Autor: Edilson Menezes
No final de semana que marcou a penúltima quinzena de 2015, o mundo foi testemunha da queda de dois lutadores invictos, José Aldo e Chris Weidman. O que levou esses dois grandes atletas à lona é óbvio: porrada bem dada. Mas o que estaria por trás dessas porradas que o mundo inteiro assistiu, perplexo?
A queda e o fracasso sempre deixam muitas lições para a vida de atletas e empresas. Tenho certeza que os lutadores subjugados devem ter passado as últimas 48 horas a pensar sobre o que, como, onde e quando erraram. Alguns poucos minutos (e no caso de Aldo, segundos) foram suficientes também para deixar grandes lições corporativas para nós.
Aldo sob o efeito da raiva
Antes de começar a luta, McGregor fazia sua caricata exibição e já tinha prometido na imprensa que acertaria o queixo de Aldo. Estava perigosamente confiante, posto que lutaria contra um profissional invicto de reputação vencedora.
Enquanto o espalhafatoso McGregor convocava a torcida que foi assistir ao vivo, Aldo preferiu abaixar a cabeça. Em nenhum momento a levantou. O lutador prestava total atenção em seu estado interno e ignorava o todo. Não contemplava a torcida, o juiz ou o próprio time. Olhava para o chão e balançava os pés acima e abaixo, como a imbuir-se de uma carga cada vez maior de raiva.
Você conhece, com certeza, gestores de empresas que estão sempre abastecidos por boas doses de raiva. Este perfil é agressivo e como trabalha no extremo da emoção, quando acerta, é sempre algo grande. Mas, quando erra, compromete até mesmo a existência da empresa.
Assim aconteceu com o lutador. Antes de dar o primeiro passo ao encontro do oponente, nosso brasileiro José Aldo já tinha perdido a luta para a raiva descontrolada que visivelmente sentia. Sob o efeito e o domínio desta que é a mais poderosa dentre todas as emoções que temos, ficamos tão cegos para a lógica que é como se desligássemos o lado esquerdo do cérebro, racional e coerente.
Aldo quis definir a luta nos primeiros segundos e não considerou, em nenhum momento, que cairia. Munido desta raiva, partiu como um búfalo destinado a atropelar seu rival em tempo recorde e bateu de frente com um punho fechado que acertou seu queixo.
Esta é a maior de todas as lições que este fracasso pontual de Aldo deixou para o mundo dos negócios. A raiva que os gestores sentem porque o concorrente aumenta seu share a cada mês pode deixá-los cegos.
No organismo, a raiva é como uma droga e sob seu efeito, empresários decidem investir em aparatos tecnológicos que não podem pagar, mudar de endereço e estabelecer a nova sede da empresa ao lado do concorrente ou substituir todo o quadro comercial.
Decisões sobre as quais sempre disseram que não adotariam parecem fáceis quando estamos com raiva. Faça o que Aldo deveria ter feito e a saúde de sua empresa agradecerá.
1. Respire tranquilidade e recuse-se a respirar raiva;
2. Dê-se tempo para estudar seu adversário;
3. Calcule os momentos certos de atacar, recuar e defender.
Weidman vencido pela confiança do desafiante
Chris Weidman, o carrasco que já tinha subjugado os brasileiros Silva e Belfort, entrou aclamado pela multidão, e convenhamos, isso é justo diante de tantos resultados expressivos que o lutador trouxe para o MMA.
Será que a sua empresa consegue selecionar as qualidades que fazem minar a autoestima dos concorrentes? Se a resposta for afirmativa, assim como Rockhold fez com Weidman, sua empresa vai fazer a concorrência sangrar até implorar que você pare.
Rockhold, adversário de Weidman, adotou esta estratégia que serve como lição para as empresas de todos os setores. Escolheu sua melhor qualidade, o chute forte e quando recebia o chute de Weidman, provocava-o, pedindo que chutasse mais e com maior força. A estratégia foi perfeita. Quem assistiu à luta decerto notou que Weidman foi ficando cada vez mais inseguro ao imprimir seus golpes.
Em sua empresa, você precisará de gestores dotados de uma habilidade cada vez mais rara. A frieza para tomar decisões mesmo quando a contenda entre a sua empresa e a concorrência estiver no olho do furacão e mesmo quando tudo parecer perdido antes mesmo de começar uma nova luta mensal. Tome cuidado com um perigoso vício:
Por cultura e pelo vício de ver o concorrente vencer, diversas empresas não formam gestores frios, capazes de olhar para os próximos 30 dias e encontrar uma maneira de ganhar.
Além de usar sua melhor qualidade, o chute, e arruinar a confiança do concorrente, Rockhold deixou esta última grande lição corporativa conectada com a frieza. Eis, portanto, três ações que dariam chances ao campeão Weidman e, por seu caráter intercambiável, darão chances para que a sua empresa saia vencedora na disputa pelos primeiros lugares.
1. Faça chuva ou sol, mesmo que a concorrência esteja batendo de leve ou tentando arrombar a porta dos clientes, mantenha a autoestima blindada. Lembre-se: Uma empresa não perde por fraqueza, perde porque a honradez pela camisa e o desejo pelo primeiro lugar dão lugar para o definhamento e o desânimo;
2. Não importa quantos chutes a concorrência esteja disposta a dar. Defenda-se de todos e jamais pare de chutar, ainda que a concorrência te provoque e diga que não está doendo;
3.Quando o mais forte oponente percebe que existe frieza de sua parte no enfrentamento entre vocês, a confiança dele vacila. É a sua chance de levá-lo ao chão. Em mão oposta, a maioria de nossos líderes é levada, sob pressão, a decidir com raiva, medo e insegurança.
Os melhores lutadores do mundo beijaram a lona e isso só se fez possível porque seus oponentes dotaram-se da convicção de que conseguiriam, infalivelmente, vencê-los. Enquanto você não olhar para os concorrentes desta maneira, nós dois sabemos quem vai ficar com o cinturão que representa o primeiro e melhor lugar.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])