Um ano turbulento como o de 2016 – marcado por ataques terroristas na Europa, a decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), a delicada e rumorosa disputa pela Presidência dos Estados Unidos e o impedimento da presidente Dilma Roussef com a consequente mudança de governo no Brasil -, parece ter mexido com a confiança dos chamados “millennials” em relação ao mercado de trabalho. Esses jovens profissionais, também referidos como sendo da chamada “geração Y”, demonstram que estão: menos propensos a deixar a segurança de seus empregos; mais preocupados com a incerteza decorrente de conflitos; e não tão otimistas em relação aos caminhos que seus países estão traçando para o futuro. É o que mostra a sexta edição do estudo “Millennial Survey”, realizado pela Deloitte em 30 países, Brasil incluso, com cerca de 8.000 jovens nascidos a partir de 1982.
“Esse pessimismo mais evidente é um reflexo de como as preocupações pessoais dos ´millennials´ mudaram”, explica Punit Renjen, CEO da Deloitte Global, referindo-se ao perfil mais “atirado” desses profissionais, que havia sido apurado nos estudos anteriores. “Há quatro anos, as mudanças climáticas e a escassez de recursos estavam entre as principais preocupações dos ´millennials´. Este ano, o crime, a corrupção, a guerra e as tensões políticas estão pesando sobre a consciência dos jovens, o que impacta suas perspectivas pessoais e profissionais.”
A ansiedade desses jovens pode ser parcialmente responsável pela apuração de interessantes resultados no estudo, como os que mostram que uma porcentagem maior de profissionais afirma desejar prosseguir por mais tempo em seu trabalho atual. Na pesquisa do ano passado, 44% dos participantes da pesquisa global (e 48% dos brasileiros) afirmavam considerar poder trocar de emprego em no máximo dois anos. No levantamento atual, 39% dos participantes em nível global (e 34% no Brasil) demonstram esse desejo de mudança em tão pouco tempo. Por outro lado, na apuração divulgada em 2016, 27% dos “millennials” de todos os países ouvidos (28% dos brasileiros) pretendiam permanecer em seus empregos atuais por mais de cinco anos. Na mais recente pesquisa, 31% dos pesquisados globais (34% no Brasil) demonstram desejar permanecer leais a seus empregadores por mais de meia década.
Assim, o chamado “gap de lealdade” (diferença entre os que planejam deixar sua empresa em até dois anos e aqueles que esperam ficar por mais de cinco anos) recuou 10 pontos percentuais em relação ao estudo passado. “É natural que a busca por estabilidade cresça nos períodos mais difíceis. Assim, o que foi apurado na pesquisa sugere um maior nível de lealdade desses jovens profissionais a seus empregadores,” afirma Renata Muramoto, sócia-líder da área de Talent da Deloitte Brasil.
Emprego fixo
Outro indicador que aponta para uma busca por mais estabilidade é o que mostra que, apesar de vantagens gerais de trabalhar como freelancer ou consultor – que incluem a possibilidade de atuar em diferentes indústrias, o aprendizado de novas habilidades e a possibilidade de viajar ou trabalhar no exterior -, cerca de dois terços (65%) dos participantes da atual pesquisa disseram preferir um emprego fixo, em tempo integral, contra 31% dos que escolheriam a modalidade de trabalho mais aberta.
Aqui, é interessante perceber que os jovens brasileiros acabam sendo ainda mais conservadores em comparação à média global, já que 74% dos participantes dão preferência a um trabalho fixo, contra 25% dos que escolheriam preferencialmente atuar como freelancers ou consultores. “O trabalhador brasileiro, por tradição, mesmo sendo ele um ´millennial´, tende a dar preferência pelo chamado emprego formal. Os mais atirados costumam partir direto para o empreendedorismo, em busca de se tornarem seus ´próprios patrões´”, avalia Renata Muramoto.
Aposta no social
Em geral, os “millennials” afirmam que preferem permanecer mais tempo com empregadores que se envolvem com questões sociais, como educação, emprego e cuidados de saúde. Já os mais otimistas em relação ao progresso de seus próprios países são mais propensos a se conectar a empregadores envolvidos com a área econômica. A percepção dos jovens profissionais em relação ao mundo empresarial segue melhorando ao longo dos anos. Pelo terceiro ano consecutivo, um número maior de entrevistados diz acreditar que as empresas estão se comportando de maneira ética, e que seus líderes estão comprometidos com a melhoria da sociedade. Por outro lado, um número menor de participantes da pesquisa considera que as empresas estão simplesmente voltadas ao lucro e têm pouca consideração com as questões relacionadas à sociedade.
Retenção de talentos
De acordo com a 2017 Millennial Survey, os jovens profissionais consideram que oportunidades de trabalho mais flexíveis (incluindo horário e local de prestação de serviços, como homeworking) possibilitam maior produtividade e mais envolvimento dos funcionários, ao mesmo tempo em que ampliam o bem-estar pessoal, saúde e felicidade dos trabalhadores. Globalmente, 84% dos pesquisados relatam atuar em empresas que oferecem algum grau de trabalho flexível, enquanto que 39% dizem que suas organizações propiciam ambientes de atuação altamente flexíveis. Aqueles que trabalham em organizações altamente flexíveis parecem ser muito mais leais a seus empregadores.
Automação
Não há dúvidas de que a automação traz consigo alguma instabilidade, já que 40% dos entrevistados entendem que essa tendência é uma ameaça aos seus empregos. Já 44% dos participantes acreditam que haverá menos demanda por profissionais com seus perfis e habilidades, enquanto que a maioria acredita que terá de se atualizar profissionalmente para encarar os novos desafios tecnológicos. Mais da metade dos entrevistados (53%) vê que seus locais de trabalho estão se tornando mais impessoais, ou menos humanos, em razão da automação. Por outro lado, 50% das pessoas – especialmente aquelas consideradas “superconectadas” – veem a automação como uma oportunidade para ter mais tempo para atividades de valor agregado, ou criativas, bem como para o desenvolvimento de novas habilidades.