Autor: Sebastião Luiz de Mello
Em 1839, uma catarinense de apenas 18 anos empunhava sua carabina e bradava contra a marinha imperial do Brasil. Batizada Ana Maria de Jesus Ribeiro, ficou mundialmente conhecida como Anita Garibaldi. A brasileira lutara ao lado do seu marido, Giuseppe Garibaldi, durante a Guerra dos Farrapos – conflito civil que almejava a proclamação da República de Santa Catarina.
Corajosa e determinada, Anita guerreava ladeada aos combatentes federalistas. Sua valentia ficou registrada em diversos episódios. É o caso da batalha de Imbituba, onde a guerrilheira desceu aos porões do navio “Rio Branco” para resgatar amedrontados guerrilheiros que fugiam a luta. Tamanha ousadia lhe valeu uma vida de audazes guerrilhas em revoluções nacionais, internacionais e, até mesmo, intercontinentais.
Anita Garibaldi esteve à frente do seu tempo, fato irrefutável. Entretanto, o que a colou em tal patamar está além da coragem – quase suicida – de manusear espingardas, canhões e ocupar as primeiras fileiras das linhas de batalha. Anita foi audaciosa e sua audácia transpassou gerações. Depois dela o Brasil veria Chiquinha Gonzaga, Carmen Miranda, Leila Diniz e tantas outras “Garibaldis” anônimas que puseram a cara à tapa (vez ou outra no sentido literal a expressão) diante da sociedade machista. Elas não queriam mais responder: “senhor, meu marido”.
Tamanha repressão deu início, no final do século XIX, ao movimento feminista reclamando a equidade de gêneros (não a superioridade feminina como supõem os desavisados). A partir de então, as mulheres vêm conquistando, pouco a pouco, seu espaço na sociedade. Direito ao voto, trabalho legal e todo direito civil que as colocariam em justa igualdade aos homens. Sim, colocariam. Embora tenham conquistado muito espaço e liberdade social, muitos fatores ainda são desfavoráveis a elas, o maior deles: preconceito.
Os números apontam a realidade. Segundo dados do IBGE, mulheres ganham, em média, 70% do salário dos homens, desempenhando funções iguais ou semelhantes. Além disso, geralmente elas trabalham mais. É o caso das que enfrentam a dupla jornada (união do emprego assalariado as atividades domésticas). Outro dado negativo, porém incomparavelmente alarmante, é a quantidade de mulheres assassinadas no Brasil. A cada 1h57m43s uma mulher é vítima de homicídio no país. Sob tais fatos, a equidade de gêneros ainda é um ideal.
Apesar das atuais circunstâncias, o quadro ainda é exponencialmente melhor do que fora à época de Anita Garibaldi. Contudo, referida melhora não é o bastante. Ainda é preciso força feminina (àquela inerente a dádiva de dar a luz) para prosseguir com as mudanças e culminar no equânime usufruto dos direitos, independente de gênero.
As mulheres são a luz do mundo, o colo dos apavorados, a prudência dos impetuosos, o amor incondicional. Quem mais poderia gerar outro ser, durante nove meses, dentro de si? E a dor do parto, outro humano suportaria? Sem mencionar a habilidade de cuidar, educar e formar pessoas. Somente elas, verdadeiras alquimistas da força, coragem, firmeza e amabilidade detêm tamanha dádiva.
Dia 8 de março foi instituído O Dia Internacional da Mulher. Mas os fatos e verdades aqui impressos devem ser lembrados, relembrados e divulgados diariamente, por todos. Os números, dados estatísticos, ainda são altos demais para que o alarde seja feito apenas uma vez ao ano. A persistência permitirá ao nefasto universo machista, que paira sobre a sociedade, compreender o incalculável valor e a incomparável força da mulher.
Sebastião Luiz de Mello é presidente do Conselho Federal de Administração.