Historicamente, o terceiro setor tem dificuldade em falar em termos de resultados, por ser tênue o diferencial que os separa de ações promocionais ou mesmo de marketing. Existe, de uma parte considerável das organizações não-governamentais (ONGs) – termo tão genérico quanto impreciso -, certa resistência em relação ao ato de prestar contas para o parceiro-investidor daquilo que é feito pela entidade.
Há alguns anos, falar em prestação de contas seria uma ofensa à natureza altruísta e de assistência social por parte das organizações não-governamentais. Felizmente, graças à crescente profissionalização dessas organizações, essa situação começa a mudar. A falta de recursos para investimentos também obrigou a uma maior racionalidade na hora dos gastos, tanto da iniciativa privada quanto dos governos, que passaram a exigir resultados objetivos e maior transparência na prestação de contas.
É evidente que os resultados não podem ser medidos somente de forma quantitativa – nem sempre essa mensuração consegue captar algo abstrato como o desenvolvimento humano. No entanto, ela é necessária, não apenas como forma de avaliação do que foi feito, como também para balizar ações futuras. Com isso, as próprias ONGs saem ganhando. Com números concretamente aferidos e uma administração transparente, essas entidades aumentam a credibilidade em torno do próprio trabalho e acabam atraindo investimentos sociais privados ou públicos.
Nesse sentido, começam a surgir certificações para o terceiro setor. Realizadas por empresas idôneas e com a maturidade de milhares de certificações de sistemas da qualidade emitidas em todo o mundo, essas avaliações asseguram à sociedade a probidade e transparência da instituição. É um avanço para a sociedade, que agora dispõe de garantias em relação à gestão das entidades, e também para as próprias organizações, que podem demonstrar sua transparência por meio de auditorias independentes.
Mas não bastam apenas números. A atuação das entidades do terceiro setor deve ser alvo também de um escrutínio qualitativo, para que não ocorram distorções. Além disso, os projetos sociais devem respeitar as peculiaridades do contexto socioeconômico em que estão inseridos. Esses projetos, seja de capacitação profissional, de geração de trabalho e renda, de educação, ou de assistência social, têm tempos diferentes de realização. E alguns ambientes de trabalho apresentam maior dificuldade de inserção do que outros. Uma avaliação qualitativa ajuda a compreender melhor essas diferenças.
Um exemplo é o trabalho de capacitação de jovens que a Associação Horizontes desenvolve em Osasco, São Paulo, Florianópolis, Jundiaí e Campo Limpo Paulista. As ações da Associação Horizontes acontecem de forma diferente em cada uma dessas cidades e, claro, os resultados devem ser ponderados. A contrapartida de inserção no mercado de trabalho em projetos de capacitação profissional e geração de trabalho e renda deve ser estabelecida respeitando as diferenças entre cada projeto.
Temos alguns projetos, como o Projeto Horizontes, desenvolvido em parceria com a empresa Softway Contact Center, cuja taxa de inserção chega aos 70%, ou com o Instituto IBI, no qual alcançamos o percentual de 93% de inserção nos últimos projetos. Percentuais como esses raramente são alcançados em projetos sociais privados ou mesmo em boa parte dos realizados com investimento público, o que, nesse último caso, mostra-se compreensível, devido às condicionalidades próprias causadas pelas prioridades e orientação na definição das políticas públicas municipais. Explico: de um lado, acertadamente, vemos projetos sociais públicos includentes e não-seletivos; de outro, um mercado em grande parte excessivamente seletivo e, por isso, excludente. Enfim, trata-se de complicada equação.
O terceiro setor não pode viver para sempre com o pires na mão. É preciso achar soluções. Uma administração eficiente é o primeiro passo para que a própria finalidade do projeto seja alcançada. Além disso, é uma demonstração de respeito por aqueles que dão seu apoio para manter projetos sociais. Um bom exemplo de profissionalismo no terceiro setor são as fundações de bilionários, como a do dono da Microsoft, Bill Gates, e a do magnata do mercado acionário, Warren Buffett, ambas geridas de modo profissional e com executivos qualificados.
Na entidade que leva o nome do homem mais rico do mundo, há um CEO (Chief Executive Officer) responsável por gerir um orçamento que ultrapassa a casa dos bilhões de dólares – maior que o de muitas empresas. Esse executivo chefe, Patty Stonesifer, teve passagem pela Microsoft e pela Dreamworks. Em um país com grande tradição de filantropia, como os Estados Unidos, a profissionalização já é uma realidade. Por aqui, ainda engatinha.
Definitivamente, ter uma gestão transparente e que mostre resultados será de extrema importância na hora de obter recursos de uma grande instituição ou do poder público. Não adianta reclamar da falta de dinheiro, é preciso mostrar que se está preparado para receber os recursos e demonstrar que se fez um bom uso desses recursos. Assim como é essencial no poder público e em empresas privadas, uma gestão profissional e eficiente também é imprescindível para o terceiro setor.
Marcelo Rocha é presidente da Associação Horizontes.