empreendedor e delegue isso para um profissional do comercial contratado: a empresa vai ter a cara de quem? Da pessoa do comercial, com seus valores de vida, sua visão de mundo. Isso até pode ser bom, mas talvez não seja a cara do empreendedor e, mais cedo ou mais tarde, ele deixará de seguir esses ideais ou perderá a paixão pelo negócio.
Claro que você pode ter uma consultoria para ajudar nisso, mas a decisão, a forma e as palavras devem ser suas. Cultura é a coisa mais importante que uma empresa pode ter, principalmente no começo. Não é o RH que faz a cultura, ele somente ajuda, assim como o gerente e o diretor. Só o dono pode fazer.
Isso precisa ser vivido no dia a dia. As pessoas precisam ser contratadas com base nisso, precisam ser recompensadas por isso, os projetos e as decisões tomadas precisam ser guiadas por esses princípios. Não é enfeite, quadro, marketing. É estratégia.
Existem dois casos clássicos desse conceito. O primeiro é a Zappos, empresa de sapatos adquirida pela Amazon, o dono, Tony Hsieh, foi responsável por criar essa cultura, escrevendo e disseminando os valores. Já o time do Jorge Paulo Lemann, quando compra uma empresa, coloca um dos sócios para criar a cultura.
Pode ser que você não perceba, mas em uma casa é a mesma coisa. Os sócios da residência são os responsáveis pela criação da cultura. Aliás, se você não tem uma empresa, mas tem uma equipe, esse conceito vale do mesmo jeito. Caso você não tenha uma equipe, isso também pode valer para a vida.
Não espere o milagre do RH. Você tem que fazer acontecer e somente quando o projeto começar a andar sozinho, pense em delegar. O principal conselho é: encontre tempo para o estratégico em vez de ficar só no operacional.
Christian Barbosa é CEO da Triad PS, além de ministrar treinamentos e palestras.